Sunday, February 22, 2009

todas as vezes

Todas as vezes que sobe a rua lembra-se de alguém que viveu nessa rua.
Mas foi há muitos anos atrás, quando havia a guerra das classes,
uma delas na mó de baixo e a outra na mó de cima.
Ao mesmo tempo essa pessoa não existia ainda,
embora me lembre dela com um cigarro na boca sempre apagado.
Essa pessoa estava pegada à morte sem saber de si,
e eu ao mesmo tempo que via não estava a ver.
olhos de cão os meus ao mesmo tempo que vê não morde.
Mas dentro desse tempo tudo se desfaz na água da rua.
É essa a vantagem da água.

a mulher tem o sexo aberto

A mulher tem o sexo aberto
à porta da estrada.
Passam os carros
e não param nos pinheiros.
O lixo fora de portas
na terra e as luvas brancas.
As pernas despidas
e antes disso
vem detrás o cheiro do sexo.

o céu pintado de branco

O céu pintado de branco
com riscas amarelas
sofre a doença da morte.
Cai em cima da terra
aos bocados vermelhos
do sangue de Deus
e seus vassalos.

o chão está sujo

O chão está sujo.
Porque não limpam a rua?
Uma mangueira de água
com muita força.
Mesmo assim ficaria
sempre uma nódoa.
O cheiro a sangue
duma briga.
O cheiro indivisível
da morte.