Thursday, December 3, 2009

e vemos à volta de nós...

E vemos à volta de nós uma multidão de coisas e lousas,
umas mais subornadas do que outras,
e faladas mansamente
para não despertar guerra na justiça.

O demónio então limpa os beiços da gordura
do cabrito tenrinho que acabou de domar.

Força à sua alma.

Eis que de repente

Eis que de repente nos vem à mente
que queremos ser modernos
e cortar a eito como duas espadas
afiadas ao jeito dos tempos.
E falaremos então da vida e da morte naturalmente.
E somos modernos por isso, dizem eles,
por falarmos na morte como se falássemos na vida.
Que mentira pegada essa que nos querem impingir,
esses grandes doutores das várias disciplinas,
até os padres.
Não que me interesse essa questão da morte só por si,
mas porque me querem obrigar a ser moderno
e a pensar na morte com alegria.
Aquela coisa de dispensar a dor e o medo...
É muito bom ser moderno quando isso
manda para a sarjeta o horror de me deixar eternamente.

Alguma vez te calaste porque tiveste medo?

Alguma vez te calaste porque tiveste medo?
Pois eu já, mas não me arrependi,
e esse foi o meu mal maior.
Sabe-se lá porquê!
Mas não é verdade.
Nós sabemos porque as ondas do mar vão e vêm,
sabemos! Porque estamos vivos.
Mas não queremos saber
porque não falamos quando devíamos falar.
Porque nos faz medo de perder
estes benzinhos que são o aconchego de casa,
e esta nossa própria vida que tanto amamos.
Por isso mesmo talvez amemos mais a vida
do que a liberdade.
Foi o preço a pagar
pela domesticação das estrelas.