Saturday, December 29, 2007

O PSD e a presidência da CGD


O PSD está tontinho de todo. Onde terá aquela cabecinha do líder sido enfiada? Nalgum balde de água gelada. Já viram a escandalosa preocupação dos dirigentes laranjinhas com as cadeirinhas? No caso, a de presidente da Caixa Geral de Depósitos. É claro que o PS também não é virgem no assunto.

É incrível a capacidade de criar assuntos inúteis para discutir. A politica chega ao grau zero. Politica é preocupar-se com os problemas da sociedade. Esta guerrilha com as cadeiras dos bancos não tem qualquer substância relevante de preocupação com o bem comum, apenas transparece um egoísmo de todo o tamanho nesses dirigentes.

Digamos que ficam sem máscara de políticos e transfiguram-se em oportunistas que ali estão apenas para satisfazerem a sua gente e a si próprios. Triste espectáculo. Filipe de Menezes é uma triste figura que anda a reboque dos acontecimentos diários. E qualquer motivo serve para atirar achas para a fogueira, onde se tem queimado.

Aliado dos santanistas, com o imperdoável Gomes da Silva armado em Cavaleiro Andante a clamar vitória sobre tretas que não interessam nem ao menino Jesus, a não ser a quem, da área deles, fosse nomeado para a direcção da Caixa. Felizmente não foi o caso. Parece que vai ser nomeado Faria de Oliveira para o cargo.

É claro, a preocupação toda do PSD é com a cadeira vaga. Não se preocupa em saber se o maior banco privado português, o BCP, agora depois destas falcatruas todas que sobre ele recaíram, ou melhor, sobre os seus depositantes e toda a gente de roda dele que acreditou naquele ar confiante e crivado de santidade dos seus dirigentes, tendo à cabeça o engenheiro, ficará debilitado.

Que consequências poderá ter toda esta lama? Afinal vai ser alguém responsabilizado ou não? Vai alguém para a cadeia ou não? Não, o PSD não se preocupa com a moral, não se preocupa com a sociedade em geral, mas com questões perfeitamente marginais. Melhor para o PS. Porque não tem ninguém à altura de lhe fazer frente. Pior para nós porque ficamos descalços, sem oposição à altura das circunstâncias.

Benazir Bhutto


Benazir Bhutto foi assassinada e penso que não se irá passar nada, ou seja, ela foi colocada fora da luta politica para sempre e o mundo continua igual ao que era. O poder agora no Paquistão respira mais aliviado até que apareça outro concorrente que ponha em causa o sistema de governo encapotado de democracia de generais que governa essa mistura de gentes eivadas de radicalismos que é o Paquistão, uma autêntica armadilha colocada no meio do nosso mundo.

Afinal não estamos longe uns dos outros quando a questão atómica se coloca; quando a loucura toma conta do poder. É claro que todos se reclamam de prudência e principalmente os poderosos que conduzem os destinos de milhões de pessoas. Mas essa prudência é apenas uma máscara muitas vezes que esconde a demência total e a maldade. Esperemos que surja no Paquistão alguém ou algum movimento que finalmente consiga que pelo menos a democracia, que, até ver, não sendo o governo perfeito é o que se aproxima mais da imperfeição humana, se implante naquela terra onde os "talibans" e toda a cáfila de gente aparentada se passeia impunemente.

Wednesday, December 26, 2007

lérias

Lérias
ao mesmo tempo
árvores queimadas
todas na mira
não

os lados

Os lados apertam
ou alargam,
e se principias
por perceber
acabas por
prolongar
a pergunta,
a seguinte.

corridas

Corridas na estrada larga.
A um lado a margem,
e a outro o restante
aglomerado de chaves.
Essas permitem pensar
a longa vida dos lados.
Um dia acabam.
É a água limpa
que os destroi,
sem que possam,
sequer, aguentar
o último ataque.

A próxima estação

A próxima estação de Inverno e duas estações anteriores,
o mesmo barco e a mesma casa no coração.
A vez seguinte é a forma de seguir
a estrada anterior com os mesmos passos.
Agora já os anos pesaram e
já as águias desapareceram da paisagem,
todos os espaços foram tomados
e as casas desceram à praia.

No Inverno outra vez a nova imagem,
rigorosa talvez, mas ainda assim
não sei bem de quem,
se minha se doutro igual.

Morrerei em voz baixa,
um dia.

Saturday, December 22, 2007

ainda natal

Está toda a gente a pensar no Natal
e a tentar dentro de si banalizá-lo
mas uma casca de banana no chão
e sem se saber escorrega coração

Ou seja é preciso fazer alguma coisa
para não se ficar atrás ou não sentir
remorsos por não se dar parte de si
a alguém ou mesmo na próxima esquina
levantar quem está caído

O caso MILLENIUM/BCP


Tem sido difícil a parição do caso BCP. Aliás, nem será caso. Palavras e palavras para entender operações financeiras que nem lembra ao Diabo. Ou nem tanto. A questão é muito semelhante ao que aconteceu com a privatização do BPSM. Na altura Champalimault comprou o Banco com um empréstimo do próprio Banco. Mas ninguém se escandalizou. Depois o Banco foi vendido e naturalmente que o empréstimo terá sido liquidado e as mais valias resultantes do diferencial entre o preço de venda e o valor do empréstimo reverteu para o "benemérito" empresário que fez o "favor" de dar brilho a um Banco estatal.

O que acontece com o BCP é algo semelhante. O BCP a precisar de capital lembra-se de abrir empresas off-shore e através delas vende/compra acções. Como? As empresas (que são o BCP encapotado) pedem empréstimos ao BCP e com eles compram acções do próprio Banco. Ou seja: o dinheiro emprestado pelo Banco volta a entrar sob a forma de dinheiro fresco. Nessas operações usam nomes de pessoas como testas de ferro e a esses são perdoados milhões. É claro que não são a eles que são perdoados; são ao próprio Banco. Uma confusão. No meio da confusão alguém lucrará.

Agora os administradores foram chamados à "polícia" (Entitade Reguladora) e começam a acusar-se uns aos outros, a dar um pobre espectáculo: "Não fui eu, foi o outro" ; "Não tive informação"; "Obedecia a ordens?" O aspecto circunspecto dos banqueiros esconde a lama lá por dentro. O Banco de Portugal e o seu consensual presidente Victor Constâncio só agora acordou. Em 2004 já tinha sido levantada a borbulha, mas como tinha sido muito timidamente, o tímido Constâncio mandou para trás o Processo. Só que agora apareceu um Joe Berardo espalha brasas, que tem posto a ferro e fogo esse mundo silencioso e hipócrita dos banqueiros do BCP. E chega-se à triste conclusão, que um Banco que tinha sido gabado ao longo destes anos todos, até foi um study case em universidades, não passará duma simples Instituição que tem vingado muito à custa de cosmética e de certa maneira dum ar de modernidade que quis dar à sua marca. Na minha opinião, oxalá que o BCP sobreviva a esta grave crise e que seja na realidade o Banco que parece ser: uma Instituição forte e credível.

Thursday, December 13, 2007

O Inglês Gordon Brow


Gordon Brow

Gostei de ver Inglês chegar a Lisboa para assinar o acordo de Lisboa com aquele ar como se tudo estivesse normal. O homem não quis chegar a tempo. Teve que engolir um sapo. Tinha que vir a Lisboa. "Como conciliar as palavras com os actos?" Pensaria o homem com os seus botões. O ditador africano já se tinha ido embora, portanto, agora não havia nada a temer. Mas mesmo assim chegou tarde. Teve-se nas tintas para os outros governantes europeus. Onde estava a tão badalada pontualidade britânica? É claro, ninguém se importa. Dá a impressão que o acordo já era. Foi só mesmo para inglês ver.

Wednesday, December 12, 2007

O grande capitão

O grande capitão da equipa avançada
levava uma espada sangrenta
contra uma parede indivisível.
Como iria ele ultrapassar
os portões fechados?

Cada voz a mesma

Cada voz a mesma.
E no mesmo lado a diferença
que não havia;
a breve história
de alguém
na memória atribulada.

por fim nada

Por fim nada!
Cada lugar diferente.
E na mesma bagagem
alguém há-de encontrar
o sonho que restou.

Tuesday, December 11, 2007

ISALTINO DE MORAIS - O tal



Isaltino de Morais vai a Julgamento. O homem não se sente minimamente ameaçado. Enche a boca de que ninguém poderá provar o que quer que seja contra ele.
Diz que espera que haja um julgamento rápido. No fundo, do que ele está á espera, é que, não havendo provas de coisa nenhuma, segundo ele, então ainda bem que é julgado para que as coisas se esclareçam a seu favor.
Parece que o senhor está convencido de que o Estado, não tendo nada a que se agarrar, porque ele,Isaltino, foi cauteloso ao receber os tais envelopes chorudos, será então palavra contra palavra, a dele contra a dos outros.
Nem se dá ao trabalho de abandonar a Câmara de Oeiras, de que é Presidente, uma vez que é suspeito de crimes de corrupção. Segundo parece, os envelopes eram levados ao seu gabinete pessoalmente, para facilitar licenças de construção, por exemplo.
Quantos envelopes chorudos não entraram no seu gabinete? E a conta na Suíça em nome do sobrinho? O homem não se desmancha nem um bocadinho. Então não é verdade, pensará ele, "se outros mamaram da teta do Estado não hei-de eu mamar também?"

Thursday, December 6, 2007

Cimeira Europa / África

O homem parece que vem mais cedo do que se imaginava. Robert Mugabe, o do bigodinho a imitar o "outro", aquele que se arvorou em pretenso "cabo" de guerra, ou não? Seja como for a terra dele está a ferro e fogo. O seu povo na miséria. Mortos. Fome. As garras da morte rasgam o seu país.
O que é que terá acontecido na cabeça desse "menino" que tem levado um país, que era próspero, a Rodésia, ao que é hoje o Zimbabwe? Nada ou pouco sabemos. A verdade é que este encontro da Europa com África deveria ter um cariz de entreajuda e o que se vê é a preocupação de se saber se o senhor Robert Mugabe vai estar ou não na cimeira.
O Sr. Primeiro Ministro Britânico não vem porque alega que o seu colega não respeita os direitos humanos e mais isto e aquilo; numa palavra, não janta à mesma mesa do Africano.
O problema não são as preocupações morais do senhor Inglês mas porque como antiga potência colonizadora perdeu aquilo que pensava que iria manter, as terras do país colonizado na minoria branca.
O que se percebeu foi que o sr. Mugabe não percebia de terras e não percebia (nem percebe) nada de direitos humanos nem de democracia. Os colonos brancos têm ficado sem as suas terras. Ora, a verdade é que a potência colonizadora não vê (não via, nem verá) com bons olhos (nem bons nem maus) esta pretensa "reforma" agrária.
Acho que são os interesses particulares de resquícios imperiais que impede (impediu) a participação da Grã-Bretanha na cimeira, para além de questões morais.

por qualquer motivo

Por qualquer motivo as estradas estão bloqueadas.
Quem sabe da notícia indeterminada?
Os caminhos recuam e as aves seguem o seu rumo

Enquanto os peixes se distanciam das margens.
Em voz moderada os espelhos queimavam
as mãos ainda que alguém trouxesse água.

Todos os espaços na frente estão à altura
dos acontecimentos imediatos.
Os esforços foram os possíveis
e as massas de terra deixaram
de fora as mãos imortais.

Wednesday, December 5, 2007

o mais difícil

O mais difícil é esquecer
o ego e deixar passar o tempo

Fonte de sofrimento
o eu seduz a alma

Haverá um lugar
próximo
do conhecimento?

Tuesday, November 13, 2007

mesmo que não seja nada

Mesmo que não seja nada, nada é já alguma coisa. A preocupação é se o tudo for nada. Mas se o nada for alguma coisa, alguma coisa será tudo. A preocupação de que o nada seja o não existente é o que preocupa quem tem alma. O ter alma implica existir. Existir implica o nada que é alguma coisa. Então porquê a preocupação do esquecimento? É porque tem-se receio de que é possível ser-se esquecido como se o existente que fora antes passasse à fase do não existente? O problema é a incerteza. Se alguém descobrisse a origem da incerteza ficaríamos melhor.

Monday, November 12, 2007

cavaleiros

cavaleiros de uma só vez
invadem a seguir
os contornos brancos
das águias geladas
nos olhos fechados.

para algum lado

Para algum lado há-de ir
aquela não nomeada
desconhecida
no seu lugar recôndito

A não ser que se
lamente
o segundo
atrás de outro
agarrado ao minuto
secular.

toda a curva a norte

toda a curva a norte
não se negoceia

uma tensão latente
divergente

diferente
na mesma proporção

a faceta lânguida da alma

A faceta lânguida da alma
precede a ordem de busca
do infame monstro
escondido dentro dela.

O lado obscuro do tempo

O lado obscuro do tempo galga o espaço
ainda duas esferas despernadas
rolam à frente da tempestade

em flores de cactos e microfones
empastados na mira duma geringonça
falhada a dois tempos e na maior

parte do espaço foi dela
a ideia de começar a pregar o
esboço do futuro tempo a dois espaços.

fartos espaços e cães à volta

O cansaço toma conta das pernadas
à fartazana a pés juntos e nas ligas
milionárias tá com uma ponta de
equilíbrio ébrio os desafios à luz
na primeira de fora a três por um
garfos oblíquos e pestanas a pataco
monte Abraão no tecto da casa
abrolhos ferrados na montra
fartos espaços e cães à volta.

Sunday, November 11, 2007

O rei Juan Carlos e o plebeu Hugo Chavez



O Rei Juan Carlos perdeu o verniz. Mandou calar Hugo Chavez intempestivamente. Aqui pensamos em razão. Mas não está em causa a razão. Apenas que acham que o Venezuelano é um homem exótico, que chamou fascista a Asnar demagogicamente, embora o homem evocado seja direitista não vamos chegar a esse ponto ideológico. Assim também se chamaria a Hugo de comunista, o que não é o caso.

Zapatero na tal reunião convocava ao bom senso. Afinal também defendia o seu conterrâneo. Antes de mais Zapatero era espanhol. Como antes de mais Daniel Ortega era Sul-americano.

Estavam definidos dois campos. Espanha por um lado, América Latina por outro. O que se deve dizer que essa cimeira Ibero Americana é um mito. Talvez criada pelo antigo colonizador para manter os "laços". Não se mantêm laços. A ideia é ter um pé dentro.
Não faz sentido sequer Portugal fazer parte de tal cimeira. Com todas as boas vontades que se arregimentem não faz sentido incluir esta cimeira na agenda dos governos peninsulares. A ideia de tirar proveitos entre ambas as partes (Ibéria por um lado, América Latina por outro) é um mito. Nenhuma delas vai deixar de defender o seu lado.

O Rei Juan Carlos, embora reagindo a quente, reagiu como o pai que admoesta o filho. Nem uma coisa nem outra. Ao lado Daniel Ortega deu o seu tempo de antena ao seu companheiro de equipa.

Agora a América Latina não é menor de idade. Os espanhóis deviam saber isso. Mas não. Nem Portugal, um outosider completo. Cavaco juntamente com Sócrates foi fazer relações públicas. Para isso está bem. Cruamente bem.

É para isso que serve esta cimeira. Para negócios. Mas aí há outras vias. No entanto, o lado ibérico tem interiorizada a ideia da sua superioridade. Completamente falso. Cavaco vai dizer que Portugal já não vende produtos de segunda linha (têxteis, calçado, etc...); antes está na vanguarda a produzir equipamento que incorpora tecnologia de ponta... Que Portugal tem uma grande fábrica de automóveis... Ingénuo. Os Americanos do Sul devem sorrir com estas informações em "primeira" mão. Estão fartos de saber desses dados. Mas enfim...

Depois, Cavaco fala com o Venezuelano sobre os nossos emigrantes naquele país, como se fosse possível travar os futuros desenvolvimentos políticos que poderão ocorrer indepentemente da dita conversa. Ingenuidade. Assim, o Rei Espanhol e o Presidente Português foram interpretar cenas patéticas. Como aquela da esposa do Presidente cavaco, Dona Maria José, a declamar poemas de Pablo Neruda, reclamando para si aquela costela de intelectual que tão bem lhe ficaria, não fosse o caso de a intenção ser por demais evidente forçada a martelo.

Acho que esta Cimeira Ibero- americana não faz sentido. Antes fizessem uma Cimeira Ibérica ou uma Cimeira Latino-americana, cada uma para seu lado.

Monday, November 5, 2007

Junta médica dá barraca

Dá vontade de rir ver a tal aleijada a ir para a Junta de Freguesia apresentar-se ao trabalho e ver as idiotas da terra a ir entregar-lhe flores como se ela fosse a festejante de qualquer evento.
O ministro das finanças veio logo a dizer que ela ia para casa. Pelo que se vê as dores dela são muitas. Mas atenção! É pelo que se vê. Estou de acordo. Ela está doente. Mas que raio, fazer disso espectáculo?
Depois apresenta-se no emprego para se sentar numa cadeira, receber flores e beijinhos. Talvez se ela se recusasse a apresentar ao serviço porque não podia mesmo seria mais corajoso da parte dela. Percebe-se: não quer perder o emprego. Ora, ela transformou uma questão grave em espectáculo. Querendo escarnecer a junta médica com essa cena talvez menorize a sua própria razão.

Monday, October 22, 2007

O caso BCP e Jardim Gonçalves


A marca geral que é inserida para se obter sucesso é a camuflagem. Eu não chamo estratégia mas conteúdo genético. Essa marca é inerente aos seres humanos mas na forma social e política.

Vem a propósito o caso do BCP: Jardim Gonçalves e o seu Banco como o profeta da novidade.

Imprimia, na altura do seu surgimento, a marca da modernidade no seu Banco, e todos batiam palmas (Todos não. É uma forma de dizer. Ou seja, quem batia palmas (quem bate palmas), eram aqueles (são aqueles), que (eram) são parte do que está à tona na sociedade. O que está à tona na sociedade é a informação e a propaganda. A informação e a propaganda têm dono).

Era claro o show off. Vender e comprar dinheiro é o mesmo em todo o lado. A tarefa é ingrata. Pintá-la de novas cores foi o que o "novo" banqueiro quis fazer. Com sucesso. Porque ele não estava pintando, estava camuflando. E por fim a camuflagem veio à tona. Aliás, o que veio à tona não foi a camuflagem, foi o que estava por baixo.

O verniz estalou. Milhões de euros ao desbarato, a favorecer os filhos e os amigos, como se tem visto pelos jornais. Hoje verificou-se que camuflou perdas com recurso ao capital do Banco. 54 milhões de euros. Já se fala que o Banco está em maus lençóis. Já se fala em esquartejá-lo. Bocado para o BPI, outro bocado para o BES...

O que se vê aqui é a política económica do merceeiro travestido em iluminado banqueiro de vistas largas. Um "Case Study" que foi em tempos o fenómeno BCP não passou afinal de bluff. Oxalá que a coisa não seja cancerosa.

Wednesday, October 17, 2007

a política igualitária relativa


Fala-se que a política devia-se reformar porque a história tal como era está no fim, ou seja, se até aqui havia ideias para se transformar o mundo num mundo melhor, buscando novas formas de atingir esse objectivo com novos sistemas de governos, com novas estruturas espartilhadas por modelos ideológicos, como o socialismo e o comunismo, sendo este sistema tomado como o mais perfeito pois que se acabaria com exploração do homem pelo homem, e com o próprio sistema de classes; não haveria pobres; o estado asseguraria a sobrevivência condigna dos fracos da sociedade, etc., etc.; pois agora acabou esse sonho dum mundo melhor, essa utopia.

E o resultado foi chegar-se à conclusão que a coisa não dava, e esta imensa construção de engenharia social tinha, afinal, após décadas de vida, demonstrado que era um logro; não era possível: querer mudar de cima não é possível. E então voltou-se ao capitalismo.

Agora as pessoas concluíram que o capitalismo era o melhor, claro que envolto pelo "manto diáfano"(a) da democracia. E os capitalistas esfregaram as mãos de contentes. No fim de contas as ovelhas transviadas tinham voltado ao redil. "Agora é que é"! Pensaram eles: consumo para cima; direitos? Nada disso; não viram o que aconteceu no outro? Salários dignos? Nada disso; não viram o que é que aconteceu ao outro?

E assim esta vida levada com a convivência de um fantasma, o fantasma do socialismo por um lado; e o aperto e a chantagem do capitalismo, por outro (porque não há outro remédio, dizem as pessoas; não se pode sonhar, pensam as pessoas), trazem as pessoas em baixo, a levar cada uma delas a sua vida de consumo, apertada na carteira e sem esperança de um dia haver justiça, ao menos nesta terra.

Os políticos, ao fim e ao cabo, têm consciência deste problema, deste vazio de ideias, que as ideologias de esquerda traziam e preenchiam, e andam apardalados a prometer coisas triviais; não há rasgo. E não têm imaginação.

Na verdade, o PS é o mesmo que o PSD; O PC é o mesmo que o BE; O CDS é o mesmo que o PS e PSD. Há umas certas diferenças mas são apenas formais, nada de substancial. Por isso, resumindo, não sonhamos.

O Dr. Filipe Menezes apareceu como o terror das elites mas não é mais do que o senhor que se segue. As políticas decidem-se lá fora. As grandes linhas estão em Bruxelas. Em Lisboa precisa-se apenas dum cinzentão administrativo.

(a) Citação do Eça: manto diáfano da fantasia

corre mafarrico


Corre mafarrico na estrada pelada
de bombas e ananás em lata
mal a morte e tubagens camufladas
nas intercalares montanhas a norte

A um desejo e três matérias
uma mulher a pedir selos e carimbos
a testar o vento gelado da serra
nas suas pernas à mostra
como tudo o mais nesta terra

Dizer

Dizer é fácil
pior é encontrá-las

as palavras

não está em forma

Não está em forma
concreta

E as formas estranhas
mais do que as substâncias
enjoativas filhas
de Matusalém

Tuesday, October 16, 2007

deslizam

Deslizam no azeite da rampa da estrela
os noventa e cinco carros de guerra
um dos cem aparece na escala de partida
e outro dos iguais depressa alinha

Armas ferozes um dia não são
apenas roncam corações metálicos

o sonho

O sonho parado numa estação atmosférica
o punho no nariz e o sangue a correr
e uma dose de comiseração ao fundo
riscos de novas inundações a montante
a ver os ventos solitários na valeta

atravessam transversalmente

Atravessam transversalmente os
travessos cadinhos e esforçados
a cantos de uns e vistos a lume
na entrada e na seguida moral
a uns nomes dados a outros tirados

MILLENIUM/BCP

O BCP está metido num molho de brócolos e não sabe como há-de sair da crise. Talvez se perceba agora a luta encetada por Jardim Gonçalves contra o seu delfim pelo controlo do Banco. Controlo. Controlar a situação ao pormenor. Ao contrário do que ele disse: "as relações com os clientes não passam por mim", mais ou menos assim, seria com certeza do seu conhecimento os problemas porque passavam as empresas do filho. Claro que ele deveria saber. Quem é que acredita que uma situação dessas, já para não falar do montante envolvido, não era do conhecimento do senhor presidente? Parece que o senhor Jardim Gonçalves considera o público estúpido. Aliás, acho que foi sempre dessa maneira arrogante que tem olhado o público, como se fosse ele o grande inspirado por Deus.

Sunday, October 14, 2007

guerras abertas


Guerras abertas nos palcos do mundo
e nos subterrâneos dos venenos
as verdadeiras razões escondidas
nas casas fortes dos objectivos
verdadeiros ainda que inúteis

acaba por se expor

Acaba por se expor ao limite do nada
o vazio do destino obrigado à errância
ainda que sobre ele se elevem montanhas
livres de dobrarem este dilema inquietante
onde o fim não tem sentido nem limite

mil palavras

Mil palavras nas solenes reuniões
a umas devolvem o som da compaixão
a outras descendo o som da morte
e nelas todas a carne do ouvinte
transformado no ouro de
de Deus em forma de muralha guerreira
defesa de ressonâncias ou actos
das formas inusitadas

Friday, October 12, 2007

bode espiatório


Talvez os bodes de corações negros
mas de duas pernas cagaceiras e
bastões na forja ardente
talvez prepotente
maneiras diversas de ver
a mesma coisa incontroversa
viceversa na travessa
dois diamantes postos
e impostos aos vermes

sem querer

Sem querer me censuro
inadvertidamente
o meu sexto sentido
volta a bailar
não podemos
desrespeitar

memórias


Memórias antigas
à mistura

fedorenta e bafienta
da natureza dos dejectos
com base em palpites
despejados pelo primeiro
a mandar a boca de que
os que dizem mal são os comunas
e voltamos lá ao salazarento
que os que faziam mal eram os comunas
o primeiro busca bodes expiatórios
como o outro de triste memória
e a seguir pumba caixão à cova
polícia no sindicato a farejar
como os cães rafeiros
que não têm culpa coitados
dos que fazendo desacatos
são aqueles que mandam
e não os mandados

Tuesday, October 9, 2007

a polícia no Sincato dos Professores, na Covilhã


A polícia entrou no Sindicato dos Professores na Covilhã para recolher informação.

Sem mais nem menos aparece a polícia a entrar abusivamente nas casas das pessoas.

Lembra-me uma vez em que estava eu na Sextante, uma cooperativa livreira, em Ponta Delgada, e apareceram-me lá dois polícias da PIDE, que me levaram a mim e outro colega para a sede deles, juntamente com os ficheiros, numas caixas, com os nomes dos sócios da cooperativa.

Claro, foram ver de informação... Como a polícia hoje diz: foram em busca de informação. Para quê?

Talvez a comparação seja abusiva, mas estas semelhanças de procedimentos saltam à memória com preocupação.

Monday, October 8, 2007

O barão Eurico de Melo


O senhor engenheiro Eurico de Melo desceu do armário das velharias onde estava arrumado para mandar postas de bacalhau com todos acerca do presente estado do PSD.

Muito zangado contra os que se auto intitulam elites; que se devem ir embora em vez de estarem a lançar achas para a fogueira no partido; que os ditos, dizia ele, lá por terem mais dinheiro, serem comentadores disto e daquilo, não são mais do que aqueles que sendo militantes, não são nem comentadores nem são ricos; Que os "Pachecos Pereiras" que põem as setas com as pontas viradas para baixo se devem ir embora.

Ou seja, o senhor engenheiro Eurico de Melo lá fala de alto, o tal que sendo quem é sempre foi conhecido como o barão dos barões do PSD, vem agora armado em humilde basista, escondendo a sua natureza elitista, avançando com argumentação populista.

Parece aberta a caça às bruxas no PSD; acerto de contas?!

Tuesday, October 2, 2007

energia de muito alta tenção


O presidente da REN, Sr. José Penedos, disse na televisão que a questão que os moradores estavam a colocar em relação ao problema da rede de distribuição de energia de "muito alta tensão" era artificial, uma vez que havia medidas tomadas que salvaguardavam os inconvenientes apontados, e que as pessoas apenas colocavam uma "dificuldade".

O homem falava precisamente como se fosse uma questão de vida ou de morte o dever dele de fornecer energia ao país e como tal quem se deveria sacrificar eram os outros, os tais moradores que viam os seus lares invadidos por aqueles monstros sonolentos a roncarem a toda a hora e a envenenarem o ambiente à volta.

É sintomático a maneira como essas pessoas alcandroadas a postos de poder se arroguem, como prioritário, cumprir os seus objectivos, os seus fins, que segundo eles são altruístas, recorrendo a todos os meios à sua disposição e melhor a custos mínimos para eles, mesmo que, pelo meio, sacrifiquem alguém, como sejam os moradores e as suas casas.

Thursday, September 20, 2007

Tropa de elite


Li no suplemento P2 do público um artigo sobre o filme Tropa de Elite, de José Padilha. Segundo Nuno Amaral o filme denuncia a hipocrisia da nossa sociedade
espartilhada em conceitos dualistas, ou seja: branco, preto; fogo, água. Na verdade entre o branco e o preto há o cinzento. Faltou-me dizer: bons, maus.

É conveniente para as nossas consciências ter estas noções bem distintas. Dormimos descansados quando sabemos que pertencemos ao grupo dos bons, sendo os maus os culpados.

Mas esquecemos que é com os nossos pequenos actos quotidianos que alimentamos a nossa vida e ao mesmo tempo sem o sabermos as dos outros. Assim, quando a grande maioria do consumo de droga está na classe média, é essa que alimenta toda a engrenagem que vai desde os produtores aos traficantes.

Claro, os bons que promovem as manifestações contra a violência e a droga não sabem desse facto, ou preferem não saber. Assim como os policias, que supostamente deviam reprimir a engrenagem, também envolvidos pelas mais diversas razões nessa bola de neve, não sabem que fazendo parte dos bons passam a maus.

Ao fim e ao cabo o que acontece na nossa sociedade, por ser ela como é, e porque lhe convém, é manter as coisas em pão pão queijo queijo; o branco é branco e o mau é mau. Nada mais falso.

Estou ansioso por ver o filme

Tuesday, September 18, 2007

calendário

Calendário obrigatório a um terço do país
a um lado o garfo e a outro o bandoleiro
servido de quarto rápido e trinca milha

forcados apesar das reticências

há uma vítima

Há uma vítima
fechada ontem
e os dadores
à borla
e a balanços
despedem
a bom preço

cabeças andantes

Cabeças andantes
aletaóriamente
saltitam
aparatosamente

crivadas

Crivadas e degoladas
as criaturas deitadas
no mármore brilhante

presas

Presas
às que se seguem
as correntes

não se solta

Não se solta a mão
em tempo
e os trocos
na algibeira
dados de graça

PSD A VOTOS


O PSD vai a votos. Digladiam-se os dois personagens principais. Menezes e Mendes. Um diz que as bases é que sim. O outro diz que as bases é que sim mas também.
Claro, vê-se o jogo claramente.

Aqui o interesse está em verificar qual dos dois consegue vender melhor o seu produto. Aqui há poucos princípios. Pode-se dizer que um tê-los-á a mais do que o outro? A que propósito? Já vimos que não.

Basta o rol de trapalhadas espalhadas na praça pública. Uma das quais, o financiamento do partido pela SOMAGUE. Viu-se a reacção. Percebe-se que para eles, por exemplo, a questão da corrupção é alguma coisa que não se percebe como acontece.

Ao fim e ao cabo o que eu acho é que a população está-se nas tintas para eles. E também é esse o desespero do PSD. Percebe que às tantas será residual.

Porque é um partido que me parece não conseguir manter-se à tona sem a muleta do poder. Fora dele perde argumentação, a partir do momento em que o PS com esse elã de reformas liberais, que o PSD não enjeitaria se fosse poder, fica sem armas de arremesso, reduzido a escaramuças sem sentido e disparatadas.

Monday, September 17, 2007

repetida rotina

repetida
rotina
enterrada
possivelmente
nunca

Brilhante presença de Telma Monteiro no Mundial de Judo a decorrer no Brasil.

Obrigado, Telma. A tua medalha de prata é medalha de ouro. Sem favor. A chinesa teve sorte.

É a conjugação de factores que faz a vitória. Ou a derrota. A sorte não se controla.

Gata orgulhosa, em dojo verde e vermelho, serás campeã olímpica!

Sunday, September 16, 2007

carta

carta não
e-mail não
palavra não

linha --------------------------------------

redemoinho

Redemoinho
e uma palavra
no rosto
fechado

Na Bondade
a Maldade
lado a lado

tribo

Tribo avistada
na distante parada

Agarrado à ganância
o Disfarçado
dispara Amor aos molhos

E a Fome
dispara



silvas

Silvas e pó
nas folhas

ressequidas

No outeiro
a casa de mármore

fidalga e só


Thursday, September 13, 2007

coração


Coração novo
de guelras ao peito
a fumegar estarolas

e mezinhas
cor de burro

quando foge
a morrer à frente

de todos
precisamente na hora

cadeiras

Cadeiras de madeira de cedro
a meses de distância efémera

a um toque a melodia dos ferros

e a circunstância dos guerreiros
na casa a norte

a mesa de pé de galo
e as luzes do tecto indiferentes

o sitio

O sítio à beira da laje
deitada na terra lavrada
por dentro uma fenda
por fora um degrau

A quantas garrafas
contadas
a partir dos cacos delas
escaqueiradas a montante
do rio de águas vivas

apenas

Apenas o tempo
a caminhar
numa linha
de A a B
e as perguntas
eternamente
por responder

Depois somos velhos
e as questões
formam infinitos
rios de memórias
consagradas
ao fundo
do esquecimento

camarão

Tinha um arranhão
na ponta da língua
e um camarão
na entrada dos ouvidos

A um diz não
e a outro não diz

cenouras

Cenouras vitaminadas diariamente
à força de recados celulares
na paródia dos bem alimentados.


Saúde de cão ranhoso
a um canto desengonçado

a estrada vazia

A estrada vazia
todo o dia

A um passo do mito
a perna partida
do esqueleto

direccionado


Direccionado do desconhecido meio
buscam as penas do inferno
os desmembrados

Na imobilidade dos rostos fechados
os segredos arranham a carne
e os gritos contidos
matam aos poucos
a alma quieta

rara a noite

Rara a noite tranquila
a não ser a onda alterada
de ir e vir imprevisível


O ambiente urra silêncio
calcado no fundo
da solidão mais triste

Wednesday, September 12, 2007

O Dalai Lama

O Dalai Lama vem a Portugal e o nosso governo não o recebe. O nosso ministro dos Negócios Estrangeiros disse que o não recebia pelas "razões de todos conhecidas". Eu não conheço "as razões". Acho que ninguém conhece. Pela simples razão de que não há razão nenhuma para o não receber na sede do nosso poder político. As razões invocadas serão de ordem funcional, não de ordem constitucional. Dado que o nosso sistema politico e de direito tem o dever de receber quem é vitima de abuso de força. A China é um gigante, o Tibete é um anão. Mas esse facto não dá o direito do abusador se arrogar de virgem ofendida, porque não é. Nem dá o pretexto para pressionar os parceiros de negócios. Talvez por isso o nosso ministro seja ministro de "negócios... estrangeiros"

Monday, September 10, 2007

abraços

Abraços fraternos
como frutos
maduros
tombados na terra

Em contas futuras
esquecidos prantos
acabados

garras

Garras estranhas de última hora
em moradas sedentárias acabam
a remoer as sonâmbulas
mortes desaparecidas
em mil pontos do céu

noite

Noite indizível
na cena inteira
a deixar filhas
perto das fileiras
das espadas
apontadas

Sunday, September 9, 2007

FLEXISEGURANÇA


Hoje ouvi Jerónimo de Sousa a discursar na festa do Avante contra a flexisegurança. Ainda bem. Mal é o partido comunista pensar ainda que 1917 represente a utopia e que comemorar a data signifique o reforçar de projectos políticos que terminaram.

E são verdades as transformações que se têm verificado ao nível dos conceitos, em que as classes dominantes tentam com palavras arrevesadas camuflar as suas verdadeiras intenções.

Interessa-lhes gerir as suas necessidades de força de trabalho segundo os ciclos económicos, ou seja, não terem qualquer compromisso com os empregados: quando o mercado falha, trabalhadores para a rua; quando em alta, trabalhadores admitidos. É a onda. É a maré. Enche e vaza. Mas, claro, há que arranjar, supostamente, um esquema que permita que o conceito funcione pelo lado da segurança. Segurança, almofada, para-quedas. E quem paga essa almofada? Os próprios trabalhadores, enquanto trabalham, com os impostos deles, ou seja, o Estado, que é vitima constante da fuga aos impostos dos que deviam pagar a tal "segurança".

Jerónimo de Sousa tem razão, a flexisegurança é uma armadilha. Assim como Mário Soares.

Não nos enredemos nessas palavras que só levam ao engano. Vejam só! Normalmente, aos trabalhadores duma fábrica, dum escritório, dum Banco; do sector terciário, secundário, primário, seja o que for, não lhes chamam trabalhadores - aqueles que trabalham para alguém, mas colaboradores, aqueles que colaboram com alguém.

Ora, colaborar não significa o mesmo que trabalhar. O facto é que utilizam as palavras para criar a realidade. Deturpam dessa maneira o real. É o que tentam fazer com as palavras que vão inventando. Deturpam a realidade ao deturpar o significado das palavras em proveito deles.






Friday, September 7, 2007

PORTUGAL


Portugal está a viver, com o drama de MADIE, o drama da sua identidade.

Agora está-se a chegar a certas conclusões nada agradáveis para os pais da criança. Em todo o caso, haja morte ou vida, ninguém gostaria de estar na pele deles. É terrível o que lhes aconteceu, o que lhes está acontecendo. Seja qual for o resultado final das averiguações nunca mais serão os mesmos.

Mas o que eu queria era chamar a atenção, como uma consequência subreptícia, larvar, que se tem verificado ao longo destes meses, e que é a de vir ao de cima uma certa maneira, e mania, de ser britânica.

A imprensa desse país olha-nos de certa maneira como alguém com alguma bitola abaixo da deles; pelos comentários pejorativos acerca da nossa policia, do nosso sistema judicial, do nosso modo de ser; pela maneira como falam em território português (nem se dão ao trabalho de falar português, ou de pelo menos ter alguém que fale português por eles).

De repente há o espanto! Afinal quem somos? Parece que somos aqueles índios nus, ignorantes, uns selvagens do sul da Europa.

Salvo as devidas comparações, esse pequeno mal estar existe. Ou será que não existe? É apenas imaginação?



formas

Formas e normas escaqueiradas
a um bom preço de cão de forma
aberrante contrapasso e babão
opressivo catalisador de merendas
e limões naturais em moedas
de cinco noves fora nada

os ruídos

Os ruídos e os sons distintos
nas ruas desimpedidas

A girar na ponte de ferro
a perfeita linha

Thursday, September 6, 2007

prisioneiras

Prisioneiras
do silêncio
as vagas
abandonadas

Wednesday, September 5, 2007

torrentes de lava

Torrentes de lava
a leste da terra
forças diferentes
no destino anunciado
a pé de roda da mesa
os cintos de castidade
travessas de melão
e queijo ao menos
na estreia do mês
as virgens a mês
e meio de distância
inolvidável
alertadas as cagarras
esperneiam à vontade
isca de cagarra

a segurança

A segurança
em portos
antigos

Aves estranhas
vigiam
os cantos à casa

Têm bicos d'aço
e fornos
nas orelhas

o ar

O ar
nos pulmões
e as veias
na alma

em duas horas

Em duas horas
os espaços maiores
emperrados
na madeira
de pinheiro
e voz de lume

por mim

Por mim
e antes
de ti
as garras
de leão
pimenta

zanga

Zanga de alguém
remoendo
as moelas
de galinha
nas entrelinhas
fogo e garça

Tuesday, September 4, 2007

JUDO

JUDO

GRUPO VITÓRIA DE SANTO ANTÓNIO






Estão abertas as inscrições.
Nas instalações do GRUPO, em S. António, ou pelo telefone 936628882

Horários:

das 18H30 às 19H30, segundas e quartas, dos 6 aos 10 anos

das 19H30 às 21H30, segundas, quartas e quintas, a partir dos 11 anos

Monday, September 3, 2007

brilha a palavra

Brilha a palavra
na água
nos olhos
de quem viu

ordem

Ordem inversa
escusadamente
inspirada
nas meias palavras
dedicadas
às cinco
maravilhas do mundo

buscas

Buscas policiais
no lixo julgado
à porta
soberano
naturalmente
culpado

os veios

Os veios
escolhidos
donde
nascem
as franjas
lineares
cânticos
de dia

rir no sério

Rir no sério
a deitar
no chão
as boas
normas
ditadas

Saturday, September 1, 2007

A Somague e o Dr. Barroso


É incrível o cinismo dos dirigentes do PSD a tirarem a água do capote à pressa, aligeirando responsabilidades no cambalacho do financiamento de campanha do PSD.

Percebe-se de caras que não é de graça que se financia partidos. Algum retorno terão de ter os financiadores. Todos nós estamos de acordo em relação a estes mensalões à Portuguesa.

É curioso observar a reacção do Dr.Barroso, que quando lhe falam no assunto perde a cor, e em vez de Durão é Fracalhão, endossando responsabilidades para alguém de segunda divisão, que ainda por cima se encontra doente.

Berbicacho de todo o tamanho para o Dr. Barroso - que ainda há pouco tempo recebeu um galardão importante na Alemanha -, a ter de engolir um sapo do caraças.

E ele que pensava que ia ficar descansado, que a coisa não lhe chegava.

Que pena! No remanso do seu cargo cai-lhe em cima esta suposta ninharia virtual. Chateia...

Friday, August 31, 2007

os ratos de Espanha


Era engraçado ver as pessoas culparem o governo por causa da invasão dos ratos de Espanha, a cumprir-se o ditado: de Espanha nem bom vento nem bom casamento.

Era ver o Marques Mendes a catalinar contra o Sócrates por esse não parar a invasão dos roedores crivados de gordas moscas verdes de criar bicho, e os apaniguados atrás a pescar de fundo, todos ao mesmo tempo a pedir umas lecas ao bom do Sócrates para colmatar perdas.

Mas claro não nos devemos regozijar por pragas que não se dominam, salvo as devidas distancias os opositores do nosso primeiro teriam remendos para mangas, porém o que for justo se verá.

Satisfeitos na mão do depravado Estado não se consolem os oponentes a ver como argumento de ataque os prejuízos maiores nas terras do planalto.

Thursday, August 30, 2007

fogo na Grécia


Fogo, terra, água, ar. Quatro elementos da vida. A vida deriva deles. Ou a vida não deriva deles? Há hoje uma aproximação cada vez maior a esses elementos. O aumento da população mundial obriga a fazer o seu uso intensivo de forma desregrada.

O descontrolo surge sobre a forma de incêndios gigantescos, furações, inundações, deslizamentos de terras, descongelamento das calotes polares.

O homem desvia o essencial da tese para problemas possíveis de controlar por meios racionais. Na verdade o irracional, o caos, não tem controlo.

Na Grécia, o Governo grego procura os culpados. Iremos dizer que há pirómanos, há
interesses imobiliários, há interesses de outra natureza, ou não há interesses...

A questão é mais do nosso próprio suicídio colectivo. O Homem, na América, na China, em África, etc. contabiliza catástrofes umas atrás de outras.

É uma desgraça terrível. Lamentamos as mortes.

Wednesday, August 29, 2007

ventanias


Ventanias ameaçam
os efeitos
tecnológicos
dominantes
na base
aérea

As suricatas

comem os escorpiões
consoladas
no areal
inóspito

guardas
dos filhos

caracol

Caracol arremete cornos
esticados à boa maneira
anglicana e franciscana

Os dentes de cobra
pelada
gaguejam
o veneno perfeito
para ministrar
ministros

correspondência

Correspondência directa
de pés para a frente
na primeira vigência
da taça dos campeões

Devagar também as lentes
de ver ao longe rachadas
de belo efeito secundário

o que é que engana

O que é que engana
a palha de vaca
na fogueira estranha?

Castidades vendidas
com as correias
de coiro e bosta
de carneiro
invertido

Lava moinhos
de vento às
mil rotações
mínimas

Monday, August 27, 2007

felino

Felino
de passos
esguios

de telemóvel
ao ouvido

porte de classe
por enquanto

o perfil
ideal

os sapatos

os sapatos
irritados
cansam
as lagartas
ao sol

num barco

Num barco
é assim

a ilha

no intervalo


especial

AMS

A moral solta
na mesa em cavaletes
as pernas e as gavetas
a seguir os degraus
de madeira

à porta garras de leão
batem com os queixos
nas trezentas gaiolas

os plátanos abandonam a
sombra das aves

JPL

justificada pela linguagem
a travessa na estrada

eles e elas no mesmo
montante acertado

no mesmo dia felizes
cerejeiras e paus de bucho
certeiros nos muros
de pedra solta

CMA

Carteiras nas montras abertas
à mistura com ganchos de ferro
e uma dúzia de mal amados
a menos que a norma
estranhe os depósitos
de acetona nas vinhas

Sunday, August 26, 2007

eduardo prado coelho

Não o conhecia pessoalmente mas lia os seus artigos que publicava nos jornais e percebia que era uma pessoa que gostava de discutir, de argumentar, de falar (escrever) sobre a politica contemporânea.

Sustentado no que ia lendo, nessa discussão militante, ia citando os autores que eram ferramenta do seu raciocínio. De muitos desses autores não ouvira falar (Barthes,Bordieu, Foucault, Derrida,Deleuze, Steiner, Celan...)e foi graças a ele que comecei a contactá-los.

Saíra do casulo universitário e trouxera informação à "plebe". Mais que não fosse fico-lhe grato por isso.

Espanha


A polícia espanhola e portuguesa andam à cata de etarras para os meter no xadrez. Vê-se que Espanha, a grandiosa, não é tão grandiosa como isso. Afinal de contas, o parvo do Saramago, armado em profeta, queria meter-nos na sua Espanha só porque eles lhe passam a escova.

Pobre gente armada aos cágados porque alcançaram os píncaros. Mesmo que façam merda julgam-se desculpados. Ou melhor, é o velho conto do rei vai nu.

Dito isto, falando a sério, estas questões estão mal resolvidas e toda a gente sabe isso. A Espanha gloriosa, imperialista, acabou, e só será, como tem sido, se mantiver as suas fronteiras, a do domínio castelhano, esse núcleo fundamentalista que deu origem a toda a ambição imperialistas e colonialista.

Espanha nunca terá descanso enquanto o domínio de Castela não terminar, ou seja, as nações que a compõem têm de ser como nós um dia.

A não ser que se faça a coisa por via mercantilista; com o esbater de fronteiras o domínio passe para outras formas, ou deixe de haver domínio político para haver domínio económico. Aí deixará de fazer sentido as nações nas fronteiras de Espanha.

barco de pedra


Barco de pedra
nunca vai ao fundo

nas tranças
da grande
cabeça de melão

bicicletas
e teleférico
na mó de cima

à sombra de
pinheiros mansos
linhas de rumo

cavalgadas de burros
e vulcões faz de conta

Saturday, August 25, 2007

não se solta

Não se solta
a mão que agarra
a pena

Falta a destreza
alinhada
com a alma

peras

Por vezes ricas
pêras

e cores
iluminadas

escadas

Escadas
de tijolo


onde
ler um livro
sob a aragem
da tarde

eduardo prado coelho

Seria a roda

estrangulada
pela morte

Se o tempo
fosse agora

Friday, August 24, 2007

há um ponto


Há um ponto só,
infinitesimal,
onde é possível estar
nos dois lados do tempo...

Ou não há qualquer
que seja agora.

Apenas passado e futuro.

Eis a minha dor,
porque o passado acaba
e o futuro nunca começa.

Esse agora é uma ilusão
a que se agarram os náufragos,
como se fosse a derradeira
bóia de salvação

mas a verdade

Mas a verdade é que nada
é verdade e na mesma
voz o cadafalso
está vazio


Segundos depois
as laranjeiras
deixam para si
as canseiras

Ou as vertentes
lavradas num beco

escondidos os
anéis em papo-secos

saber o destino

Saber o destino certo em cada instante
soprar a poeira acumulada nas gavetas
ir nas vagas abertas do vasto horizonte

Correctamente estender uma linha de pesca
com os anzóis d'aço espetados nas gargantas
dos peixes incautos de caudas amarelas

sai a palavra

Sai a palavra marcada
na parte superior
da parte inferior
a poder de analgésicos
pedidos com urgência

Vestida à frente
do homem de cara
virada para trás
para assustar
leões comilões

todas as pedras

Todas as negras pedras
se despem de preconceitos
na véspera de morrerem

Espelhos crepitam no fogo
pela noite dentro

Os cães a ladrar
à distância

espremidos
pelo cansaço

Thursday, August 23, 2007

as massas

As massas atrás das labaredas

Passageiros e máquinas
ligadas ao umbigo
do vento
contra a água

crateras

Crateras e pontas de cigarros
varridos rapidamente

As pedras da calçada
rente às paredes
poisadas

mesa de frango

Mesa de frango real
e papel e lápis
para preservar
a cena estatística

Ao mesmo tempo
as garrafas
fora os quilos
nas ruas apinhadas

Entradas nas lojas finas
os mais ricos continuam
a sua labuta diária

horizonte

No horizonte os olhos cavados
com vontade de que o mundo vire do avesso

Com ligeiras aves planando nas suas vidas
os gigantes entram na esfera celeste
no espaço das ondas nervosas

Wednesday, August 22, 2007

rostos

Rostos mais ou menos sedutores
anjos de dentes brancos como cal
toda a gente é assim
deve ser assim

De repente a ave empobrece
repentinamente suja e anarca
torna o leme o rumo do diabo

Se tomasse um banho de anis
e fosse limpinha
ficaria entre anjos e arcanjos

De nada vale ter por dentro
aquilo que por fora é falso

Há aquele que é bom
e mostra ser bom
aquele que é mau
e mostra ser bom
aquele que é mau
e mostra ser mau
aquele que é bom
e mostra ser mau
e assim por diante

mas o ideal é ser mau
e mostrar ser bom
com os dentes arreganhados
prontos a disparar
uma boa disposição
alarve

normalmente

Normalmente anda no ar
o ar incerto das ventas
dos disfarçados de bons

Quando se vai ver o fundo
a merda é tanta que
deita fora as tripas

Todos os mascarados têm
um álibi indiscutível
nas suas tocas variáveis

duas vezes

Duas vezes antes
da maré baixar
correu ao horizonte
a guilhotina das aves
levada no beijo
d'aço moldado
ao vento louco
que devassa o céu

haja luz

haja luz!

E as mulheres
e os homens
que se dizem
não são
aquilo que
mostram
ciosamente

antes
o contrário

fossilizado
em ódio
ao pobre
imperfeito

margem

Margem de erro
numa mão cheia
de arroz carolino

Em viagem
de sangue

à sombra do Sol
a pequena mão
magra

quase perfeitos

Quase perfeitos
catamarães
à bolina

Em mar riscado
de brancas
espumas
delirantes

Cavalgadas
arrepiantes

ar fresco
nos pulmões

Tuesday, August 21, 2007

VERDE EUFÉMIA


Os transgénicos trouxeram à opinião pública o rosto clandestino do fundamentalismo. Ou seja, o fundamentalismo navega à direita ou à esquerda, segundo o objecto da paixão. Pode dizer-se que o que é mau não é ser-se de esquerda ou de direita mas o fundamentalismo que assume foros de terrorismo.

O terror serve para amedrontar as pessoas, e, amedrontadas, não fazerem aquilo que queriam fazer. Assim, para o próximo ano, julgam esperar os "verdeeufémia" que os agricultores não plantem milho transgénico, porque supostamente terão medo; assim como os outros terroristas, colocando bombas, julgam esperar que o rumo da história pare.

Sendo por vezes a argumentação ideológica de boas intenções, a maneira de a levar à prática borra a pintura e iguala-se aos outros de quadrantes contrários que pretendem combater; ou então, será que a intenção era mesmo essa? De levar avante aquilo que em princípio dizem combater: a plantação dos transgénicos em economia de escala?

Monday, August 20, 2007

Castros antigos




Castros antigos
na desolada paisagem

Altos destinos
vertiginosamente
abrigados
das investidas
dos elefantes

Prontos os
foguetes
no ar quente
espantando
os pássaros
de asas solenes

gente "bem"

Gente "bem" não se distingue
dos outros a não ser
por alguma plumagem
ligeiramente mostrada
para marcar posição

Retorcidos processos
utilizados para desenhar
igualdade à força

São aqueles que se dizem
deserdados como os outros
que escondem a sua mentira

Porque fica bem
à gente bem
politicamente bem
essa forma ilusória

astronautas

Astronautas a viajar
com as meias rotas

Tramados esqueletos
perseguidos no mar

Frente de combate
desigual nas águas
ultramarinas

Gente em cascas de nós
assaltam a fronteira
da abundância
ainda que não saibam
a verdade

tinha a certeza

Tinha a certeza
da distância
do vento
ainda que lhe chegasse
às primeiras horas

Quando o Sol se aninhava
no horizonte
na timidez dos primeiros passos
e alguém chamava

Claros movimentos
do nascimento
no rosto desagalhado

Sunday, August 19, 2007

superficies



Superfícies
de lábios
e peles sedosas
garrafas d'água
a tiracolo
a viajar
atmosferas
ilusórias
e felicidade
ao preço
de nada

contornos

Contornos de
longínquas
guerrinhas
a descambar na
fossa onde
os ossos
contaminados
nem assim
descansam

sombrias faces

Sombrias faces
querendo parecer
luminosas
a altas horas
raras estradas
por onde os
carneiros
passam
a olho nu

Wednesday, August 15, 2007

pele de boi




Travões a fundo
e faíscas soltas
bravos touros
pele de boi casacos
e lamparina
bandarilhas

Brilho e músculos
fálicos e nervos
na frente de batalha

Morte alheia
ovo de escabeche
quem serve melhor
carne e geleia

Tuesday, August 14, 2007

Tribuna inglória



Tribuna inglória
num dia de Verão
e as moças
do chão
da mão
lentos dedos
leves ventos

Coração verde
na idade premente
quer verter
a mágica luz

Tantas ervas de cheiro
no jardim da infância
uma directa palavra

Merece alguma vitória
crueldade e pele de pato

Monday, August 13, 2007

temperatuva da água



A temperatura da água
baixa e logo os selváticos
procuram dez toneladas
de peixe fresco

Cantareiras vegetarianas
ao monte vão buscar
um telemóvel para avisar


Os torresmos estaladiços
nas bocas abertas
dez centímetros
ao meio das ladeiras

Os vistos de entrada
correctamente alinhados

Sunday, August 12, 2007

Triviais maneiras

Triviais maneiras a gente usa
entre a indiferença geral
o cão morto no
caminho de terra

Ladeira na serra
bordejada por
acácias e pinheiros

Cheiro adocicado
de gato morto
e moscas à volta
picando
a gente que usa
a gente que passa

Bertolt Brecht (a)


Se os tubarões fossem gente (a)

"Se os tubarões fossem gente", perguntou ao senhor K. a miudita de sua senhoria, "não eram mais amigos dos peixes pequeninos?" - "Claro que eram", disse ele. "Se os tubarões fossem gente, mandavam fazer no mar umas casotas espectaculares, cheias de coisas de comer, tanto de plantas como de animais. Haviam de ter todo o cuidado para que as casotas tivessem sempre água fresca e acima de tudo haviam de tomar todo o tipo de medidas sanitárias. Se, por exemplo, um peixinho se magoasse nas barbatanas, faziam-lhe logo uma ligadura, para que o peixinho não lhes morresse a eles, tubarões, antes do tempo. Para que os peixinhos não andassem desconsolados, haveria de vez em quando festas aquáticas magníficas; é que os peixinhos bem-dispostos sabem melhor que os desconsolados. É claro que também haveria escolas nas casotas grandes. Nestas escolas os peixinhos haviam de aprender como é que se nada na bocarra dos tubarões. Haviam de precisar, por exemplo, de Geografia, para poderem ir ter com os tubarões, que andam por aí estendidos a preguiçar. É evidente que o mais importante seria a formação moral dos peixinhos. Ser-lhes-ia ensinado que a coisa melhor e mais linda que havia era um peixinho sacrificar-se com alegria e que tinham todos que acreditar nos tubarões, em especial quando eles dissessem que haviam de preparar-lhes um futuro risonho. Os peixinhos seriam levados a perceber que este futuro só estaria assegurado se eles aprendessem a obediência. Contra todas as inclinações indignas, materialistas, egoístas e marxistas teriam os peixinhos que se precaver e informar imediatamente os tubarões no caso de algum deles dar mostras de qualquer destas inclinações. Se os tubarões fossem gente, também fariam naturalmente guerra uns aos outros, para conquistar casotas e peixinhos estranhos. As guerras, mandá-las-iam fazer pelos peixinhos deles. Fariam ver aos peixinhos que entre eles e os peixinhos dos outros tubarões havia uma diferença abissal. Os peixinhos, proclamariam eles, são mudos, como toda a gente sabe, mas estão calados em muitas línguas diferentes, e daí que seja impossível compreenderem-se uns aos outros. Cada peixinho que matasse na guerra meia dúzia de outros peixinhos, dos inimigos, dos calados numa língua diferente, haviam de condecorá-lo com uma medalhinha feita de algas e atribuir-lhe o título de herói. Se os tubarões fossem gente, haveria naturalmente entre eles uma arte. Haveria belos quadros, em que apareceriam representados os dentes dos tubarões, em cores fabulosas, as bocarras quais jardins de deleite, onde é fabuloso andar a brincar. Os teatros no fundo do mar mostrariam peixinhos heróicos, a nadar entusiasmados pelas bocarras dos tubarões dentro, e a música seria tão bela que, aos seus acordes, com a banda à frente, os peixinhos, sonhadores e embalados em pensamentos estonteantes, se percipetariam aos magotes para dentro das bocarras dos tubarões. É evidente que haveria também uma religião, se os tubarões fossem gente. Ensinaria que os peixinhos só na barriga dos tubarões começam a verdadeira vida. De resto, se os tubarões fossem gente, havia também de se acabar com essa de que os peixinhos, como é agora o caso, são todos iguais. A alguns deles seriam atribuídos cargos e esses seriam colocados acima dos outros. Os maoirzinhos teriam até autorização para comer os mais pequenos. Isso só dava jeito aos tubarões, que assim arranjavam maneira de comer bocados maiores mais vezes. E os peixinhos maiores, os que ocupavam um posto, haviam de zelar pela manutenção da ordem entre os peixinhos, de ser professores, oficiais, engenheiros de casotas e por aí fora. Resumindo, só nessa altura é que passaria a haver no mar uma cultura, se os tubarões fossem gente."


(a) Tirado do livro de BB, Histórias do senhor Keuner

as casas

As casas recebem o sol nas fachadas
e as caras recebem nada

Os carros descem a avenida larga
e as pombas levantam do chão espavoridas

Friday, August 10, 2007

ferrar o olho



Na verdade saber
um programa de vida
à distância
é ferrar o olho
humilde
e fazer crescer
a soberba
a cem à hora

Belos desejos
de melancia
acabada de apanhar
à hora do almoço
lá em baixo na costa
o mar a bater

Para a posteridade
basta um ferro de engomar
e a carreira de tiro
depois das onze

Alguém há-de saber porquê

calma de morte

Calma de
morte
atinge
a cidade
num dia
semelhante
ao dos
apelos
aflitos
gritados
por todos
os poros

ai a monte

Ai
a monte numa mota
de quatro
com os instintos
fermentes
e as belas
botas de cano
esticado
e correias
cortadas

dribla o marreco

Dribla o marreco a asneira
na sua linda carteira
de papo para o ar
e uma nota de cem
no sapato cheio
de buracos
para respirar

detido por violar...



Estava a ler o Diário de Notícias de hoje (07/08/10), quando me deparei com o seguinte título:"Detido por violar prisão domiciliária".

Ora, como se tem estado hoje em dia a falar de crimes de sangue; raptos; violações, etc., fiquei pregado na notícia, sem a compreender. Ou seja: o que eu estava a perceber era que: a prisão domiciliária (ela) fora violada (estuprada) por um individuo, que, por isso, fora detido. Claro que, lendo o texto, se percebia que o que se queria dizer era que um tipo fora detido por não ter cumprido a prisão domiciliária.

Enfim, o que eu tenho verificado é que jornais ditos de referência, tal como o Diário de Notícias, o Público, etc., também têm cometido as suas argoladas no arranjo de títulos pouco esclarecedores.

Thursday, August 9, 2007

a mão que mata

A mão que mata a tenra idade
esfacela a face de toda
a moralidade se fosse
à luz da lâmpada de casa
dormindo o sono descansado
na sombra dos plátanos

trabalho precário

Trabalho precário aos médicos
chegou lá finalmente a saber
o gosto amargo da desgraça
batendo à porta da tenda
olhos de gato à vista
e milho amarelo

os cães roçam as pernas

Os cães roçam as pernas dos donos
nas noites quentes das pulgas
lagarteiras e partidas ao meio
não desdenham senão as beliscadelas
das moscas sanguinárias
com as asas partidas e os ferrões
nos testículos do rei
barba-azul

a treta do costume

A treta do costume
mais aziaga matança
ao largo de Portimão
com as galinhas atiçadas
e os mastodontes
engrossando a voz
de fêmea mal dormida
Tordesilhas abaixo
da canela
e meias elásticas
na barriga das pernas
profunda sabedoria
gasganete e misericórdia

andanças



I

Olhos de águia
certas vezes
correndo
as penedias
da nossa
inocência
procurando
dar de comer
às vozes
últimas

Trazendo
os braços
leves de andanças
a hora descansa
as mãos

II

Cada um está deitado
na grande frente atlântica
partindo do principio
da igualdade salgada

Também medita a feroz
inveja pairando
nas luzes da cidade
os dias da vingança

III

Uma vez mais o Sol
deixa fazer a vontade
e os mortos desfeitos
gritam sem ninguém ouvir

Almas benditas da justiça
cega no altar do mundo
erguei a vossa metralhadora
em breve se limpa a terra

Wednesday, August 8, 2007

águas limpas



Baleias nas ilhas
em águas limpas
onde os olhos
além vão

De cima das falésias
o tempo batido
pelas aves
inquietas

À volta do espaço
as grandes margens
do espírito

Tuesday, August 7, 2007

território invisível



Território invisível
da morte das árvores
avistado do espaço
na cápsula segura

Chá de malvas
para curar


O dia
seguido de outro

Imagem transviada

estava bem

Estava bem
posta a mesa
com vista para o mar

O que quer dizer
várias coisas
ao mesmo tempo
e na mesma hora

Graças garças
voejando
ao sabor
da ventania

Monday, August 6, 2007

amostra de nada



O pensamento diverge
para o passado

Ou converge
o sentimento
intempestivo
e raivoso

Porque não se é
aquilo que se queria

E ainda nem o futuro
se sabe amostra de nada

MILLENIUM/BCP



Nunca tal se viu: o interesse que tem despertado nos meios de comunicação a luta pelo poder no MILLENIUM/BCP. Por um lado, como toda a gente sabe, está Teixeira Pinto, actual presidente do Conselho de Administração; e por outro, Jardim Gonçalves, antigo PCA, actualmente numa prateleira doirada.

O que há aqui são birras, nada do que dessa luta resulte modificará a natureza e os objectivos do Banco.

O velho PCA deslumbrou-se um dia e deu-lhe na vontade de voltar à ribalta, porque lhe estava a fazer falta a azáfama diária. Simplesmente era tarde. Quem lá estava não era tão vergável como ele teria imaginado. Agora, andam em guerrilha.

Os meios de comunicação vêm dizendo que este Banco é o supra sumo da banca portuguesa: em termos de tecnologia de ponta utilizada nos serviços; nas ferramentas de gestão, etc., etc. O que não dizem é que ele tem sido um banco feito de show of: uma imagem com cores alegres e jovens; empregados a ganharem aparentemente acima da média, aparentemente motivados e dinâmicos; todo um markting a passar uma imagem de grande renovação geral, o que na minha opinião não passava de cosmética. Lembre-se o caso de não admitirem mulheres nos seus quadros. A polémica que gerou na altura. Era o verniz que estalava em toda uma encenação muito bem concertada.

Afinal de contas, o que ele era, o que ele é, é um banco como os outros, com objectivos bem prosaicos, ganhar fatias de mercado, ter lucros, e andar para a frente.

As maneiras simpáticas são apenas para vender mais. Sempre foi assim. Não tenham ilusões. Quando dizem que foram buscar o Jardim Gonçalves a Espanha nos idos de 78 do século passado, mais ou menos, para que ele, como se fosse o salvador da pátria, propusesse um ar fresco à estrutura bancária então vigente, estão querendo levar-nos a matutar em homens providenciais. Nada mais falso.

Seja como for, que se entendam, e que o Banco continue de boa saúde. Agora digo: esta luta fratricida é que básicamnente prejudica os interesses do Banco; colocam à mostra as suas fragilidades até hoje muito bem guardadas.

Sunday, August 5, 2007

dias de merenda




Dias de merendas
na areia
e bolas de berlinde

Cabeça de fronte
aberta contra
a corrente

E limas
na primeira
linha

Diversas vezes
boias dão à costa
embrulhadas em cabos
de nylon

Foi a rede
que o mar não quis
para morte de
seus peixes

E elas esperguiçam
os seus braços
longos e bicam a água fria

E as crianças
como os marrecos
pincham esbaforidas
no mar ventoso