Thursday, January 28, 2010

é a água

é a água que falta
a água

só negrões

só negrões andamos a ver por aí
o mundo parece que vem abaixo
é o diabo está tudo com medo
o medo anda no ar a ver se mete medo

escuro como o raio

escuro como o raio se ao menos o dia
fosse contado com as bolas de ferro
nas barrigas dos gatos se ao menos
a fome e porcaria e a seguir
juntam-se todos com a mesma percentagem de
veneno não vem do zincado telhado nem
da areia nem da lama
donde virá o grito
vem dos mortos
não vês que a guerra traz a guerra
pela tua mão
tu é que não sabes
e armas-te em bom regalado
mas dizes não estou regalado estou ao lado
dos que não estão regalados
tenho palavras e necessidades urgentes para dar
pode ser nenhum governo
não é preciso nenhum governo
para tratar da burla do malandro
olha lá não serás tu o tal?

ajudar para o lado

ajudar para o lado com os ouvidos
e depois as línguas das televisões tornam a pressão de vez os nibs
fora o resto as fontes estão a cobrir
dum manto de luz as variadas camas de pedras e de ferros
retorcidos depois duma coisa qualquer
indefinida na pedra que o pé poisa esse também
não sabe o dia de nascimento
pode ser à esquerda ou à direita ou ao centro
ou em lugar nenhum da natureza é o que mais força faz se tiver que se
arriscar nessa altura as estrelas caem em si e não dão luz
afinal queres é ver se atacas primeiro
para a seguir beberes o sangue

os homens e as mulheres

os homens e as mulheres
e os rapazes e as raparigas nascem das pedras depois de verem
na areia a água pura derretida
ao lado o aparelho fedorento
de monte de ossos e os cães também servem para um destino
figurado numa casca e essa foi de vez
enquanto os policias tinham a farinha nos sacos
e as espingardas
e eles tinham martelos para abrir crânios
não é fácil perecer o estrondo mesmo que o esforço seja vantajoso
as águias é que sabem
fogem a tempo do fogo
e cá por baixo rastejam os lagartos entre
os escombros mais os olhos podres
e o cheiro doce da confusão armada de raquetes e de pás de helicópteros e bases de navios
do hospital e dezenas de aviões
somos os primeiros e os últimos
como a cicatriz ficará é o segredo do espírito

a chuva e o vento

a chuva e o vento ajuda a esquecer
o resto
a desgraça não acontece a ninguém
só na cabeça do mago dentro da frigideira
foi este o resto de marmelada que ficou
no frigorífico
o resto não
interessa para o efeito desejado
está
nas cadeiras sentados
ou a discursar
o que interessa na cabeça deles tem mais dum litro de substância
comestível a qualquer altura

desde tempos imemoriais

Desde tempos imemoriais
deixo-me na outra parte do planeta,
por minha vontade própria,
sem que me enganem.
No volume inchado
dos rostos deles, que anunciam as medidas,
e cada vez que emerge uma lagartixa,
aí está o mago, de vaca e burro na mão.
Ao mesmo tempo, não há ao mesmo tempo,
era mesmo isso que queriam, no mesmo dia,
todos os restantes parentes cresceram,
acima das nuvens, e as medidas anunciadas, foram à medida das exigências.
Umas mais a um lado do que outras.
Não se virem, senão perdem o lugar,
que tanto vos custou a depenar.