Tuesday, November 12, 2013






O texto seguinte é tirado do livro "Vida Vivida Em Terras de Baleeiros", de Dias de Melo. Podia titular este texto assim: o papel das lanchas de baleia, no apogeu da caça à baleia nos Açores.

................................
"Equipadas também com rádio, cada uma leva o seu a bordo, sempre à escuta e em comunicação permanente com as vigias -- 71! a "Medina" ouve! 60! a "Espartel" atende! (melhor ouvir muito e falar pouco) -- as lanchas impõem-se definitivamente; têm participação fundamental na condução táctica da pesca, espalham e colocam estrategicamente os botes, levam-nos, largam-nos, acompanham-nos, a curta distância, rente às baleias, aprenderam a controlá-las, em certa medida --  se um bote nosso vai pega-não-pega, chega-não-chega e a baleia arredonda para mergulhar, é dar um berro brusco com o motor, um risco, pode ela, em pânico, meter-se instantaneamente (nada se perde, de qualquer maneira ia-se embora), porém, repetidas vezes estremece, faz um reparo, hesita por momentos, basta para que o bote, a remos à força de braços, à vela com um jeito pronto na escota, dê uma esticada e o trancador lhe enfie o arpão --, e lançam, e matam, e, num caso extremo, a cortar as vasas a um bote contrário, os nossos não conseguem alcançá-la, elas próprias, mesmo contra a Lei, se atiram e trancam baleias, é o que se chama trancar da lancha. Tudo isto exige saber, inteligência, astúcia, capacidade de decisão imediata, os melhores oficiais transitam para o lugar de mestres das melhores lanchas, lá vai mestre José Faidoca à popa da "Medina" (nenhum o iguala), mestre José Costa (grande no bote, esperava-se mais dele) à popa da "Maria Medina", mestre João Brão (filho) à popa da "Espartel" e nelas embarcam marinheiros, o Manuel Silveira na "Medina", que são homens capazes de atirar como os melhores trancadores, um arpão e uma lança; com motores "Diesel" potentíssimos, cento e setenta e cinco, duzentos e vinte, trezentos cavalos, "Greys" na maioria (a América, consta, arrebanhara-os em barda para a guerra, acabada a guerra não precisa deles, vende-os ao desbarato, enxurra tudo com "Greys"), alcançam velocidades loucas, quinze, vinte, vinte e tantas milhas à hora, é um tal esfraitiar, papar gasóleo e deitar milhas para trás, num pulo dão um salto seja onde for, vamos longe, nos nossos botes rebocados por elas, vamos aonde as baleias estão, aonde os nossos vigias as desencantam com os seus binóculos ou suspeitam pelo que ouvem nos rádios, longe, muito longe, por esse Sul abaixo a abrir canal aos dois lados, quase a perder de vista as Ilhas, por esse Oeste dentro para além do Faial, a entrar no Canal das Flores, de rumo a Leste vamos balear para a Terceira, ao largo do Porto Judeu, aí a quinze milhas da costa, já no Canal de S. Miguel -- pelo menos da Calheta fomos lá uma vez --, ao largo da Serreta, de Santa Bárbara, de S. Mateus, do Monte Brasil, de Angra é o pão nosso de cada dia, vamos para o Norte de S. Jorge, para o Canal da Graciosa, mais perto da Graciosa do que S. Jorge, aí nos encontramos e batemos com os botes e as lanchas dos graciosas, a "Ilha Branca", o "Carapacho"...
............................................