Monday, April 28, 2008

correm as nuvens

correm as nuvens altas no céu
cá por baixo é o vento fresco

a roupa lavada

A roupa lavada
está a secar na varanda
com o vento forte
é num instante

Sunday, April 27, 2008

não podemos ficar indiferentes

Não podemos ficar indiferentes
ao cântico dos pássaros e aos gritos da pequenada
entre uns e outros a diferença não é muita
apenas uma questão de sol a mais ou a menos
apenas alegria com fartura porque o tempo bom está aí

bater de asas

Bater de asas
de pombas

A comida delas
é miolos de pão
que caíram
da toalha
da vizinha

as ervas nascem

As ervas nascem
rapidamente
e os insectos picam
à volta

os sons da vida

Os sons da vida
anarquistas
ao sol

Friday, April 25, 2008

mecânica agrícola

mecânica agrícola
amena temperatura

moinhos nas cumieiras
a virar energia

ao entardecer
doce ambiente

Thursday, April 24, 2008

desliza

desliza e vai aumentando de velocidade
ao longe há uma rotunda
é preciso abrandar

O volante ao tacto rodado

Wednesday, April 23, 2008

as horas

as horas
a noite
as luzes na rua
uma série americana

o menino pergunta

O menino pergunta
e sai
terreno materno
odores cheiros sons

reparando bem

reparando bem há uma casa
de pedra com a porta aberta
ou sem porta?
escondida entre o arvoredo denso
surgiu depois do fogo

a água do tanque

a água do tanque
corre sem parar
com fartura
e pura

limparam a mata

Limparam a mata
lenha espalhada
o som da água
a luz a estremecer nas folhas
os moinhos a girar em linha recta
nos montes em frente

Tuesday, April 22, 2008

o efeito contrário

O efeito contrário
está na possibilidade
da memória falhar
para deixar
nascer de novo

Mas esse efeito pode ser
uma forma negativa
e nesse ponto
as esperiências
são uma ilusão.

a única janela

A única janela do café
no lado oposto ao da televisão
encostada na parede

Pode-se estar a olhar
para um lado
ou para o outro

Monday, April 21, 2008

há tantas giestas amarelas

Há tantas giestas amarelas
no ar

Apanhar todo o movimento
com uma máquina fotográfica
é difícil

Além disso captar luz
traz ansiedade

essas árvores

essas árvores têm a sua história
não é difícil adivinhar
foi rasgada uma estrada
atrás delas
as árvores é preciso ver
não têm lados

as árvores estão com folhas

as árvores estão com folhas tenras
são quatro árvores
uma fileira
as raízes levantaram a calçada
nesse passeio não podem estacionar carros
foi pintada uma linha amarela na estrada

o carro avaria

o carro avaria e há um sobressalto
como sair da embrulhada?
o pior é a chatice
não é isso
a questão é chegar
a um lugar que não devia existir
lugares que são imagens falsas
e depois conclui o homem
que não há lugar nenhum
senão aquele onde está

o homem pensa na criança

o homem pensa na criança
e está vendo a terra
e as ervas embrenhadas nas raízes
e um cavalete ferrugento
encostado à parede de pedra cheia de limos
tantas vezes o ar limpo pela chuva
e a calma parece longe
naquele vale verdejante

encostada à parede

encostada à parede a criança
tem as mãos no chão de cimento
o calor do sol está no cimento
as nuvens correm lá por cima
formam castelos gigantescos
uma brisa ligeira na cara
está bom assim a ver o céu

o chão de cimento

O chão de cimento está com terra ao pé do portão de ferro verde
o socalco está cheio de erva depois da chuva
as oliveiras têm folhas verdes cinzentas
um pouco mais além os pinheiros contorcidos
e as giestas brancas entre os penhascos
cobrem a encosta sul
está sossegado

Sunday, April 20, 2008

Habitação partilhada




De um lado os Periquitos; e, no monte da palha, os Mandarins...

Os fenómenos continuam! Os meus “bicharocos” teimam em partilhar os ninhos. Só que desta vez é um periquito e um casal de Mandarins. Fizeram o ninho no mesmo caixote. E, por enquanto, dão-se lindamente, como duas mamãs num quarto de Maternidade.


Junto deixo aqui a foto do caixote de ninho.


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Os primeiros Mandarins




Os primeiros Mandarins também já começaram a dar frutos este ano! Nasceram quatro Mandarins, dois deles são branquinhos. Espero ter, até ao final do ano, no lugar de quatro pelo menos quarenta! Estas pequenas aves, visto criarem-se na perfeição, são aconselhadas para criadores principiantes.


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as primeiras caturras deste ano


Já nasceram as primeiras Caturras deste ano! Duas pequenas Caturrinhas, filhas de um Casal em que eu até apostava pouco, mas… foi o primeiro a conseguir com que os seus pequenos filhotes saíssem dos ovos. Vamos lá ver o progresso...

postado por Bruno Torres (Tirado do Blogue: Aves de Gaiola, Covilhã)

Thursday, April 17, 2008

ouço o cão a ladrar

Ouço o cão ladrar e os apitos dos carros,
e os motores a passar lá fora.
O dia está cinzento e traz-me saudade
de quando era criança e tinha esses dias,
assim, como um aconchego nos braços de minha mãe.
O sol espanta o carinho e o recolhimento,
quer explosão de vida e alegria ruidosa.
Por isso esta nostalgia no meu coração,
estas suaves recordações.

Monday, April 14, 2008

A mente tem asas

A mente tem asas
mas está presa
a uma fábrica
que alimenta
a vida,
a principal culpada
da sua prisão.

A verdade
embrulhada
em papeis
de jornais.

Que deselegante!

O Sol dá num pequeno pinheiro

O Sol dá num pequeno pinheiro
a nascer num muro.
É á tarde.
Eu sei a que horas.
Já pensei em tirar-lhe uma fotografia
mas esqueço-me sempre da máquina.
Ficaria bem com aquela luz.

as flores brancas das giestas

As flores brancas das giestas cobrem a serra
que foi incendiada não sei quando
As flores amarelas das giestas também
fazem a mesma coisa
as flores amarelas e brancas das giestas
as flores brancas das cerejeiras
estão a cair

o futuro

O futuro lâminas
não quer
não o quer
mas quer
ou não quer
não o quer
ou quer
ou não quer

Avança também nas pedras soltas

Avança também nas pedras soltas
a ave pequena à procura de água.
Quem adivinha o seu rumo azul?
As flores começaram a cair
mas não dizem adeus aos seixos.

A alma quer libertar-se

A alma quer libertar-se
da forma esguia.
As cores do arco íris
forçaram Deus
a abrir as mãos.
Que deixasse de ser
rigoroso! Ao menos
no tempo da morte,
essa que vem contada,
onde os ponteiros da sorte
dividem por infinito
o fim merecido.

Thursday, April 10, 2008

O ronco dum automóvel

O ronco dum automóvel na estrada
acelera a experimentar a ligeireza.

Nessa noite caíram seixos e larvas
com os olhos fechados e as guelras sangrentas.

No meio de tanta guerra as laranjas
espremidas a dez compassos do extremo.

Não seja difícil na sua ideia,
projecte as coisas simples na frente de combate.

AO BALCÃO - Malcolm Lowry


- Bêbados de água salgada, sedentos de desastre,Restos de naufrágio de barcos nunca sonhados:
A calamidade jamais os abandona
Não os troca pela calma dos veleiros e pela vigília:
Neuróticos no Atlântico mortal,
Afogados mas ávidos de outra respiração,
Nadando com os génios negros sob as águas negras,
E enterrados de pé como Ben Jonson,
Embora aqui dezoito cêntimos sejam uma grande perda
E Tarquínio tenha assegurada a sua presa,
Enquanto outros tacteiam o corrimão, rígidos, olhando fixamente para baixo.

Malcolm Lowry



(Tirado do livro As Cantinas(1) e Outros Poemas do Álcool e do Mar. Selecção e tradução: José Agostinho Baptista. Editora: Assírio e Alvim)

(1) Bares mexicanos

começam as letras

Começam as letras
em primeiro lugar
a crescer na terra
e o cântico dos pássaros
a iluminar o dia

a pedra

A pedra
tirada
do chão
lavada
à mão.

Wednesday, April 9, 2008

descer

Descer ao minuto seguinte
sentimento perto da terra
desgaste das coisas vivas

a tina

A tina com água salgada
os chicharros azuis
isca próxima da albacora
respingos fervendo no mar

Tuesday, April 8, 2008

o rosto escolhido

O rosto escolhido
a hora real
instintivamente
termina
num instante
num som
num desejo
sublime
de morte

a água limpa

A água limpa e farta vai
para o rio que vai
para o mar

A vareta do guarda-chuva quebrada
uma tarde fechada

Saturday, April 5, 2008

os sentidos

Os sentidos estão felizes
tanta claridade
tanta vida junta

Friday, April 4, 2008

a luz

A luz na árvore
larga perspectiva
frágil cerejeira

Thursday, April 3, 2008

Aviso ao cérebro

Aviso ao cérebro!
A quem
puder não deixe

Ao pé da montra
esbelta pintura

Ao amanhecer
as massas de ar

A Primavera agasalha
as árvores.

O carro sai de casa

O carro sai de casa


A terra tirada da frente
substitui a do cemitério
imprópria para mortos

Wednesday, April 2, 2008

Malcolm Lowry - Nocturno

NOCTURNO

Neste anoitecer Vénus aparece sozinha
E no caminho de casa as penas são como seda
Como a túnica de um múltiplo fantasma
Como asas despedaçadas num céu de leite.
Em breve as gaivotas transformar-se-ão na pedra
Que procurei e perdi além, na senda dos
Bosques onde eu e a minha ignorância
Caminhámos juntos sobre as mãos e os joelhos
E juntos continuamos a caminhar sob a palidez
De um belo anoitecer muito amado,
Mas este anoitecer é a minha prisão
E os polícias brilham entre as árvores.


Malcolm Lowry

(Poema do livro de Malcolm Lowry, As Cantinas e Outros Poemas do Álcool e do Mar. Selecção e tradução: José Agostinho Baptista. Editora: Assírio & Alvim.)

Malcolm Lowry - Cristo talhado por um machado

CRISTO TALHADO POR UM MACHADO
(NUMA IGREJA MEXICANA)


Cristo, talhado por um machado, na igreja corcovada -
Como poderemos rezar-te, a ti que o sangue mancha,
A ti, mais morto que a madeira cortada?
Mas temos de rezar pois a oração é tudo o que procuramos
E aqui estamos com raiva só para suplicar-te.
Aqui se ajoelham duas criaturas que acreditam no bem,
Aqui estão dois apaixonados que acreditavam em Deus,
E em ti também, embora mutilados pelo toque da vida
Como se fosse a dolorosa arte destes homens sombrios.
- Oh, tu, destroçado pelo homem mas morrendo pela humanidade,
Falando e falando de paz, mas debaixo do fogo e assassinado,
Advogado de defesa setenta vezes sete;
Imagem, adoramos-te doentiamente; ainda viva no pensamento
Nesse pensamento que por si vive, e que a tua compaixão não nos esqueça.


Malcolm Lowry


(Poema de Malcolm Lowry, do livro As Cantinas e Outros Poemas do Álcool e do Mar. Selecção e tradução: José Agostinho Baptista. Editora: ASSÍRIO & ALVIM)

Tuesday, April 1, 2008

Como descobrir

Como descobrir o que está por detrás das palavras?
Quando elas são ditas com tristeza
Quando elas são ditas com raiva
Quando elas são ditas com amor
Quando elas são ditas com mel
Quando elas são ditas com veneno
Quando elas são ditas com papel selado
Quando elas são ditas com ignorância
Quando elas são ditas com sabedoria
Quando elas são ditas com alegria
Como descobrir o fio principal que conduz a vida?

De qualquer maneira

De qualquer maneira os eucaliptos
velhos
tinham à sua sombra
a Senhora do Seixo
e guardavam as ruínas
do Convento

As máquinas poderosas
em duas penadas
desbastaram as árvores

E em lugar delas
uma aberta exposta
aos ventos e à inclemência
- ferida na encosta