Friday, February 29, 2008

se a sequência

Se a sequência e promessa de Sol,
rosa dos ventos, nas entrelinhas
a imagem duma figueira
no muro esborralhado,
as pedras no caminho
e as amoras negras.

Só numa

Só numa e não noutra
enquanto as passagens
acostadas na margem
a seguir as fogueiras
queimadas as margaridas
no quintal ao meio da tarde
entre as espécies abandonadas
nenhuma delas requereu
o diploma inusitado

Wednesday, February 27, 2008

quase sempre não se diz

Quase sempre
não se diz



mas diz-se

para despistar

na caixa

Na

caixa

dos fios

cruzam

luzes

a notícia revirada

A notícia revirada na banda de lá
nada seria a um dia de marcha.

Notavam as aves
no céu aberto
as naves
que atravessavam
os desertos.

Porque o primeiro alarme veio
de quem menos se esperava.

Toda a terra tremia
toda a gente gemia.

Esse foi um tempo terrível.

onde vai dar

ela nos olhos dele
ele nos olhos dela
onde vai dar
esse olhar?

Serra da Estrela - junto à Nave de Santo António






















ainda a Serra da Estrela, junto à Nave de Santo António

















Sunday, February 24, 2008

de certa maneira

De certa maneira estamos a perder
cada vez que olhamos para trás

Água limpa que era
levando adiante
as impurezas

É na passagem
uma nota solta
sem brilho

o velho caminho

Qualquer que seja o resultado
o velho caminho de terra
sobe até um limite
e a partir daí morre

Não está sozinho
as plantas e as árvores no nevoeiro
escondem a casa de alvenaria
com portas de madeira

E há milheiros
no serrado

dobrados com o peso das maçarocas

Saturday, February 23, 2008

não tão grave

Não tão grave como isso
ainda assim os dias
são os mesmos

De lá de cima
percebe-se
a confusão
dos seres
contundentes

A gravidade
translúcida
uma vez por outra
perde o dom de ser

alguém mantêm-se

Alguém mantêm-se no ar a piscar
de novo sem saber a certa maneira
de voltar à infância

Costuma a cansar-se de saber-se
numa roda de aço

Ao princípio eram apenas as secretas horas
depois tudo se desfez
até a morte que viesse
era bem melhor que o nada

Sunday, February 17, 2008

cada instante

Cada instante é esta corrente
de sons e cores

O que reside afasta-se de casa
e deixa o caminho livre

Saturday, February 16, 2008

descansa

Descansa os olhos na matéria
e transforma-a em espírito

É uma maneira de resolver
o problema original

esperança

A esperança
em pequenos recantos
guarda o seu tesouro

O estado

O Estado está lastimável
em todas as esquinas
os caras de pau viram
as cambalhotas necessárias
ao futuro deles
em burras d'ouro

decrescente

Decrescente a partir
de alguma forma
desconhecida
ainda que numerada
pelos anos

dum ponto a outro

Dum ponto a outro
o homem acostumou-se
ao passado ou ao futuro
quanto ao presente
é apenas uma contagem

Vale de Manteigas - Serra da Estrela

Manteigas

Vale
«



Friday, February 15, 2008

O telecomando

O telecomando da imagem
deslocado a pedido
na sexta à noite
e tão bem
a descodificar

O primeiro prémio
do lado de fora
a um deu trela
a outro panela

Na margem da serra
os atalhos
vão dar
ao penedo residente

acaba

Acaba a repetir os eternos
caminhos
e fora deles não escapa


Todas as vezes que quer
não se desnorteia

serra da estrela












Serra da Estrela

Thursday, February 14, 2008

é o truque

É o truque abaixo do cais
umas vezes é assim
outras vezes é demais

a meta

A meta e a jangada
ambas perdidas
num ponto

as cores do tempo

As cores do tempo assim despidas
e a água a dar de si o imenso abraço
a todos e a um

Tuesday, February 12, 2008

Gardunha, junto à Casa do Guarda, Alcongosta








Junto à Casa do Guarda, em Alcongosta

Sortelha




recanto de Sortelha

nem as palavras

Nem as palavras colhem
a substância do ser nas
paredes velhas contra as ramagens
dos pinheiros e das oliveiras,
pontos da mesma ordem de ideias.
Ainda a igual muralha e o semelhante
dia arreganhado na incerteza
das pedras a crescerem,
na crucial intenção dos donos
de fazerem subir as asas para bem
perto do sangue dos incrédulos,
na outra banda do costume,
entregue aos dentes perenes
da moral na forma criada.

desenhos

Desenhos diferentes
são as formas dos penedos
e das fortalezas ancestrais

Acorrentados os descendentes
às primeiras horas da manhã
ainda sem as palavras do futuro

toda a pretensão

toda a pretensão se esgota
no tempo infinito
e cada dia a angústia
torna-a mortífera

há por dia

Há por dia de perto o espírito
a procurar uma ideia nas pedras
que se tornam as mesmas

Luminosas então se ficam por uma só
aquela que encontra o sol

obra

Obra no entanto inacabada
dos dentes ferinos
que uma vez por outra
rasgam a carne

A consciência
perto da hora
se houvesse
que chegasse
de tranquila fé

olhar

Olhar o espírito
na grande
amena
paz

Que descanso

Que descanço ter
senão na morte?
Na consciência
do cosmos
enfim entregue
ao grande Universo

Pára a ver

Pára a ver um nicho quebrado
e uma parelha de paus
como se fossem levados
por uma mão genial
a mesma que guia
os dias de alguém

cuspir

Cansado da saliva gasta
a cuspir de mais.



Um dia na rusga a mesma levada
na grelha da noite

AÇOR (Fundão) - Serra da Maunça















Açor, Serra da Maunça