Friday, April 24, 2009

beira


beira


beira

beira

hoje

Hoje não vi telejornais. O mundo não existe. O mundo está na tua mente. Os partidos não são nada. É difícil dizer isso porque eu queria que fosse falsa essa afirmação. Mas pelo que se vê a vida em vez de ser vida é um jogo e quem ganha é quem define as regras à partida. Deve-se entender este jogo até certo ponto mas nunca o vamos entender porque ele não existe, existe apenas na mente de cada um. Ora se existe na mente de cada um significa que não é coisa palpável antes uma ideia que serve apenas quem percebeu que todas as coisas reais se passam em turbilhão na cabeça das pessoas.

Friday, April 10, 2009

o medo vem do futuro

o medo vem do futuro
para debaixo dos pés
dos sapatos

as mãos estão paradas

o medo faz cócegas

O medo faz cócegas no nariz
do melro negro de bico amarelo

O palavrão saiu a fugir
do cofre forte

a sorte anda a ver

A sorte anda a ver
os gritos paridos

Risca a unha o verniz
parte a unha

a força que tens cai

A força que tens cai
a força que não tens
a força que não tens
a força que não tens

Wednesday, April 8, 2009

Ana Vieira - "In/Visibilidades"




Em 1972 Ana Vieira fez uma instalação em Ponta Delgada, no Externato do Infante, pertença da família de Melo Antunes. A exposição foi feita juntamente com a de outro artista. A instalação foi vaiada pela imprensa local. Victor Cruz Pai fartou-se de ridicularizar a obra. Apesar de tudo eu fiz um pequeno texto deslumbrado que na altura saiu no Açoriano Oriental. A obra chamava-se Ambiente: "Estrutura metálica, rede de nylon, tinta acrílica, mesa, pratos, copos, garfos, facas, foco de luz incidente e cassete".


Hoje, 8 de Abril de 2009, passando por acaso na Rua do Século, deparei com uma exposição de Ana Vieira que se chama "IN/Visibilidade", no muito velho palácio do Marquês de Pombal. Ao fim e ao cabo trata de aparências, uma vez mais, e de jogos entre o real e o ilusório, obrigando a quem vê a tomar partido por duas posições ou por nenhuma uma vez que afinal são apenas uma. Ou seja, a visibilidade ou invisibilidade das coisas pode depender do nosso pensamento ou pode depender do nosso engenho, ou do modo de lá chegar pela utilização de ferramentas: um espelho, uma lupa, uma pilha. É o que nos propõe em poucas palavras.


Estava lá uma senhora e perguntei-lhe se ela era a artista, mas infelizmente não. Porque gostava de falar com Ana Vieira sobre a história passada comigo em 1972 quando ela expôs o seu trabalho em Ponta Delgada. E também em Angra, Velas e Vila do Porto. Porque era no tempo da Cooperativa Sextante, que foi quem promoveu a iniciativa. E eu era, digamos assim, um dos militantes dessa cooperativa. E a PIDE andava de olho nesses artistas de vanguarda, digamos assim, e dos seus promotores. Eu era um dos que ia a fazer de "guia da exposição" por turnos. Ficava lá sentado à entrada da grande sala do externato a guardar a exposição, ou ia abrir a porta, ou fechar a exposição.


De facto gostava de a ter conhecido hoje.


tempo dos séculos novos

tempo dos séculos novos
a caminho das estrelas
com os mesmos dias
e as mesmas noites

é a morte outra vez

É a morte outra vez mais distinta e elegante
que da sofisticação da eutanásia assistida passa
para o arrepio do medo sem estilo e pornográfico:
esburacada, mutilada, torturada, dolorosa.

E os vivos só procuram a morte
nas imagens que passam
como se fosse milagre.

quem é

quem é
duas caras
no espelho
da mentira
e da verdade?
tão difícil saber
o que está no fundo do mar.

há o fim

há o fim
vestido
de marfim

os mortos

os mortos
os vivos
as mãos limpas

Monday, April 6, 2009

espanta não saber

Espanta não saber de nós nada
ainda que nos digam que somos
aquele que vemos ao espelho.
E a vida corre como se
a consciência morresse
nas nossas mãos
sem culpa da morte.