O texto e a poesia é tirada do livro "O Gosto Solitário do Orvalho", escrito pelo poeta japonês Matsuo Bashô, publicado pela Assírio & Alvim, sendo as versões e introdução de Jorge Sousa Braga.
"Matsuo Bashô (pseudónimo literário de Kinkasu) nasceu em 1644, em Ueno, província de Iga, numa altura em que o Japão era dominado pelos shoguns Tokugawa. O pai era um samurai de escassos recursos.
Com tenra idade entra ao serviço da família Todo. É com o herdeiro desta - Yoshitada - que se inicia na poesia. Abalado pela morte prematura do seu amigo, guarda uma madeixa do seu cabelo e parte para Kioto. É provável que durante os anos que se seguiram se tenha dedicado a estudar os clássicos chineses e japoneses.
Em 1672, encontra-se em Edo (Tóquio). Começa a impor-se como poeta (poemas seus são incluídos em várias antologias). Sampu, um discípulo, constrói-lhe uma cabana, nas margens do rio Sumida. No inverno oferecem-lhe uma bananeira (Bashô, em japonês). Adopta então o seu nome. Conhece o mestre Buccho e dedica-se à prática do Zen.
A sua cabana acaba por ser destruída por um incêndio. Refugia-se temporariamente em casa de um discípulo. Em 1684 parte para a primeira das suas mais longas viagens. Qual nuvem errante vagabundeia então por todo o Japão. Escreve alguns diários de viagens (O Caminho Estreito, O Leque Circular do Outono, o Deserto. São páginas nas quais Bashô se revela permanentemente apaixonado e confere à poesia (em poemas tão breves como o haiku) uma dimensão cósmica, sem paralelo até hoje."
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"Matsuo Bashô (pseudónimo literário de Kinkasu) nasceu em 1644, em Ueno, província de Iga, numa altura em que o Japão era dominado pelos shoguns Tokugawa. O pai era um samurai de escassos recursos.
Com tenra idade entra ao serviço da família Todo. É com o herdeiro desta - Yoshitada - que se inicia na poesia. Abalado pela morte prematura do seu amigo, guarda uma madeixa do seu cabelo e parte para Kioto. É provável que durante os anos que se seguiram se tenha dedicado a estudar os clássicos chineses e japoneses.
Em 1672, encontra-se em Edo (Tóquio). Começa a impor-se como poeta (poemas seus são incluídos em várias antologias). Sampu, um discípulo, constrói-lhe uma cabana, nas margens do rio Sumida. No inverno oferecem-lhe uma bananeira (Bashô, em japonês). Adopta então o seu nome. Conhece o mestre Buccho e dedica-se à prática do Zen.
A sua cabana acaba por ser destruída por um incêndio. Refugia-se temporariamente em casa de um discípulo. Em 1684 parte para a primeira das suas mais longas viagens. Qual nuvem errante vagabundeia então por todo o Japão. Escreve alguns diários de viagens (O Caminho Estreito, O Leque Circular do Outono, o Deserto. São páginas nas quais Bashô se revela permanentemente apaixonado e confere à poesia (em poemas tão breves como o haiku) uma dimensão cósmica, sem paralelo até hoje."
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"O gosto solitário do orvalho
"Primavera
"Farrapos de névoa cobrem os campos e as colinas. Os dias são longos, comparados com os do Inverno, e o vento menos cortante. Quando sobrevem a Primavera, as águas nos vales, assim como as cotovias no céu azul, os pássaros nos bosques e as rãs - essa tribo solene e estridente - enchem o ar de cantos joviais. O mais celebrado é o do "uguisu", um pequeno pássaro do tamanho de um pardal, castanho, com manchas brancas no peito. Aparece quase sempre associado às flores de ameixoeira, da mesma forma que os pardais aos bambus.
Além das ameixoeiras, florescem também pessegueiros, as cerejeiras e as japoneiras. As folhas destas são graciosas e os ramos adequados para os arranjos florais. As flores de cerejeira, com o seu leque de sugestões poéticas, são a flor emblemática desta estação e - mais do que isso - sinónimos do próprio Japão.
"Abrindo de par em par
as portas do palácio:
A PRIMAVERA
Uma velha sem dentes
que rejuvenesce -
cerejeira em flor
Apesar da névoa
mesmo assim é belo
o Monte Fuji
Não esqueças nunca
o gosto solitário
do orvalho
Na baía de Wakanoura
caminhando lado a lado
com a Primavera
Cansado de caminhar
alojei-me
entre as glicínias
Brisa ligeira
A sombra da glicínia
estremece
Uma rã mergulha
no velho tanque...
O ruído da água
Debaixo de uma cerejeira
tudo é servido
decorado com flores
Primavera
neblina matinal sobre
uma montanha sem nome
Acorda acorda
Serás a minha companheira
borboleta que dormes
Ibisco na berma -
Floresce agora
na boca do cavalo
Chuva de flores de ameixieira
Um corvo procura em vão
o seu ninho
Calou-se o sino
O que chega a mim agora é o eco
das flores
Diante das azáleas
uma mulher prepara
bacalhaus secos
De que árvore em flor
não sei -
Mas que perfume
A cada sopro do vento
muda de folha
a borboleta no salgueiro
A uma papoila
deixa as asas a borboleta
como recordação
Não há arroz
mas tenho na malga
uma flor
Flores de cerejeira no céu escuro
e entre elas a melancolia
quase a florir
Rio Mogami -
apascentando as chuvas de Maio
até ao mar
Extingue-se o dia
mas não o canto
da cotovia
Ervas daninhas no arrozal
Depois de cortadas -
fertilizante
Lua cheia:
para repousar os olhos
uma nuvem de tempos a tempos
Flores queimadas pela geada
Os grãos caídos
semeiam a tristeza
Depressa se vai a primavera
Choram os pássaros e há lágrimas
nos olhos dos peixes"
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O livro continua com as restantes estações: Verão, Outono e Inverno. Por agora, também em homenagem à Primavera que aí vem, fico por aqui na transcrição. E mais uma coisa. A região do Fundão é rica em árvores que têm esse cariz poético: cerejeiras, ameixieiras, amendoeiras. Mas entre elas todas, é a cerejeira, que agora está a florir, a mais importante árvore da Cova da Beira, e especialmente num vale, o Vale do Alcambar, na freguesia de Alcongosta, nas encostas da Serra da Gardunha. Preparem-se para virem à Gardunha ver a explosão de flores brancas que espantosamente começam a nevar na Primavera nestes socalcos de terra negra, duramente trabalhada.
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