Friday, August 31, 2007

os ratos de Espanha


Era engraçado ver as pessoas culparem o governo por causa da invasão dos ratos de Espanha, a cumprir-se o ditado: de Espanha nem bom vento nem bom casamento.

Era ver o Marques Mendes a catalinar contra o Sócrates por esse não parar a invasão dos roedores crivados de gordas moscas verdes de criar bicho, e os apaniguados atrás a pescar de fundo, todos ao mesmo tempo a pedir umas lecas ao bom do Sócrates para colmatar perdas.

Mas claro não nos devemos regozijar por pragas que não se dominam, salvo as devidas distancias os opositores do nosso primeiro teriam remendos para mangas, porém o que for justo se verá.

Satisfeitos na mão do depravado Estado não se consolem os oponentes a ver como argumento de ataque os prejuízos maiores nas terras do planalto.

Thursday, August 30, 2007

fogo na Grécia


Fogo, terra, água, ar. Quatro elementos da vida. A vida deriva deles. Ou a vida não deriva deles? Há hoje uma aproximação cada vez maior a esses elementos. O aumento da população mundial obriga a fazer o seu uso intensivo de forma desregrada.

O descontrolo surge sobre a forma de incêndios gigantescos, furações, inundações, deslizamentos de terras, descongelamento das calotes polares.

O homem desvia o essencial da tese para problemas possíveis de controlar por meios racionais. Na verdade o irracional, o caos, não tem controlo.

Na Grécia, o Governo grego procura os culpados. Iremos dizer que há pirómanos, há
interesses imobiliários, há interesses de outra natureza, ou não há interesses...

A questão é mais do nosso próprio suicídio colectivo. O Homem, na América, na China, em África, etc. contabiliza catástrofes umas atrás de outras.

É uma desgraça terrível. Lamentamos as mortes.

Wednesday, August 29, 2007

ventanias


Ventanias ameaçam
os efeitos
tecnológicos
dominantes
na base
aérea

As suricatas

comem os escorpiões
consoladas
no areal
inóspito

guardas
dos filhos

caracol

Caracol arremete cornos
esticados à boa maneira
anglicana e franciscana

Os dentes de cobra
pelada
gaguejam
o veneno perfeito
para ministrar
ministros

correspondência

Correspondência directa
de pés para a frente
na primeira vigência
da taça dos campeões

Devagar também as lentes
de ver ao longe rachadas
de belo efeito secundário

o que é que engana

O que é que engana
a palha de vaca
na fogueira estranha?

Castidades vendidas
com as correias
de coiro e bosta
de carneiro
invertido

Lava moinhos
de vento às
mil rotações
mínimas

Monday, August 27, 2007

felino

Felino
de passos
esguios

de telemóvel
ao ouvido

porte de classe
por enquanto

o perfil
ideal

os sapatos

os sapatos
irritados
cansam
as lagartas
ao sol

num barco

Num barco
é assim

a ilha

no intervalo


especial

AMS

A moral solta
na mesa em cavaletes
as pernas e as gavetas
a seguir os degraus
de madeira

à porta garras de leão
batem com os queixos
nas trezentas gaiolas

os plátanos abandonam a
sombra das aves

JPL

justificada pela linguagem
a travessa na estrada

eles e elas no mesmo
montante acertado

no mesmo dia felizes
cerejeiras e paus de bucho
certeiros nos muros
de pedra solta

CMA

Carteiras nas montras abertas
à mistura com ganchos de ferro
e uma dúzia de mal amados
a menos que a norma
estranhe os depósitos
de acetona nas vinhas

Sunday, August 26, 2007

eduardo prado coelho

Não o conhecia pessoalmente mas lia os seus artigos que publicava nos jornais e percebia que era uma pessoa que gostava de discutir, de argumentar, de falar (escrever) sobre a politica contemporânea.

Sustentado no que ia lendo, nessa discussão militante, ia citando os autores que eram ferramenta do seu raciocínio. De muitos desses autores não ouvira falar (Barthes,Bordieu, Foucault, Derrida,Deleuze, Steiner, Celan...)e foi graças a ele que comecei a contactá-los.

Saíra do casulo universitário e trouxera informação à "plebe". Mais que não fosse fico-lhe grato por isso.

Espanha


A polícia espanhola e portuguesa andam à cata de etarras para os meter no xadrez. Vê-se que Espanha, a grandiosa, não é tão grandiosa como isso. Afinal de contas, o parvo do Saramago, armado em profeta, queria meter-nos na sua Espanha só porque eles lhe passam a escova.

Pobre gente armada aos cágados porque alcançaram os píncaros. Mesmo que façam merda julgam-se desculpados. Ou melhor, é o velho conto do rei vai nu.

Dito isto, falando a sério, estas questões estão mal resolvidas e toda a gente sabe isso. A Espanha gloriosa, imperialista, acabou, e só será, como tem sido, se mantiver as suas fronteiras, a do domínio castelhano, esse núcleo fundamentalista que deu origem a toda a ambição imperialistas e colonialista.

Espanha nunca terá descanso enquanto o domínio de Castela não terminar, ou seja, as nações que a compõem têm de ser como nós um dia.

A não ser que se faça a coisa por via mercantilista; com o esbater de fronteiras o domínio passe para outras formas, ou deixe de haver domínio político para haver domínio económico. Aí deixará de fazer sentido as nações nas fronteiras de Espanha.

barco de pedra


Barco de pedra
nunca vai ao fundo

nas tranças
da grande
cabeça de melão

bicicletas
e teleférico
na mó de cima

à sombra de
pinheiros mansos
linhas de rumo

cavalgadas de burros
e vulcões faz de conta

Saturday, August 25, 2007

não se solta

Não se solta
a mão que agarra
a pena

Falta a destreza
alinhada
com a alma

peras

Por vezes ricas
pêras

e cores
iluminadas

escadas

Escadas
de tijolo


onde
ler um livro
sob a aragem
da tarde

eduardo prado coelho

Seria a roda

estrangulada
pela morte

Se o tempo
fosse agora

Friday, August 24, 2007

há um ponto


Há um ponto só,
infinitesimal,
onde é possível estar
nos dois lados do tempo...

Ou não há qualquer
que seja agora.

Apenas passado e futuro.

Eis a minha dor,
porque o passado acaba
e o futuro nunca começa.

Esse agora é uma ilusão
a que se agarram os náufragos,
como se fosse a derradeira
bóia de salvação

mas a verdade

Mas a verdade é que nada
é verdade e na mesma
voz o cadafalso
está vazio


Segundos depois
as laranjeiras
deixam para si
as canseiras

Ou as vertentes
lavradas num beco

escondidos os
anéis em papo-secos

saber o destino

Saber o destino certo em cada instante
soprar a poeira acumulada nas gavetas
ir nas vagas abertas do vasto horizonte

Correctamente estender uma linha de pesca
com os anzóis d'aço espetados nas gargantas
dos peixes incautos de caudas amarelas

sai a palavra

Sai a palavra marcada
na parte superior
da parte inferior
a poder de analgésicos
pedidos com urgência

Vestida à frente
do homem de cara
virada para trás
para assustar
leões comilões

todas as pedras

Todas as negras pedras
se despem de preconceitos
na véspera de morrerem

Espelhos crepitam no fogo
pela noite dentro

Os cães a ladrar
à distância

espremidos
pelo cansaço

Thursday, August 23, 2007

as massas

As massas atrás das labaredas

Passageiros e máquinas
ligadas ao umbigo
do vento
contra a água

crateras

Crateras e pontas de cigarros
varridos rapidamente

As pedras da calçada
rente às paredes
poisadas

mesa de frango

Mesa de frango real
e papel e lápis
para preservar
a cena estatística

Ao mesmo tempo
as garrafas
fora os quilos
nas ruas apinhadas

Entradas nas lojas finas
os mais ricos continuam
a sua labuta diária

horizonte

No horizonte os olhos cavados
com vontade de que o mundo vire do avesso

Com ligeiras aves planando nas suas vidas
os gigantes entram na esfera celeste
no espaço das ondas nervosas

Wednesday, August 22, 2007

rostos

Rostos mais ou menos sedutores
anjos de dentes brancos como cal
toda a gente é assim
deve ser assim

De repente a ave empobrece
repentinamente suja e anarca
torna o leme o rumo do diabo

Se tomasse um banho de anis
e fosse limpinha
ficaria entre anjos e arcanjos

De nada vale ter por dentro
aquilo que por fora é falso

Há aquele que é bom
e mostra ser bom
aquele que é mau
e mostra ser bom
aquele que é mau
e mostra ser mau
aquele que é bom
e mostra ser mau
e assim por diante

mas o ideal é ser mau
e mostrar ser bom
com os dentes arreganhados
prontos a disparar
uma boa disposição
alarve

normalmente

Normalmente anda no ar
o ar incerto das ventas
dos disfarçados de bons

Quando se vai ver o fundo
a merda é tanta que
deita fora as tripas

Todos os mascarados têm
um álibi indiscutível
nas suas tocas variáveis

duas vezes

Duas vezes antes
da maré baixar
correu ao horizonte
a guilhotina das aves
levada no beijo
d'aço moldado
ao vento louco
que devassa o céu

haja luz

haja luz!

E as mulheres
e os homens
que se dizem
não são
aquilo que
mostram
ciosamente

antes
o contrário

fossilizado
em ódio
ao pobre
imperfeito

margem

Margem de erro
numa mão cheia
de arroz carolino

Em viagem
de sangue

à sombra do Sol
a pequena mão
magra

quase perfeitos

Quase perfeitos
catamarães
à bolina

Em mar riscado
de brancas
espumas
delirantes

Cavalgadas
arrepiantes

ar fresco
nos pulmões

Tuesday, August 21, 2007

VERDE EUFÉMIA


Os transgénicos trouxeram à opinião pública o rosto clandestino do fundamentalismo. Ou seja, o fundamentalismo navega à direita ou à esquerda, segundo o objecto da paixão. Pode dizer-se que o que é mau não é ser-se de esquerda ou de direita mas o fundamentalismo que assume foros de terrorismo.

O terror serve para amedrontar as pessoas, e, amedrontadas, não fazerem aquilo que queriam fazer. Assim, para o próximo ano, julgam esperar os "verdeeufémia" que os agricultores não plantem milho transgénico, porque supostamente terão medo; assim como os outros terroristas, colocando bombas, julgam esperar que o rumo da história pare.

Sendo por vezes a argumentação ideológica de boas intenções, a maneira de a levar à prática borra a pintura e iguala-se aos outros de quadrantes contrários que pretendem combater; ou então, será que a intenção era mesmo essa? De levar avante aquilo que em princípio dizem combater: a plantação dos transgénicos em economia de escala?

Monday, August 20, 2007

Castros antigos




Castros antigos
na desolada paisagem

Altos destinos
vertiginosamente
abrigados
das investidas
dos elefantes

Prontos os
foguetes
no ar quente
espantando
os pássaros
de asas solenes

gente "bem"

Gente "bem" não se distingue
dos outros a não ser
por alguma plumagem
ligeiramente mostrada
para marcar posição

Retorcidos processos
utilizados para desenhar
igualdade à força

São aqueles que se dizem
deserdados como os outros
que escondem a sua mentira

Porque fica bem
à gente bem
politicamente bem
essa forma ilusória

astronautas

Astronautas a viajar
com as meias rotas

Tramados esqueletos
perseguidos no mar

Frente de combate
desigual nas águas
ultramarinas

Gente em cascas de nós
assaltam a fronteira
da abundância
ainda que não saibam
a verdade

tinha a certeza

Tinha a certeza
da distância
do vento
ainda que lhe chegasse
às primeiras horas

Quando o Sol se aninhava
no horizonte
na timidez dos primeiros passos
e alguém chamava

Claros movimentos
do nascimento
no rosto desagalhado

Sunday, August 19, 2007

superficies



Superfícies
de lábios
e peles sedosas
garrafas d'água
a tiracolo
a viajar
atmosferas
ilusórias
e felicidade
ao preço
de nada

contornos

Contornos de
longínquas
guerrinhas
a descambar na
fossa onde
os ossos
contaminados
nem assim
descansam

sombrias faces

Sombrias faces
querendo parecer
luminosas
a altas horas
raras estradas
por onde os
carneiros
passam
a olho nu

Wednesday, August 15, 2007

pele de boi




Travões a fundo
e faíscas soltas
bravos touros
pele de boi casacos
e lamparina
bandarilhas

Brilho e músculos
fálicos e nervos
na frente de batalha

Morte alheia
ovo de escabeche
quem serve melhor
carne e geleia

Tuesday, August 14, 2007

Tribuna inglória



Tribuna inglória
num dia de Verão
e as moças
do chão
da mão
lentos dedos
leves ventos

Coração verde
na idade premente
quer verter
a mágica luz

Tantas ervas de cheiro
no jardim da infância
uma directa palavra

Merece alguma vitória
crueldade e pele de pato

Monday, August 13, 2007

temperatuva da água



A temperatura da água
baixa e logo os selváticos
procuram dez toneladas
de peixe fresco

Cantareiras vegetarianas
ao monte vão buscar
um telemóvel para avisar


Os torresmos estaladiços
nas bocas abertas
dez centímetros
ao meio das ladeiras

Os vistos de entrada
correctamente alinhados

Sunday, August 12, 2007

Triviais maneiras

Triviais maneiras a gente usa
entre a indiferença geral
o cão morto no
caminho de terra

Ladeira na serra
bordejada por
acácias e pinheiros

Cheiro adocicado
de gato morto
e moscas à volta
picando
a gente que usa
a gente que passa

Bertolt Brecht (a)


Se os tubarões fossem gente (a)

"Se os tubarões fossem gente", perguntou ao senhor K. a miudita de sua senhoria, "não eram mais amigos dos peixes pequeninos?" - "Claro que eram", disse ele. "Se os tubarões fossem gente, mandavam fazer no mar umas casotas espectaculares, cheias de coisas de comer, tanto de plantas como de animais. Haviam de ter todo o cuidado para que as casotas tivessem sempre água fresca e acima de tudo haviam de tomar todo o tipo de medidas sanitárias. Se, por exemplo, um peixinho se magoasse nas barbatanas, faziam-lhe logo uma ligadura, para que o peixinho não lhes morresse a eles, tubarões, antes do tempo. Para que os peixinhos não andassem desconsolados, haveria de vez em quando festas aquáticas magníficas; é que os peixinhos bem-dispostos sabem melhor que os desconsolados. É claro que também haveria escolas nas casotas grandes. Nestas escolas os peixinhos haviam de aprender como é que se nada na bocarra dos tubarões. Haviam de precisar, por exemplo, de Geografia, para poderem ir ter com os tubarões, que andam por aí estendidos a preguiçar. É evidente que o mais importante seria a formação moral dos peixinhos. Ser-lhes-ia ensinado que a coisa melhor e mais linda que havia era um peixinho sacrificar-se com alegria e que tinham todos que acreditar nos tubarões, em especial quando eles dissessem que haviam de preparar-lhes um futuro risonho. Os peixinhos seriam levados a perceber que este futuro só estaria assegurado se eles aprendessem a obediência. Contra todas as inclinações indignas, materialistas, egoístas e marxistas teriam os peixinhos que se precaver e informar imediatamente os tubarões no caso de algum deles dar mostras de qualquer destas inclinações. Se os tubarões fossem gente, também fariam naturalmente guerra uns aos outros, para conquistar casotas e peixinhos estranhos. As guerras, mandá-las-iam fazer pelos peixinhos deles. Fariam ver aos peixinhos que entre eles e os peixinhos dos outros tubarões havia uma diferença abissal. Os peixinhos, proclamariam eles, são mudos, como toda a gente sabe, mas estão calados em muitas línguas diferentes, e daí que seja impossível compreenderem-se uns aos outros. Cada peixinho que matasse na guerra meia dúzia de outros peixinhos, dos inimigos, dos calados numa língua diferente, haviam de condecorá-lo com uma medalhinha feita de algas e atribuir-lhe o título de herói. Se os tubarões fossem gente, haveria naturalmente entre eles uma arte. Haveria belos quadros, em que apareceriam representados os dentes dos tubarões, em cores fabulosas, as bocarras quais jardins de deleite, onde é fabuloso andar a brincar. Os teatros no fundo do mar mostrariam peixinhos heróicos, a nadar entusiasmados pelas bocarras dos tubarões dentro, e a música seria tão bela que, aos seus acordes, com a banda à frente, os peixinhos, sonhadores e embalados em pensamentos estonteantes, se percipetariam aos magotes para dentro das bocarras dos tubarões. É evidente que haveria também uma religião, se os tubarões fossem gente. Ensinaria que os peixinhos só na barriga dos tubarões começam a verdadeira vida. De resto, se os tubarões fossem gente, havia também de se acabar com essa de que os peixinhos, como é agora o caso, são todos iguais. A alguns deles seriam atribuídos cargos e esses seriam colocados acima dos outros. Os maoirzinhos teriam até autorização para comer os mais pequenos. Isso só dava jeito aos tubarões, que assim arranjavam maneira de comer bocados maiores mais vezes. E os peixinhos maiores, os que ocupavam um posto, haviam de zelar pela manutenção da ordem entre os peixinhos, de ser professores, oficiais, engenheiros de casotas e por aí fora. Resumindo, só nessa altura é que passaria a haver no mar uma cultura, se os tubarões fossem gente."


(a) Tirado do livro de BB, Histórias do senhor Keuner

as casas

As casas recebem o sol nas fachadas
e as caras recebem nada

Os carros descem a avenida larga
e as pombas levantam do chão espavoridas

Friday, August 10, 2007

ferrar o olho



Na verdade saber
um programa de vida
à distância
é ferrar o olho
humilde
e fazer crescer
a soberba
a cem à hora

Belos desejos
de melancia
acabada de apanhar
à hora do almoço
lá em baixo na costa
o mar a bater

Para a posteridade
basta um ferro de engomar
e a carreira de tiro
depois das onze

Alguém há-de saber porquê

calma de morte

Calma de
morte
atinge
a cidade
num dia
semelhante
ao dos
apelos
aflitos
gritados
por todos
os poros

ai a monte

Ai
a monte numa mota
de quatro
com os instintos
fermentes
e as belas
botas de cano
esticado
e correias
cortadas

dribla o marreco

Dribla o marreco a asneira
na sua linda carteira
de papo para o ar
e uma nota de cem
no sapato cheio
de buracos
para respirar

detido por violar...



Estava a ler o Diário de Notícias de hoje (07/08/10), quando me deparei com o seguinte título:"Detido por violar prisão domiciliária".

Ora, como se tem estado hoje em dia a falar de crimes de sangue; raptos; violações, etc., fiquei pregado na notícia, sem a compreender. Ou seja: o que eu estava a perceber era que: a prisão domiciliária (ela) fora violada (estuprada) por um individuo, que, por isso, fora detido. Claro que, lendo o texto, se percebia que o que se queria dizer era que um tipo fora detido por não ter cumprido a prisão domiciliária.

Enfim, o que eu tenho verificado é que jornais ditos de referência, tal como o Diário de Notícias, o Público, etc., também têm cometido as suas argoladas no arranjo de títulos pouco esclarecedores.

Thursday, August 9, 2007

a mão que mata

A mão que mata a tenra idade
esfacela a face de toda
a moralidade se fosse
à luz da lâmpada de casa
dormindo o sono descansado
na sombra dos plátanos

trabalho precário

Trabalho precário aos médicos
chegou lá finalmente a saber
o gosto amargo da desgraça
batendo à porta da tenda
olhos de gato à vista
e milho amarelo

os cães roçam as pernas

Os cães roçam as pernas dos donos
nas noites quentes das pulgas
lagarteiras e partidas ao meio
não desdenham senão as beliscadelas
das moscas sanguinárias
com as asas partidas e os ferrões
nos testículos do rei
barba-azul

a treta do costume

A treta do costume
mais aziaga matança
ao largo de Portimão
com as galinhas atiçadas
e os mastodontes
engrossando a voz
de fêmea mal dormida
Tordesilhas abaixo
da canela
e meias elásticas
na barriga das pernas
profunda sabedoria
gasganete e misericórdia

andanças



I

Olhos de águia
certas vezes
correndo
as penedias
da nossa
inocência
procurando
dar de comer
às vozes
últimas

Trazendo
os braços
leves de andanças
a hora descansa
as mãos

II

Cada um está deitado
na grande frente atlântica
partindo do principio
da igualdade salgada

Também medita a feroz
inveja pairando
nas luzes da cidade
os dias da vingança

III

Uma vez mais o Sol
deixa fazer a vontade
e os mortos desfeitos
gritam sem ninguém ouvir

Almas benditas da justiça
cega no altar do mundo
erguei a vossa metralhadora
em breve se limpa a terra

Wednesday, August 8, 2007

águas limpas



Baleias nas ilhas
em águas limpas
onde os olhos
além vão

De cima das falésias
o tempo batido
pelas aves
inquietas

À volta do espaço
as grandes margens
do espírito

Tuesday, August 7, 2007

território invisível



Território invisível
da morte das árvores
avistado do espaço
na cápsula segura

Chá de malvas
para curar


O dia
seguido de outro

Imagem transviada

estava bem

Estava bem
posta a mesa
com vista para o mar

O que quer dizer
várias coisas
ao mesmo tempo
e na mesma hora

Graças garças
voejando
ao sabor
da ventania

Monday, August 6, 2007

amostra de nada



O pensamento diverge
para o passado

Ou converge
o sentimento
intempestivo
e raivoso

Porque não se é
aquilo que se queria

E ainda nem o futuro
se sabe amostra de nada

MILLENIUM/BCP



Nunca tal se viu: o interesse que tem despertado nos meios de comunicação a luta pelo poder no MILLENIUM/BCP. Por um lado, como toda a gente sabe, está Teixeira Pinto, actual presidente do Conselho de Administração; e por outro, Jardim Gonçalves, antigo PCA, actualmente numa prateleira doirada.

O que há aqui são birras, nada do que dessa luta resulte modificará a natureza e os objectivos do Banco.

O velho PCA deslumbrou-se um dia e deu-lhe na vontade de voltar à ribalta, porque lhe estava a fazer falta a azáfama diária. Simplesmente era tarde. Quem lá estava não era tão vergável como ele teria imaginado. Agora, andam em guerrilha.

Os meios de comunicação vêm dizendo que este Banco é o supra sumo da banca portuguesa: em termos de tecnologia de ponta utilizada nos serviços; nas ferramentas de gestão, etc., etc. O que não dizem é que ele tem sido um banco feito de show of: uma imagem com cores alegres e jovens; empregados a ganharem aparentemente acima da média, aparentemente motivados e dinâmicos; todo um markting a passar uma imagem de grande renovação geral, o que na minha opinião não passava de cosmética. Lembre-se o caso de não admitirem mulheres nos seus quadros. A polémica que gerou na altura. Era o verniz que estalava em toda uma encenação muito bem concertada.

Afinal de contas, o que ele era, o que ele é, é um banco como os outros, com objectivos bem prosaicos, ganhar fatias de mercado, ter lucros, e andar para a frente.

As maneiras simpáticas são apenas para vender mais. Sempre foi assim. Não tenham ilusões. Quando dizem que foram buscar o Jardim Gonçalves a Espanha nos idos de 78 do século passado, mais ou menos, para que ele, como se fosse o salvador da pátria, propusesse um ar fresco à estrutura bancária então vigente, estão querendo levar-nos a matutar em homens providenciais. Nada mais falso.

Seja como for, que se entendam, e que o Banco continue de boa saúde. Agora digo: esta luta fratricida é que básicamnente prejudica os interesses do Banco; colocam à mostra as suas fragilidades até hoje muito bem guardadas.

Sunday, August 5, 2007

dias de merenda




Dias de merendas
na areia
e bolas de berlinde

Cabeça de fronte
aberta contra
a corrente

E limas
na primeira
linha

Diversas vezes
boias dão à costa
embrulhadas em cabos
de nylon

Foi a rede
que o mar não quis
para morte de
seus peixes

E elas esperguiçam
os seus braços
longos e bicam a água fria

E as crianças
como os marrecos
pincham esbaforidas
no mar ventoso