Friday, August 31, 2007
os ratos de Espanha
Era engraçado ver as pessoas culparem o governo por causa da invasão dos ratos de Espanha, a cumprir-se o ditado: de Espanha nem bom vento nem bom casamento.
Era ver o Marques Mendes a catalinar contra o Sócrates por esse não parar a invasão dos roedores crivados de gordas moscas verdes de criar bicho, e os apaniguados atrás a pescar de fundo, todos ao mesmo tempo a pedir umas lecas ao bom do Sócrates para colmatar perdas.
Mas claro não nos devemos regozijar por pragas que não se dominam, salvo as devidas distancias os opositores do nosso primeiro teriam remendos para mangas, porém o que for justo se verá.
Satisfeitos na mão do depravado Estado não se consolem os oponentes a ver como argumento de ataque os prejuízos maiores nas terras do planalto.
Thursday, August 30, 2007
fogo na Grécia
Fogo, terra, água, ar. Quatro elementos da vida. A vida deriva deles. Ou a vida não deriva deles? Há hoje uma aproximação cada vez maior a esses elementos. O aumento da população mundial obriga a fazer o seu uso intensivo de forma desregrada.
O descontrolo surge sobre a forma de incêndios gigantescos, furações, inundações, deslizamentos de terras, descongelamento das calotes polares.
O homem desvia o essencial da tese para problemas possíveis de controlar por meios racionais. Na verdade o irracional, o caos, não tem controlo.
Na Grécia, o Governo grego procura os culpados. Iremos dizer que há pirómanos, há
interesses imobiliários, há interesses de outra natureza, ou não há interesses...
A questão é mais do nosso próprio suicídio colectivo. O Homem, na América, na China, em África, etc. contabiliza catástrofes umas atrás de outras.
É uma desgraça terrível. Lamentamos as mortes.
Wednesday, August 29, 2007
ventanias
caracol
Caracol arremete cornos
esticados à boa maneira
anglicana e franciscana
Os dentes de cobra
pelada
gaguejam
o veneno perfeito
para ministrar
ministros
esticados à boa maneira
anglicana e franciscana
Os dentes de cobra
pelada
gaguejam
o veneno perfeito
para ministrar
ministros
correspondência
Correspondência directa
de pés para a frente
na primeira vigência
da taça dos campeões
Devagar também as lentes
de ver ao longe rachadas
de belo efeito secundário
de pés para a frente
na primeira vigência
da taça dos campeões
Devagar também as lentes
de ver ao longe rachadas
de belo efeito secundário
o que é que engana
O que é que engana
a palha de vaca
na fogueira estranha?
Castidades vendidas
com as correias
de coiro e bosta
de carneiro
invertido
Lava moinhos
de vento às
mil rotações
mínimas
a palha de vaca
na fogueira estranha?
Castidades vendidas
com as correias
de coiro e bosta
de carneiro
invertido
Lava moinhos
de vento às
mil rotações
mínimas
Monday, August 27, 2007
AMS
A moral solta
na mesa em cavaletes
as pernas e as gavetas
a seguir os degraus
de madeira
à porta garras de leão
batem com os queixos
nas trezentas gaiolas
os plátanos abandonam a
sombra das aves
na mesa em cavaletes
as pernas e as gavetas
a seguir os degraus
de madeira
à porta garras de leão
batem com os queixos
nas trezentas gaiolas
os plátanos abandonam a
sombra das aves
JPL
justificada pela linguagem
a travessa na estrada
eles e elas no mesmo
montante acertado
no mesmo dia felizes
cerejeiras e paus de bucho
certeiros nos muros
de pedra solta
a travessa na estrada
eles e elas no mesmo
montante acertado
no mesmo dia felizes
cerejeiras e paus de bucho
certeiros nos muros
de pedra solta
CMA
Carteiras nas montras abertas
à mistura com ganchos de ferro
e uma dúzia de mal amados
a menos que a norma
estranhe os depósitos
de acetona nas vinhas
à mistura com ganchos de ferro
e uma dúzia de mal amados
a menos que a norma
estranhe os depósitos
de acetona nas vinhas
Sunday, August 26, 2007
eduardo prado coelho
Não o conhecia pessoalmente mas lia os seus artigos que publicava nos jornais e percebia que era uma pessoa que gostava de discutir, de argumentar, de falar (escrever) sobre a politica contemporânea.
Sustentado no que ia lendo, nessa discussão militante, ia citando os autores que eram ferramenta do seu raciocínio. De muitos desses autores não ouvira falar (Barthes,Bordieu, Foucault, Derrida,Deleuze, Steiner, Celan...)e foi graças a ele que comecei a contactá-los.
Saíra do casulo universitário e trouxera informação à "plebe". Mais que não fosse fico-lhe grato por isso.
Sustentado no que ia lendo, nessa discussão militante, ia citando os autores que eram ferramenta do seu raciocínio. De muitos desses autores não ouvira falar (Barthes,Bordieu, Foucault, Derrida,Deleuze, Steiner, Celan...)e foi graças a ele que comecei a contactá-los.
Saíra do casulo universitário e trouxera informação à "plebe". Mais que não fosse fico-lhe grato por isso.
Espanha
A polícia espanhola e portuguesa andam à cata de etarras para os meter no xadrez. Vê-se que Espanha, a grandiosa, não é tão grandiosa como isso. Afinal de contas, o parvo do Saramago, armado em profeta, queria meter-nos na sua Espanha só porque eles lhe passam a escova.
Pobre gente armada aos cágados porque alcançaram os píncaros. Mesmo que façam merda julgam-se desculpados. Ou melhor, é o velho conto do rei vai nu.
Dito isto, falando a sério, estas questões estão mal resolvidas e toda a gente sabe isso. A Espanha gloriosa, imperialista, acabou, e só será, como tem sido, se mantiver as suas fronteiras, a do domínio castelhano, esse núcleo fundamentalista que deu origem a toda a ambição imperialistas e colonialista.
Espanha nunca terá descanso enquanto o domínio de Castela não terminar, ou seja, as nações que a compõem têm de ser como nós um dia.
A não ser que se faça a coisa por via mercantilista; com o esbater de fronteiras o domínio passe para outras formas, ou deixe de haver domínio político para haver domínio económico. Aí deixará de fazer sentido as nações nas fronteiras de Espanha.
barco de pedra
Saturday, August 25, 2007
Friday, August 24, 2007
há um ponto
mas a verdade
Mas a verdade é que nada
é verdade e na mesma
voz o cadafalso
está vazio
Segundos depois
as laranjeiras
deixam para si
as canseiras
Ou as vertentes
lavradas num beco
escondidos os
anéis em papo-secos
é verdade e na mesma
voz o cadafalso
está vazio
Segundos depois
as laranjeiras
deixam para si
as canseiras
Ou as vertentes
lavradas num beco
escondidos os
anéis em papo-secos
saber o destino
Saber o destino certo em cada instante
soprar a poeira acumulada nas gavetas
ir nas vagas abertas do vasto horizonte
Correctamente estender uma linha de pesca
com os anzóis d'aço espetados nas gargantas
dos peixes incautos de caudas amarelas
soprar a poeira acumulada nas gavetas
ir nas vagas abertas do vasto horizonte
Correctamente estender uma linha de pesca
com os anzóis d'aço espetados nas gargantas
dos peixes incautos de caudas amarelas
sai a palavra
Sai a palavra marcada
na parte superior
da parte inferior
a poder de analgésicos
pedidos com urgência
Vestida à frente
do homem de cara
virada para trás
para assustar
leões comilões
na parte superior
da parte inferior
a poder de analgésicos
pedidos com urgência
Vestida à frente
do homem de cara
virada para trás
para assustar
leões comilões
todas as pedras
Todas as negras pedras
se despem de preconceitos
na véspera de morrerem
Espelhos crepitam no fogo
pela noite dentro
Os cães a ladrar
à distância
espremidos
pelo cansaço
se despem de preconceitos
na véspera de morrerem
Espelhos crepitam no fogo
pela noite dentro
Os cães a ladrar
à distância
espremidos
pelo cansaço
Thursday, August 23, 2007
as massas
As massas atrás das labaredas
Passageiros e máquinas
ligadas ao umbigo
do vento
contra a água
Passageiros e máquinas
ligadas ao umbigo
do vento
contra a água
crateras
Crateras e pontas de cigarros
varridos rapidamente
As pedras da calçada
rente às paredes
poisadas
varridos rapidamente
As pedras da calçada
rente às paredes
poisadas
mesa de frango
Mesa de frango real
e papel e lápis
para preservar
a cena estatística
Ao mesmo tempo
as garrafas
fora os quilos
nas ruas apinhadas
Entradas nas lojas finas
os mais ricos continuam
a sua labuta diária
e papel e lápis
para preservar
a cena estatística
Ao mesmo tempo
as garrafas
fora os quilos
nas ruas apinhadas
Entradas nas lojas finas
os mais ricos continuam
a sua labuta diária
horizonte
No horizonte os olhos cavados
com vontade de que o mundo vire do avesso
Com ligeiras aves planando nas suas vidas
os gigantes entram na esfera celeste
no espaço das ondas nervosas
com vontade de que o mundo vire do avesso
Com ligeiras aves planando nas suas vidas
os gigantes entram na esfera celeste
no espaço das ondas nervosas
Wednesday, August 22, 2007
rostos
Rostos mais ou menos sedutores
anjos de dentes brancos como cal
toda a gente é assim
deve ser assim
De repente a ave empobrece
repentinamente suja e anarca
torna o leme o rumo do diabo
Se tomasse um banho de anis
e fosse limpinha
ficaria entre anjos e arcanjos
De nada vale ter por dentro
aquilo que por fora é falso
Há aquele que é bom
e mostra ser bom
aquele que é mau
e mostra ser bom
aquele que é mau
e mostra ser mau
aquele que é bom
e mostra ser mau
e assim por diante
mas o ideal é ser mau
e mostrar ser bom
com os dentes arreganhados
prontos a disparar
uma boa disposição
alarve
anjos de dentes brancos como cal
toda a gente é assim
deve ser assim
De repente a ave empobrece
repentinamente suja e anarca
torna o leme o rumo do diabo
Se tomasse um banho de anis
e fosse limpinha
ficaria entre anjos e arcanjos
De nada vale ter por dentro
aquilo que por fora é falso
Há aquele que é bom
e mostra ser bom
aquele que é mau
e mostra ser bom
aquele que é mau
e mostra ser mau
aquele que é bom
e mostra ser mau
e assim por diante
mas o ideal é ser mau
e mostrar ser bom
com os dentes arreganhados
prontos a disparar
uma boa disposição
alarve
normalmente
Normalmente anda no ar
o ar incerto das ventas
dos disfarçados de bons
Quando se vai ver o fundo
a merda é tanta que
deita fora as tripas
Todos os mascarados têm
um álibi indiscutível
nas suas tocas variáveis
o ar incerto das ventas
dos disfarçados de bons
Quando se vai ver o fundo
a merda é tanta que
deita fora as tripas
Todos os mascarados têm
um álibi indiscutível
nas suas tocas variáveis
duas vezes
Duas vezes antes
da maré baixar
correu ao horizonte
a guilhotina das aves
levada no beijo
d'aço moldado
ao vento louco
que devassa o céu
da maré baixar
correu ao horizonte
a guilhotina das aves
levada no beijo
d'aço moldado
ao vento louco
que devassa o céu
haja luz
haja luz!
E as mulheres
e os homens
que se dizem
não são
aquilo que
mostram
ciosamente
antes
o contrário
fossilizado
em ódio
ao pobre
imperfeito
E as mulheres
e os homens
que se dizem
não são
aquilo que
mostram
ciosamente
antes
o contrário
fossilizado
em ódio
ao pobre
imperfeito
margem
Margem de erro
numa mão cheia
de arroz carolino
Em viagem
de sangue
à sombra do Sol
a pequena mão
magra
numa mão cheia
de arroz carolino
Em viagem
de sangue
à sombra do Sol
a pequena mão
magra
quase perfeitos
Quase perfeitos
catamarães
à bolina
Em mar riscado
de brancas
espumas
delirantes
Cavalgadas
arrepiantes
ar fresco
nos pulmões
catamarães
à bolina
Em mar riscado
de brancas
espumas
delirantes
Cavalgadas
arrepiantes
ar fresco
nos pulmões
Tuesday, August 21, 2007
VERDE EUFÉMIA
Os transgénicos trouxeram à opinião pública o rosto clandestino do fundamentalismo. Ou seja, o fundamentalismo navega à direita ou à esquerda, segundo o objecto da paixão. Pode dizer-se que o que é mau não é ser-se de esquerda ou de direita mas o fundamentalismo que assume foros de terrorismo.
O terror serve para amedrontar as pessoas, e, amedrontadas, não fazerem aquilo que queriam fazer. Assim, para o próximo ano, julgam esperar os "verdeeufémia" que os agricultores não plantem milho transgénico, porque supostamente terão medo; assim como os outros terroristas, colocando bombas, julgam esperar que o rumo da história pare.
Sendo por vezes a argumentação ideológica de boas intenções, a maneira de a levar à prática borra a pintura e iguala-se aos outros de quadrantes contrários que pretendem combater; ou então, será que a intenção era mesmo essa? De levar avante aquilo que em princípio dizem combater: a plantação dos transgénicos em economia de escala?
Monday, August 20, 2007
Castros antigos
gente "bem"
Gente "bem" não se distingue
dos outros a não ser
por alguma plumagem
ligeiramente mostrada
para marcar posição
Retorcidos processos
utilizados para desenhar
igualdade à força
São aqueles que se dizem
deserdados como os outros
que escondem a sua mentira
Porque fica bem
à gente bem
politicamente bem
essa forma ilusória
dos outros a não ser
por alguma plumagem
ligeiramente mostrada
para marcar posição
Retorcidos processos
utilizados para desenhar
igualdade à força
São aqueles que se dizem
deserdados como os outros
que escondem a sua mentira
Porque fica bem
à gente bem
politicamente bem
essa forma ilusória
astronautas
Astronautas a viajar
com as meias rotas
Tramados esqueletos
perseguidos no mar
Frente de combate
desigual nas águas
ultramarinas
Gente em cascas de nós
assaltam a fronteira
da abundância
ainda que não saibam
a verdade
com as meias rotas
Tramados esqueletos
perseguidos no mar
Frente de combate
desigual nas águas
ultramarinas
Gente em cascas de nós
assaltam a fronteira
da abundância
ainda que não saibam
a verdade
tinha a certeza
Tinha a certeza
da distância
do vento
ainda que lhe chegasse
às primeiras horas
Quando o Sol se aninhava
no horizonte
na timidez dos primeiros passos
e alguém chamava
Claros movimentos
do nascimento
no rosto desagalhado
da distância
do vento
ainda que lhe chegasse
às primeiras horas
Quando o Sol se aninhava
no horizonte
na timidez dos primeiros passos
e alguém chamava
Claros movimentos
do nascimento
no rosto desagalhado
Sunday, August 19, 2007
superficies
contornos
Contornos de
longínquas
guerrinhas
a descambar na
fossa onde
os ossos
contaminados
nem assim
descansam
longínquas
guerrinhas
a descambar na
fossa onde
os ossos
contaminados
nem assim
descansam
sombrias faces
Sombrias faces
querendo parecer
luminosas
a altas horas
raras estradas
por onde os
carneiros
passam
a olho nu
querendo parecer
luminosas
a altas horas
raras estradas
por onde os
carneiros
passam
a olho nu
Wednesday, August 15, 2007
pele de boi
Tuesday, August 14, 2007
Tribuna inglória
Monday, August 13, 2007
temperatuva da água
Sunday, August 12, 2007
Triviais maneiras
Triviais maneiras a gente usa
entre a indiferença geral
o cão morto no
caminho de terra
Ladeira na serra
bordejada por
acácias e pinheiros
Cheiro adocicado
de gato morto
e moscas à volta
picando
a gente que usa
a gente que passa
entre a indiferença geral
o cão morto no
caminho de terra
Ladeira na serra
bordejada por
acácias e pinheiros
Cheiro adocicado
de gato morto
e moscas à volta
picando
a gente que usa
a gente que passa
Bertolt Brecht (a)
Se os tubarões fossem gente (a)
"Se os tubarões fossem gente", perguntou ao senhor K. a miudita de sua senhoria, "não eram mais amigos dos peixes pequeninos?" - "Claro que eram", disse ele. "Se os tubarões fossem gente, mandavam fazer no mar umas casotas espectaculares, cheias de coisas de comer, tanto de plantas como de animais. Haviam de ter todo o cuidado para que as casotas tivessem sempre água fresca e acima de tudo haviam de tomar todo o tipo de medidas sanitárias. Se, por exemplo, um peixinho se magoasse nas barbatanas, faziam-lhe logo uma ligadura, para que o peixinho não lhes morresse a eles, tubarões, antes do tempo. Para que os peixinhos não andassem desconsolados, haveria de vez em quando festas aquáticas magníficas; é que os peixinhos bem-dispostos sabem melhor que os desconsolados. É claro que também haveria escolas nas casotas grandes. Nestas escolas os peixinhos haviam de aprender como é que se nada na bocarra dos tubarões. Haviam de precisar, por exemplo, de Geografia, para poderem ir ter com os tubarões, que andam por aí estendidos a preguiçar. É evidente que o mais importante seria a formação moral dos peixinhos. Ser-lhes-ia ensinado que a coisa melhor e mais linda que havia era um peixinho sacrificar-se com alegria e que tinham todos que acreditar nos tubarões, em especial quando eles dissessem que haviam de preparar-lhes um futuro risonho. Os peixinhos seriam levados a perceber que este futuro só estaria assegurado se eles aprendessem a obediência. Contra todas as inclinações indignas, materialistas, egoístas e marxistas teriam os peixinhos que se precaver e informar imediatamente os tubarões no caso de algum deles dar mostras de qualquer destas inclinações. Se os tubarões fossem gente, também fariam naturalmente guerra uns aos outros, para conquistar casotas e peixinhos estranhos. As guerras, mandá-las-iam fazer pelos peixinhos deles. Fariam ver aos peixinhos que entre eles e os peixinhos dos outros tubarões havia uma diferença abissal. Os peixinhos, proclamariam eles, são mudos, como toda a gente sabe, mas estão calados em muitas línguas diferentes, e daí que seja impossível compreenderem-se uns aos outros. Cada peixinho que matasse na guerra meia dúzia de outros peixinhos, dos inimigos, dos calados numa língua diferente, haviam de condecorá-lo com uma medalhinha feita de algas e atribuir-lhe o título de herói. Se os tubarões fossem gente, haveria naturalmente entre eles uma arte. Haveria belos quadros, em que apareceriam representados os dentes dos tubarões, em cores fabulosas, as bocarras quais jardins de deleite, onde é fabuloso andar a brincar. Os teatros no fundo do mar mostrariam peixinhos heróicos, a nadar entusiasmados pelas bocarras dos tubarões dentro, e a música seria tão bela que, aos seus acordes, com a banda à frente, os peixinhos, sonhadores e embalados em pensamentos estonteantes, se percipetariam aos magotes para dentro das bocarras dos tubarões. É evidente que haveria também uma religião, se os tubarões fossem gente. Ensinaria que os peixinhos só na barriga dos tubarões começam a verdadeira vida. De resto, se os tubarões fossem gente, havia também de se acabar com essa de que os peixinhos, como é agora o caso, são todos iguais. A alguns deles seriam atribuídos cargos e esses seriam colocados acima dos outros. Os maoirzinhos teriam até autorização para comer os mais pequenos. Isso só dava jeito aos tubarões, que assim arranjavam maneira de comer bocados maiores mais vezes. E os peixinhos maiores, os que ocupavam um posto, haviam de zelar pela manutenção da ordem entre os peixinhos, de ser professores, oficiais, engenheiros de casotas e por aí fora. Resumindo, só nessa altura é que passaria a haver no mar uma cultura, se os tubarões fossem gente."
(a) Tirado do livro de BB, Histórias do senhor Keuner
as casas
As casas recebem o sol nas fachadas
e as caras recebem nada
Os carros descem a avenida larga
e as pombas levantam do chão espavoridas
e as caras recebem nada
Os carros descem a avenida larga
e as pombas levantam do chão espavoridas
Friday, August 10, 2007
ferrar o olho
calma de morte
Calma de
morte
atinge
a cidade
num dia
semelhante
ao dos
apelos
aflitos
gritados
por todos
os poros
morte
atinge
a cidade
num dia
semelhante
ao dos
apelos
aflitos
gritados
por todos
os poros
ai a monte
Ai
a monte numa mota
de quatro
com os instintos
fermentes
e as belas
botas de cano
esticado
e correias
cortadas
a monte numa mota
de quatro
com os instintos
fermentes
e as belas
botas de cano
esticado
e correias
cortadas
dribla o marreco
Dribla o marreco a asneira
na sua linda carteira
de papo para o ar
e uma nota de cem
no sapato cheio
de buracos
para respirar
na sua linda carteira
de papo para o ar
e uma nota de cem
no sapato cheio
de buracos
para respirar
detido por violar...
Estava a ler o Diário de Notícias de hoje (07/08/10), quando me deparei com o seguinte título:"Detido por violar prisão domiciliária".
Ora, como se tem estado hoje em dia a falar de crimes de sangue; raptos; violações, etc., fiquei pregado na notícia, sem a compreender. Ou seja: o que eu estava a perceber era que: a prisão domiciliária (ela) fora violada (estuprada) por um individuo, que, por isso, fora detido. Claro que, lendo o texto, se percebia que o que se queria dizer era que um tipo fora detido por não ter cumprido a prisão domiciliária.
Enfim, o que eu tenho verificado é que jornais ditos de referência, tal como o Diário de Notícias, o Público, etc., também têm cometido as suas argoladas no arranjo de títulos pouco esclarecedores.
Thursday, August 9, 2007
a mão que mata
A mão que mata a tenra idade
esfacela a face de toda
a moralidade se fosse
à luz da lâmpada de casa
dormindo o sono descansado
na sombra dos plátanos
esfacela a face de toda
a moralidade se fosse
à luz da lâmpada de casa
dormindo o sono descansado
na sombra dos plátanos
trabalho precário
Trabalho precário aos médicos
chegou lá finalmente a saber
o gosto amargo da desgraça
batendo à porta da tenda
olhos de gato à vista
e milho amarelo
chegou lá finalmente a saber
o gosto amargo da desgraça
batendo à porta da tenda
olhos de gato à vista
e milho amarelo
os cães roçam as pernas
Os cães roçam as pernas dos donos
nas noites quentes das pulgas
lagarteiras e partidas ao meio
não desdenham senão as beliscadelas
das moscas sanguinárias
com as asas partidas e os ferrões
nos testículos do rei
barba-azul
nas noites quentes das pulgas
lagarteiras e partidas ao meio
não desdenham senão as beliscadelas
das moscas sanguinárias
com as asas partidas e os ferrões
nos testículos do rei
barba-azul
a treta do costume
A treta do costume
mais aziaga matança
ao largo de Portimão
com as galinhas atiçadas
e os mastodontes
engrossando a voz
de fêmea mal dormida
Tordesilhas abaixo
da canela
e meias elásticas
na barriga das pernas
profunda sabedoria
gasganete e misericórdia
mais aziaga matança
ao largo de Portimão
com as galinhas atiçadas
e os mastodontes
engrossando a voz
de fêmea mal dormida
Tordesilhas abaixo
da canela
e meias elásticas
na barriga das pernas
profunda sabedoria
gasganete e misericórdia
andanças
I
Olhos de águia
certas vezes
correndo
as penedias
da nossa
inocência
procurando
dar de comer
às vozes
últimas
Trazendo
os braços
leves de andanças
a hora descansa
as mãos
II
Cada um está deitado
na grande frente atlântica
partindo do principio
da igualdade salgada
Também medita a feroz
inveja pairando
nas luzes da cidade
os dias da vingança
III
Uma vez mais o Sol
deixa fazer a vontade
e os mortos desfeitos
gritam sem ninguém ouvir
Almas benditas da justiça
cega no altar do mundo
erguei a vossa metralhadora
em breve se limpa a terra
Wednesday, August 8, 2007
águas limpas
Tuesday, August 7, 2007
território invisível
estava bem
Estava bem
posta a mesa
com vista para o mar
O que quer dizer
várias coisas
ao mesmo tempo
e na mesma hora
Graças garças
voejando
ao sabor
da ventania
posta a mesa
com vista para o mar
O que quer dizer
várias coisas
ao mesmo tempo
e na mesma hora
Graças garças
voejando
ao sabor
da ventania
Monday, August 6, 2007
amostra de nada
MILLENIUM/BCP
Nunca tal se viu: o interesse que tem despertado nos meios de comunicação a luta pelo poder no MILLENIUM/BCP. Por um lado, como toda a gente sabe, está Teixeira Pinto, actual presidente do Conselho de Administração; e por outro, Jardim Gonçalves, antigo PCA, actualmente numa prateleira doirada.
O que há aqui são birras, nada do que dessa luta resulte modificará a natureza e os objectivos do Banco.
O velho PCA deslumbrou-se um dia e deu-lhe na vontade de voltar à ribalta, porque lhe estava a fazer falta a azáfama diária. Simplesmente era tarde. Quem lá estava não era tão vergável como ele teria imaginado. Agora, andam em guerrilha.
Os meios de comunicação vêm dizendo que este Banco é o supra sumo da banca portuguesa: em termos de tecnologia de ponta utilizada nos serviços; nas ferramentas de gestão, etc., etc. O que não dizem é que ele tem sido um banco feito de show of: uma imagem com cores alegres e jovens; empregados a ganharem aparentemente acima da média, aparentemente motivados e dinâmicos; todo um markting a passar uma imagem de grande renovação geral, o que na minha opinião não passava de cosmética. Lembre-se o caso de não admitirem mulheres nos seus quadros. A polémica que gerou na altura. Era o verniz que estalava em toda uma encenação muito bem concertada.
Afinal de contas, o que ele era, o que ele é, é um banco como os outros, com objectivos bem prosaicos, ganhar fatias de mercado, ter lucros, e andar para a frente.
As maneiras simpáticas são apenas para vender mais. Sempre foi assim. Não tenham ilusões. Quando dizem que foram buscar o Jardim Gonçalves a Espanha nos idos de 78 do século passado, mais ou menos, para que ele, como se fosse o salvador da pátria, propusesse um ar fresco à estrutura bancária então vigente, estão querendo levar-nos a matutar em homens providenciais. Nada mais falso.
Seja como for, que se entendam, e que o Banco continue de boa saúde. Agora digo: esta luta fratricida é que básicamnente prejudica os interesses do Banco; colocam à mostra as suas fragilidades até hoje muito bem guardadas.
Sunday, August 5, 2007
dias de merenda
Dias de merendas
na areia
e bolas de berlinde
Cabeça de fronte
aberta contra
a corrente
E limas
na primeira
linha
Diversas vezes
boias dão à costa
embrulhadas em cabos
de nylon
Foi a rede
que o mar não quis
para morte de
seus peixes
E elas esperguiçam
os seus braços
longos e bicam a água fria
E as crianças
como os marrecos
pincham esbaforidas
no mar ventoso
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