Thursday, July 19, 2007

carreiras




É dramático percepcionar o modo como a nossa democracia tem funcionado. Para as eleições de Lisboa houve uma abstenção de 62%, o que significa que para a maioria que não votou tanto lhe faz que esteja no poder este ou aquele.

É sabido que quem chega ao topo tem que trepar as escadarias de máquinas organizativas, sejam partidos, sejam outras formas de organização. Só por si as pessoas não vão lá. A nata "nada" no "leite" que está por baixo, portanto, sem essa massa liquida não é "nada". Mas, na verdade, "ela" diz que é a essência, a tal aristocracia operária, a elite, a vanguarda, lembram-se? Ela afirma a sua necessidade. Na realidade, ela o que faz é abafar o "leite" que está por baixo. Não o deixa respirar.

No tempo dos Gregos havia mais sinceridade. Estavam fora da democracia os escravos, os estrangeiros, as mulheres. Hoje em dia não estarão também fora da democracia os velhos, os doentes, os desempregados, os que recebem o rendimento social de inserção, os gays, as prostitutas, os drogados, os imigrantes, etc..., etc...? Dirão que não. Porém, estar fora, não é dizer que não tenham direito ao voto, pois têm. Mas, de que serve? Responderá a nata que para eleger quem os represente na defesa dos seus interesses. Eles, os deserdados, podem no mínimo sorrir com esse descaramento.

Melhor seria, ao fim e ao cabo, que entregassem o governo do país aos economistas, aos técnicos, e acabava-se com a politica. Ou ainda melhor: o governo do país entregue a um computador. Pronto, neste aspecto, ninguém tinha que se preocupar.

Quem nos governa está pouco interessado na abstenção, ou no que ela significa. Não se viu muita preocupação com essa elevada taxa. Claro, há sempre que marcar posição no modo preocupado como se fala na questão. Há que ser politicamente correcto. Mas, é só forma exterior. Dias depois já ninguém se lembra, ninguém se interessa. Parte-se para outra.

Agora o que mais importa é acertar agulhas nas máquinas organizacionais. Ver os estragos, procurar novas alianças e andar para a frente. Vêem-se fazendo cálculos quanto ao futuro das suas carreiras; feitos pelo presidente desta secção, daquele presidente de Câmara, daquela que foi ministra, dum que foi primeiro-ministro, deste que é mais triste, daquele que é mais alegre.

Carreiras. Todos têm direito a elas, é verdade, mas na actual situação uns têm tido mais direito do que outros.

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