Thursday, September 20, 2007

Tropa de elite


Li no suplemento P2 do público um artigo sobre o filme Tropa de Elite, de José Padilha. Segundo Nuno Amaral o filme denuncia a hipocrisia da nossa sociedade
espartilhada em conceitos dualistas, ou seja: branco, preto; fogo, água. Na verdade entre o branco e o preto há o cinzento. Faltou-me dizer: bons, maus.

É conveniente para as nossas consciências ter estas noções bem distintas. Dormimos descansados quando sabemos que pertencemos ao grupo dos bons, sendo os maus os culpados.

Mas esquecemos que é com os nossos pequenos actos quotidianos que alimentamos a nossa vida e ao mesmo tempo sem o sabermos as dos outros. Assim, quando a grande maioria do consumo de droga está na classe média, é essa que alimenta toda a engrenagem que vai desde os produtores aos traficantes.

Claro, os bons que promovem as manifestações contra a violência e a droga não sabem desse facto, ou preferem não saber. Assim como os policias, que supostamente deviam reprimir a engrenagem, também envolvidos pelas mais diversas razões nessa bola de neve, não sabem que fazendo parte dos bons passam a maus.

Ao fim e ao cabo o que acontece na nossa sociedade, por ser ela como é, e porque lhe convém, é manter as coisas em pão pão queijo queijo; o branco é branco e o mau é mau. Nada mais falso.

Estou ansioso por ver o filme

Tuesday, September 18, 2007

calendário

Calendário obrigatório a um terço do país
a um lado o garfo e a outro o bandoleiro
servido de quarto rápido e trinca milha

forcados apesar das reticências

há uma vítima

Há uma vítima
fechada ontem
e os dadores
à borla
e a balanços
despedem
a bom preço

cabeças andantes

Cabeças andantes
aletaóriamente
saltitam
aparatosamente

crivadas

Crivadas e degoladas
as criaturas deitadas
no mármore brilhante

presas

Presas
às que se seguem
as correntes

não se solta

Não se solta a mão
em tempo
e os trocos
na algibeira
dados de graça

PSD A VOTOS


O PSD vai a votos. Digladiam-se os dois personagens principais. Menezes e Mendes. Um diz que as bases é que sim. O outro diz que as bases é que sim mas também.
Claro, vê-se o jogo claramente.

Aqui o interesse está em verificar qual dos dois consegue vender melhor o seu produto. Aqui há poucos princípios. Pode-se dizer que um tê-los-á a mais do que o outro? A que propósito? Já vimos que não.

Basta o rol de trapalhadas espalhadas na praça pública. Uma das quais, o financiamento do partido pela SOMAGUE. Viu-se a reacção. Percebe-se que para eles, por exemplo, a questão da corrupção é alguma coisa que não se percebe como acontece.

Ao fim e ao cabo o que eu acho é que a população está-se nas tintas para eles. E também é esse o desespero do PSD. Percebe que às tantas será residual.

Porque é um partido que me parece não conseguir manter-se à tona sem a muleta do poder. Fora dele perde argumentação, a partir do momento em que o PS com esse elã de reformas liberais, que o PSD não enjeitaria se fosse poder, fica sem armas de arremesso, reduzido a escaramuças sem sentido e disparatadas.

Monday, September 17, 2007

repetida rotina

repetida
rotina
enterrada
possivelmente
nunca

Brilhante presença de Telma Monteiro no Mundial de Judo a decorrer no Brasil.

Obrigado, Telma. A tua medalha de prata é medalha de ouro. Sem favor. A chinesa teve sorte.

É a conjugação de factores que faz a vitória. Ou a derrota. A sorte não se controla.

Gata orgulhosa, em dojo verde e vermelho, serás campeã olímpica!

Sunday, September 16, 2007

carta

carta não
e-mail não
palavra não

linha --------------------------------------

redemoinho

Redemoinho
e uma palavra
no rosto
fechado

Na Bondade
a Maldade
lado a lado

tribo

Tribo avistada
na distante parada

Agarrado à ganância
o Disfarçado
dispara Amor aos molhos

E a Fome
dispara



silvas

Silvas e pó
nas folhas

ressequidas

No outeiro
a casa de mármore

fidalga e só


Thursday, September 13, 2007

coração


Coração novo
de guelras ao peito
a fumegar estarolas

e mezinhas
cor de burro

quando foge
a morrer à frente

de todos
precisamente na hora

cadeiras

Cadeiras de madeira de cedro
a meses de distância efémera

a um toque a melodia dos ferros

e a circunstância dos guerreiros
na casa a norte

a mesa de pé de galo
e as luzes do tecto indiferentes

o sitio

O sítio à beira da laje
deitada na terra lavrada
por dentro uma fenda
por fora um degrau

A quantas garrafas
contadas
a partir dos cacos delas
escaqueiradas a montante
do rio de águas vivas

apenas

Apenas o tempo
a caminhar
numa linha
de A a B
e as perguntas
eternamente
por responder

Depois somos velhos
e as questões
formam infinitos
rios de memórias
consagradas
ao fundo
do esquecimento

camarão

Tinha um arranhão
na ponta da língua
e um camarão
na entrada dos ouvidos

A um diz não
e a outro não diz

cenouras

Cenouras vitaminadas diariamente
à força de recados celulares
na paródia dos bem alimentados.


Saúde de cão ranhoso
a um canto desengonçado

a estrada vazia

A estrada vazia
todo o dia

A um passo do mito
a perna partida
do esqueleto

direccionado


Direccionado do desconhecido meio
buscam as penas do inferno
os desmembrados

Na imobilidade dos rostos fechados
os segredos arranham a carne
e os gritos contidos
matam aos poucos
a alma quieta

rara a noite

Rara a noite tranquila
a não ser a onda alterada
de ir e vir imprevisível


O ambiente urra silêncio
calcado no fundo
da solidão mais triste

Wednesday, September 12, 2007

O Dalai Lama

O Dalai Lama vem a Portugal e o nosso governo não o recebe. O nosso ministro dos Negócios Estrangeiros disse que o não recebia pelas "razões de todos conhecidas". Eu não conheço "as razões". Acho que ninguém conhece. Pela simples razão de que não há razão nenhuma para o não receber na sede do nosso poder político. As razões invocadas serão de ordem funcional, não de ordem constitucional. Dado que o nosso sistema politico e de direito tem o dever de receber quem é vitima de abuso de força. A China é um gigante, o Tibete é um anão. Mas esse facto não dá o direito do abusador se arrogar de virgem ofendida, porque não é. Nem dá o pretexto para pressionar os parceiros de negócios. Talvez por isso o nosso ministro seja ministro de "negócios... estrangeiros"

Monday, September 10, 2007

abraços

Abraços fraternos
como frutos
maduros
tombados na terra

Em contas futuras
esquecidos prantos
acabados

garras

Garras estranhas de última hora
em moradas sedentárias acabam
a remoer as sonâmbulas
mortes desaparecidas
em mil pontos do céu

noite

Noite indizível
na cena inteira
a deixar filhas
perto das fileiras
das espadas
apontadas

Sunday, September 9, 2007

FLEXISEGURANÇA


Hoje ouvi Jerónimo de Sousa a discursar na festa do Avante contra a flexisegurança. Ainda bem. Mal é o partido comunista pensar ainda que 1917 represente a utopia e que comemorar a data signifique o reforçar de projectos políticos que terminaram.

E são verdades as transformações que se têm verificado ao nível dos conceitos, em que as classes dominantes tentam com palavras arrevesadas camuflar as suas verdadeiras intenções.

Interessa-lhes gerir as suas necessidades de força de trabalho segundo os ciclos económicos, ou seja, não terem qualquer compromisso com os empregados: quando o mercado falha, trabalhadores para a rua; quando em alta, trabalhadores admitidos. É a onda. É a maré. Enche e vaza. Mas, claro, há que arranjar, supostamente, um esquema que permita que o conceito funcione pelo lado da segurança. Segurança, almofada, para-quedas. E quem paga essa almofada? Os próprios trabalhadores, enquanto trabalham, com os impostos deles, ou seja, o Estado, que é vitima constante da fuga aos impostos dos que deviam pagar a tal "segurança".

Jerónimo de Sousa tem razão, a flexisegurança é uma armadilha. Assim como Mário Soares.

Não nos enredemos nessas palavras que só levam ao engano. Vejam só! Normalmente, aos trabalhadores duma fábrica, dum escritório, dum Banco; do sector terciário, secundário, primário, seja o que for, não lhes chamam trabalhadores - aqueles que trabalham para alguém, mas colaboradores, aqueles que colaboram com alguém.

Ora, colaborar não significa o mesmo que trabalhar. O facto é que utilizam as palavras para criar a realidade. Deturpam dessa maneira o real. É o que tentam fazer com as palavras que vão inventando. Deturpam a realidade ao deturpar o significado das palavras em proveito deles.






Friday, September 7, 2007

PORTUGAL


Portugal está a viver, com o drama de MADIE, o drama da sua identidade.

Agora está-se a chegar a certas conclusões nada agradáveis para os pais da criança. Em todo o caso, haja morte ou vida, ninguém gostaria de estar na pele deles. É terrível o que lhes aconteceu, o que lhes está acontecendo. Seja qual for o resultado final das averiguações nunca mais serão os mesmos.

Mas o que eu queria era chamar a atenção, como uma consequência subreptícia, larvar, que se tem verificado ao longo destes meses, e que é a de vir ao de cima uma certa maneira, e mania, de ser britânica.

A imprensa desse país olha-nos de certa maneira como alguém com alguma bitola abaixo da deles; pelos comentários pejorativos acerca da nossa policia, do nosso sistema judicial, do nosso modo de ser; pela maneira como falam em território português (nem se dão ao trabalho de falar português, ou de pelo menos ter alguém que fale português por eles).

De repente há o espanto! Afinal quem somos? Parece que somos aqueles índios nus, ignorantes, uns selvagens do sul da Europa.

Salvo as devidas comparações, esse pequeno mal estar existe. Ou será que não existe? É apenas imaginação?



formas

Formas e normas escaqueiradas
a um bom preço de cão de forma
aberrante contrapasso e babão
opressivo catalisador de merendas
e limões naturais em moedas
de cinco noves fora nada

os ruídos

Os ruídos e os sons distintos
nas ruas desimpedidas

A girar na ponte de ferro
a perfeita linha

Thursday, September 6, 2007

prisioneiras

Prisioneiras
do silêncio
as vagas
abandonadas

Wednesday, September 5, 2007

torrentes de lava

Torrentes de lava
a leste da terra
forças diferentes
no destino anunciado
a pé de roda da mesa
os cintos de castidade
travessas de melão
e queijo ao menos
na estreia do mês
as virgens a mês
e meio de distância
inolvidável
alertadas as cagarras
esperneiam à vontade
isca de cagarra

a segurança

A segurança
em portos
antigos

Aves estranhas
vigiam
os cantos à casa

Têm bicos d'aço
e fornos
nas orelhas

o ar

O ar
nos pulmões
e as veias
na alma

em duas horas

Em duas horas
os espaços maiores
emperrados
na madeira
de pinheiro
e voz de lume

por mim

Por mim
e antes
de ti
as garras
de leão
pimenta

zanga

Zanga de alguém
remoendo
as moelas
de galinha
nas entrelinhas
fogo e garça

Tuesday, September 4, 2007

JUDO

JUDO

GRUPO VITÓRIA DE SANTO ANTÓNIO






Estão abertas as inscrições.
Nas instalações do GRUPO, em S. António, ou pelo telefone 936628882

Horários:

das 18H30 às 19H30, segundas e quartas, dos 6 aos 10 anos

das 19H30 às 21H30, segundas, quartas e quintas, a partir dos 11 anos

Monday, September 3, 2007

brilha a palavra

Brilha a palavra
na água
nos olhos
de quem viu

ordem

Ordem inversa
escusadamente
inspirada
nas meias palavras
dedicadas
às cinco
maravilhas do mundo

buscas

Buscas policiais
no lixo julgado
à porta
soberano
naturalmente
culpado

os veios

Os veios
escolhidos
donde
nascem
as franjas
lineares
cânticos
de dia

rir no sério

Rir no sério
a deitar
no chão
as boas
normas
ditadas

Saturday, September 1, 2007

A Somague e o Dr. Barroso


É incrível o cinismo dos dirigentes do PSD a tirarem a água do capote à pressa, aligeirando responsabilidades no cambalacho do financiamento de campanha do PSD.

Percebe-se de caras que não é de graça que se financia partidos. Algum retorno terão de ter os financiadores. Todos nós estamos de acordo em relação a estes mensalões à Portuguesa.

É curioso observar a reacção do Dr.Barroso, que quando lhe falam no assunto perde a cor, e em vez de Durão é Fracalhão, endossando responsabilidades para alguém de segunda divisão, que ainda por cima se encontra doente.

Berbicacho de todo o tamanho para o Dr. Barroso - que ainda há pouco tempo recebeu um galardão importante na Alemanha -, a ter de engolir um sapo do caraças.

E ele que pensava que ia ficar descansado, que a coisa não lhe chegava.

Que pena! No remanso do seu cargo cai-lhe em cima esta suposta ninharia virtual. Chateia...