texto nº 6
dos efeitos das marés nos cabelos das árvores
Cena
27) Não estou pensar com as minhas vozes todas como se
tivesse seguido outra estrada
E sem saber entender
o som e a pintura das pessoas que me cercam, no preciso momento em que tenho de
fazer o inventário da sala e das mesas; e das taças todas, e das ventoinhas, e
das luzes, e das panelas, e dos tachos e dos copos nas prateleiras; e dos
bancos e das tralhas e tralhas.
-- Que caiam no
inferno.
-- À volta da
gente candeeiros.
-- E sem
perceber ninguém percebe a viragem do tempo.
-- Nada a seguir
nada.
-- Nem os
vindouros nem os antepassados.
-- É portagem
atrás de portagem.
-- Para entrar
neste quarto à porta de casa.
-- É-me
concedida a missão de ficar quieto sem olhar para trás.
-- Que a todo o
momento dá-se a chegada dos primeiros de todos.
-- Nunca se
largam de mim.
-- Eu inválido sem
qualquer abertura.
-- É preferível
nada do que nada.
-- É assim e não
é assim.
-- De alguém
para alguém.
-- À primeira
vista correram milhares de pessoas nas ruas com flores para os soldados.
-- Depois
seguiu-se a primeira hora.
-- A seguir veio
a segunda.
-- Milhares de
pessoas desceram a Calçada.
-- Mesmo esta
aqui ao lado.
-- Eu ouço bem
os gritos delas.
-- Estão por aí
abaixo.
-- Embora pareça
que vou atrás.
-- Ou com elas.
-- Não é verdade.
-- Porque estou prisioneiro.
-- Com as mãos beirando
o céu.
-- É a descida
da Calçada para o Poço dos Mortos.
-- Numa primeira
fase não se sabe.
-- Numa segunda
também não.
-- Há que acumular
a informação.
-- Mas é uma
nega completa.
-- Não se está a
perceber.
-- Vai por aí
abaixo para o Poço.
-- E depois nada.
-- E eu entendo.
-- Por essa
razão me amarro.
-- Para não escorregar
no carrossel.
-- Aí vai na
direcção.
-- Um aponta
todos na ponta,
-- E outro diz,
-- E mais nada.
-- Ao mesmo
tempo escorrega.
-- E escorregar não
é controlar.
-- É deixar.
-- E deixar não
é não.
-- E não é não.
-- É como estou
neste momento.
-- Com um não
enfiado na tola.
-- Até posso não
estar.
-- A Gracitara
quer tirar os nós.
-- Mas não quer.
-- Se entendi
foi que ela gastou muita corda para me amarrar solenemente.
-- E nesta
altura do campeonato é preciso maneira de desvendar o mistério.
-- Ainda que
sofra tenho de continuar com os meus olhos.
-- Olhando para
o casal a comer.
-- A comer.
-- A comer.
-- Esse casal
tem uma prensa mecânica na cabeça dos dois que são um como eu.
-- Digo agora
neste dia dos milhares que descem a Calçada para o Poço dos Mortos.
-- É que não
ouço daqui os gritos.
-- Nem tenho que
ouvir.
-- Apenas sei.
-- Mas é uma
causa da minha prisão.
-- Não a minha
prisão.
-- E se eu não
quisesse que me fosse embora.
-- A causa é
minha.
-- Porque eu me
fui embora do meu sítio para outro diferente.
-- E porque era
isso que estava estabelecido.
Não estou a
pensar com as minhas vozes todas, como se tivesse seguido outra estrada, mas
era desse modo; e os mil que descem são por misericórdia deles e de mim mesmo;
e eu sei que os meus pais não têm nada a ver com o problema, já nascido da
terra.
-- Esse.
-- Se foi.
-- Não o
permitiu.
-- Eu tenho é
que comer bem para me resguardar.
-- Estando aqui
estou na protecção de deus.
-- Que é quem em
primeiro lugar merece a minha vida.
-- Esse sim.
-- Não vou atrás.
-- É esse
impulso assassino que tem matado os queixos da burra.
-- Com os dentes
espetados para fora.
-- Como as gueixas
da guitarra sinfónica.
-- Com os
extremos esganiçados.
-- Assim eu
desço e não quero.
-- Eu volto e
não quero.
-- Com as
palavras invisíveis todas ao mesmo tempo.
-- A fazer a
análise do ambiente.
-- Tem que ser
uma vistoria aos comilões.
-- Aqui mesmo na
minha frente.
-- Sim.
-- Na morgue não.
-- Estes
comilões comem panelas e panelas de comida.
-- De feijoada
transmontana.
-- Que é mais
fácil de fazer.
-- Dá para um regimento.
-- Os pratos vêm
atrás uns dos outros.
-- Saem a uma
grande velocidade da portinhola.
-- O Joni está a
suar por todos os poros.
-- A Gracitara
anda dum lado para o outro.
-- Com um enorme
chicote nas mãos a ver quem come.
-- Se alguém não
come está frito.
-- Leva uma chicotada.
-- Valente chicote.
-- É muito comprido.
-- E chega longe.
-- Ela até
parece regente de orquestra.
-- Mulher valente.
-- Essa mesma.
-- Mas porque
não me desamarra?
Estou cheio de
fome só de ver, mas o que ela faz é abrir-me os olhos, quando aqueles milhares
passam na Calçada, para eu os ver cair no Poço dos Mortos, aos gritos.
-- Sangue e
cheiro que não tenho.
-- Como passar
para o exterior?
-- Tu és capaz
de ouvir uma imagem.
-- Ou um filme
-- Mas não consegues
perceber o cheiro.
-- Esse é meio caminho
andado para te avisar do aqui e agora.
-- Duro e sem
retorno.
-- Essa bandida
quer que seja assim comigo.
-- E eu queria
era ir para a cama com ela.
-- Ela está
vestida quase nua.
-- E todos os
comensais nem se atrevem a olhar para ela.
-- Às vezes eles
vomitam.
-- Vão a fugir
até ao quarto de banho para poderem comer.
-- Mas sabe-se
lá o que pode acontecer?
-- Este concurso
está a decorrer directamente para a televisão.
-- É filmado por
umas câmaras ocultas.
-- Só eu sei
disso.
-- Ninguém mais
sabe.
-- Esse segredo
foi-me confiado pelo meu Ora Entorno.
-- Nas minhas reuniões
à porta fechada.
-- Que ele me
estava encarregando de certa missão.
-- E me disse
que havia um assassino.
-- Escondido atrás
duma câmara de filmar.
-- Neste dia do
concurso da feijoada.
É nesta medida
que eu tenho de descrever o ambiente, mas não me posso expor, senão a tv fica a
saber onde estou, e processa-me por causa do assassino, que eu sei que está escondido
atrás das suas câmaras; ainda o podia ter visto, mas não sei se vou a tempo
deste concurso, porque o mesmo tem por história principal matar em directo como
se não fosse em directo.
-- Como me disse
o meu Ora Entorno,
-- Eles estão
com falta de audiências.
-- E é preciso
manter as pessoas alertas neste canal.
-- E eu estou de
acordo.
-- Se é preciso
que se faça.
-- Sempre é
melhor do que aquela macacada dos cocós entre as saias das mamães.
-- Mamã acima
mamã abaixo.
-- E nada de
sangue.
Cena
28) Não fosse os milhares
mas alguém no lugar deles. O silêncio só é quebrado pela queixada dos
comensais
-- Verdadeiro.
-- Não estando
de acordo tem o pressentimento que isto pode dar barraca.
-- Por causa do
assassino.
-- Embora esteja
com a boca fechada pode chegar o momento de me mandarem falar.
-- Ah, sim.
-- A questão do assassino.
-- Já foi visto
por aí.
-- (Olha, ele
atrás da máquina).
-- Mas nessa
altura não sou eu que falo.
-- Porque não
está na hora de falar.
-- Se não há plano
como posso eu fazer?
-- Está muito difícil
proceder como deve ser.
-- Neste tempo
todo corroem-se as fundações.
-- E deixa-se
que milhares desçam a Calçada.
-- Não pode ser.
-- Eu levanto-me
da cadeira.
-- E a Gracitara
diz-me,
-- (Então
vais-te embora)?
-- (Não comes)?
-- E eu digo não
sei o quê.
-- Não lhe digo
nada.
-- Vou-me embora
a correr lá para fora.
-- O que posso
fazer por esta gente que vai para o Poço dos Mortos?
-- É isso que
não sei fazer.
-- Apenas a
minha boca continua fechada.
-- E eu fico
apegado à parede.
-- À rua.
-- Estirado no
chão a dois metros do Poço dos Mortos.
-- Sem imagem na
memória que me possa recordar do cheiro.
-- Como disse invisível.
-- Inodoro.
-- Todo o rico dia
estive eu a ver
-- Mas a não
precisar.
-- De mão dada.
-- Nessa veia
gigantesca a Calçada deixa descer a multidão.
-- Para ver de
volta a multidão para trás.
-- E não vai
para o Poço dos Mortos.
-- Não é esse o
momento.
-- Foi uma
artimanha que a Gracitara usou.
-- Para me
apanhar na cadeira.
-- No tempo
certo.
-- E na
quantidade de sal quanto bastasse.
-- Para que eu
aceitasse os prazos muito complicados.
-- Que o Joni
não estava pelos ajustes eu sabia.
A primeira bola
de pingue-pongue caiu-lhe na sopa e respingou para a camisa; e a segunda bola
foi-lhe à cabeça lisa e deflectiu para a cozinha.
-- Respondeu por
todos os pratos.
-- Não perderam.
-- E os comensais
fizeram que não viram nada.
-- Mesmo que
vissem podiam dizer que não tinham visto.
Era para começar
às quinhentas mas não tinham situação para tal, e era completamente irrelevante
se dissesse isto ou aquilo, porque a gente não sabia; e não sabendo, se
dissessem é preto, sendo branco, a gente aceitava, porque a gente não sabia
distinguir as cores; e de modo que o Joni também se embrulhava na própria merda
que fazia; e a sala ia bem de raiz.
-- No máximo
vinte contos de reis.
-- A enorme
perda era a perda de velocidade.
-- E o ganho
maior era a abstinência.
-- Todos vão para
o Poço dos Mortos a uma velocidade razoável.
-- A partir dum
estudo encomendado por alguém muito respeitado.
-- Com créditos firmados
internacionalmente.
-- É homem de
vistas largas.
-- E de iates na
frente marítima.
-- Ainda hoje é
conhecido.
-- E
mundialmente eficaz.
-- O que alivia
o Joni andaluz.
-- Com os pés em
chinelos.
-- Não agora.
-- Está confuso.
-- Com a bola de
pingue-pongue que levou na moleira.
-- Os rapazes.
-- Os três.
--
Desmancharam-se a rir.
-- Sem que ele
visse.
-- Ou ouvisse.
-- Qualquer
gargalhada.
-- Era preciso
não haver risos.
-- E era o que a
Gracitara estava a fazer.
-- Ainda que o
assassino não se revelasse.
-- Embora estivesse
na hora do tiro.
-- Já podia até ser
informado.
-- Do que o meu Ora
Entorno quisesse fazer passar.
-- Para lançar
confusão extraordinária.
-- No meio das
massas da Calçada.
-- Podia ser
muito bem.
Esta não era
coisa que não pudesse acontecer, mas nada disso está de acordo com Gracitara,
nem comigo mesmo; porque quando estou nos meus outros dias, em que a luz do dia
avança e de repente é noite, e o coração aperta-se-me mais a lembrar-me do bom
aconchego do lar, lá longe, e da mãe e do pai, e do resto, e de tudo o que
ficou para trás; e essa nostalgia mata e abate a árvore da esperança, ao mesmo
tempo que me fecha os olhos e vai de mergulho para os dias seguintes, passados
a passo de caracol; e é por isso que digo que o meu Ora Entorno é capaz de me
andar a dar a volta com o assassino atrás da câmara a cada esquina.
-- Um bandido,
-- diz-me o tal.
-- É teres
cuidado com os gajos.
-- Eles andam disfarçados
de gatos-pingados.
-- E tu tens de
perceber muito bem que os teus lindos olhos não são nada contra os lindos olhos
deles.
-- É isso,
-- Por isso
disse-me o que disse.
-- E agora amarrado
mais uma vez porque voltei para traz da Calçada.
-- Tenho para
mim que os bons exemplos são para se seguir.
-- Com a caridade
em primeiro lugar.
-- É de todo em
todo comummente aceite que se deve esse princípio moral entranhar na nossa vida
-- diz a Gracitara, dando-me uma estocada com o cabo do chicote no queixo.
-- E doeu
bastante.
-- Não sei como
não me partiu os dentes.
-- Desde que se
fale em caridade ela fica chateada.
-- Porque julga
que não lhe digo a verdade.
-- Não há vazio
pronto a comer gasolineiras.
-- Vamos dar
sempre ao mesmo.
-- Se estou
sossegado é porque estou.
-- Senão é
porque não estou.
-- Depois.
-- Que sou.
-- Se penso
assim.
-- Estas
palavras na minha boca tiram-me a fome que me é merecida.
-- Pelo meu
tempo passado ao mesmo tempo encolhido.
-- Não é um
pensamento por si só que tem a garantia estatal.
-- E no primeiro
dia que começou e bem foi parte de mim a vitória certa.
-- Tenho de me
voltar para os comensais.
-- E não vêem
que estou aqui amarrado?
-- Mas como era
devido nenhum som saiu de palavra nenhuma.
-- E não cheguei
todo o rico dia a ver mulher nenhuma lá dentro.
-- Estou
atrasado.
-- O tempo pode
dar uma bofetada de luva branca.
-- Mas é se
merecer de alguém.
-- Senão é para
o Poço dos Mortos que vão os milhares.
-- Assim vão por
lá abaixo cadenciados.
-- És tu.
-- És tu.
Gritam eles em
grandes vozes.
-- És tu.
-- És tu.
E dentro da sala
o silêncio só é quebrado pelas queixadas dos comensais, a um tempo cadenciados,
e noutros mortinhos por fugir dali, se não tivessem as instruções necessárias
para ali continuarem até ao outro dia de manhã, pois a competição entre eles
era renhida; e eu sabia, mas lá fora o rugido: és tu, és tu, dos milhares
que iam para o Poço dos Mortos, era extravagante, embora me parecesse que quem
dizia: és tu, és tu, não fosse os milhares
mas alguém no lugar deles; e era uma questão a ver, porque sei que os milhares são calados, e eles sabem bem,
lá dentro deles, qual é o seu destino final.
Cena
29) As nomeações foram feitas e deram para fazer a
distribuição de tachos pelos coligados. Corre bem a pedra colocada no local
sagrado para entrarmos mais aliviados das profecias das desgraças
-- E de entre
todos,
-- Também
estavam a dizer para dentro deles,
-- (És tu).
-- (És tu).
Sem saberem bem
que dia era do ano; mas o receio tomava conta do coração, do corpo e da mente;
e este conjunto era explosivo, e eu bem me girava na cadeira da mesa a telintar
com o garfo no prato, a ver uma mosca que esvoaçava; e se lhe desse cabo do
canastro era uma posição aproximada, que estava em paralelo com as frequências,
ainda que não acontecessem quando deveriam acontecer, mesmo com todas as anomalias
do costume.
-- Agora é mesmo.
-- Tenho de me
agarrar à mosca.
-- Ao seu voo
rasante.
-- Ela não pica
porque tenho mangas compridas.
-- Nem me vai à
queixada.
-- Porque não
estou a comer.
-- Porque ainda
a minha comida não veio.
-- Porque lhe espetava
o garfo nas tripas.
-- Com grande
pontaria.
-- Isso lhe
faria.
-- Trincava-a na
boca com os dentes ferozes.
-- Engolia-a.
-- Cagava-a depois.
-- Mas aí ela já
não vinha inteira.
-- Vinha
transformada em merda.
-- Essa palavra
morde.
-- Mais do que
tudo é irritante estar sob um ataque de mosca.
-- Quando ela
pica no pescoço.
-- Depois põe-se
a zunir.
-- A camela
poisa num sítio a desafiar.
-- A gente vai matá-la.
-- Prepara o
golpe com toda a calma.
-- E zás.
-- Ela foge.
-- A malvada.
-- Não me vou
bater com ela.
-- Vou ignorá-la.
-- Coisas mais terríveis
acontecem à minha volta.
-- (És tu).
-- (És tu).
Parece um
martelo na cabeça.
-- Cada palavra,
uma marretada.
-- Não é que se
ouça.
-- Mas é o mesmo.
-- Ou pior.
-- Ainda estas
ondas de som.
-- Baixas e
bravas.
-- Endoidecem
uma pessoa.
-- Embora veja a
calmaria desta gente.
-- Mas é ao
correr da pena.
-- Não é demais
verdadeiro.
-- Porque vão-se
desenfreados por aí abaixo.
-- Até quando
acabará o morticínio?
-- Embora passe
aqui ao lado não o vejo.
-- A não ser
pela imprensa.
-- Nada pode
chegar a este sítio.
-- Sem a devida
autorização do Joni.
-- O mesmo que
nomeou a Gracitara.
-- Porque era o princípio.
-- E depois foi
o fim.
-- Não vieram os
empregados a tempo.
-- E o negócio
da Gracitara desceu na parada militar.
-- Todos os
comensais viram nesse dia a diferença entre eles e ela.
-- Mas não se chatearam.
-- Mesmo sendo
ela uma mulher eles viam-na pelos óculos de vidro.
-- Ainda que
houvesse uns óculos diferentes destes.
-- Todo o dia a
carga é diferente.
-- A carga do
carregador automático.
-- Já o Joni não
está pelos ajustes.
Temos de ser
coerentes com as principais notícias que começaram na noite, e depois
atravessaram uma rede intermédia; e estas notícias foram para o meu primo e
para a minha outra parente; e depois estes parentes todos seguiram o seu
caminho, convenientemente.
-- Eu sei como
começam.
-- Mas não sei o
resto.
-- É favor deixar
de lado.
-- (O que têm é
de vir para aqui no meio da Calçada), -- dizia alguém com um megafone.
-- E eu pensei,
– (como vou para
lá se estou dependente daquela velhaca)?
-- E eu disse,
-- (Oh, velhaca,
vem soltar-me).
-- (Não estás
ouvindo o altifalante)?
-- E a Gracitara
veio com cara de poucos amigos,
-- E disse-me,
-- (Vai para a
puta que te pariu).
E deu-me na
cabeça com o cabo do chicote, que sempre usava como arma de reserva, a não ser que
surgissem cães, e nessa altura era mais meiga, porque queria era ir para a cama
comigo e ir-se embora.
-- Eu estou por
aqui.
-- Estou a rasar
a parede.
-- Que atravessa
a linha principal.
-- Não sei qual
é a ideia.
-- Mas somos
todos obrigados.
-- (Eu quero ir
para a Calçada), -- digo, grito, mas ninguém me liga.
-- Ela vai
simplesmente para a rua fumar um cigarro.
-- Ela nunca
compra cigarros.
-- É uma vampira.
-- Por isso
estão a organizar uma viagem à Madeira.
-- Para lhe
curar o derrame cerebral.
Ainda anda com a
mão a tremelicar, mas na razão dos muitos médicos cubanos a desgraça é menor; e
ela assim está a fumar o cigarro, enquanto à volta tudo é um concerto de cães,
ao final da noite.
-- Quando
puderes diz.
-- A gente vai.
-- Aí estou a
ver a cortina.
-- A outra com
azulejos pregados a romper pela praça.
-- Só com cantores
revolucionários disfarçados.
-- Vão a outro
ponto mais discreto.
-- Para conversar
sobre certos assuntos de estrema gravidade.
-- Estão a ver
como começar esta guerra.
-- Mas ainda até
ao fecho da edição pode correr duma maneira.
-- Que não julgavam.
-- Que ficasse
por aqui.
-- Mais um dia
ou dois.
-- Mas têm de se
ir embora.
-- Agora com a
reserva de gente de alto gabarito pode ser que já tenhamos água canalizada e
comida.
-- E toda a
sorte de materiais ortopédicos.
-- É isso que
sei.
-- Se levar mais
uma vez nas trombas, um cachação dado por ela, eu juro que a mando para o
caralho.
-- E ela leva
outro cachação.
-- Que é para
não estar a brincar às escondidas todo o dia.
-- De hoje e de
amanhã.
-- Já prestei
esclarecimentos a toda a gente.
-- As nomeações
que foram feitas deram para distribuir os tachos pelos coligados.
-- A vergonha
que foi outro dia.
-- A vergonha a
pensar numa coisa e aparecer outra.
-- Com mais
graça que desgraça.
-- Até ao fim
dos tempos.
-- Abertos a todos
os escolhidos.
-- Eu girava e
girava na cadeira.
-- Com este fito
de sair.
-- Mas só tinha
pena que os meus aliados não o fizessem mais cedo.
Corre bem a
pedra colocada no lugar sagrado, para entrarmos mais aliviados das profecias da
desgraça, pois sempre é melhor viver com a certeza do que estar para aí,
deitado contra um canto e sem nada acontecer.
-- (Estou a meio
da morte), -- diz o pato ao marreco.
-- Mas não.
-- A situação é
redonda.
-- Dum discurso
comprado na feira da ladra.
-- Para estes displicentes
armados cavalheiros.
Digo eu depois,
-- Vamos tomar
umas cervejas.
-- Vocês estão
convidados.
-- Desde o nascer
ao por do sol.
-- Não se vão
sacrificar mais do que já estão.
-- Todo o dia
tem corrido bem.
-- Nada se tem
estragado.
-- Nem a comida
do restaurante.
-- O Joni com o
seu mau feitio agora foi ao grelhador dos frangos.
-- O trabalho.
-- E logo fica zangado
porque lhe andam a meter carnes diferentes.
-- E preços
também muito diferentes.
-- Se a senhora
comprar hoje leva um desconto.
E aqueles
rapazes da Via Moreto também ficam a descansar desta longa viagem.
Cena
30) A vagina atravessada por uma ideia frouxa fá-la no plano
horizontal pecado dos pecados. Não havia escolha que resguardasse o casal das
balas que às vezes entravam
-- Pessoal e
intransmissível.
-- Com o cadáver
da luz ainda sem uma direcção definida porque depende dela.
-- Como eu disse
é uma mulher que agora está enferma por causa do derrame.
-- Mas ela é
rija e depressa passa.
-- Ou ela
disfarça melhor que o Acrimonia.
-- Olho de pele
de porco.
-- Mais o Calazar
cabeça de abóbora.
-- Ambos nos sentidos
diferentes mas na mesma direcção.
E nesse dia dos milhares que desceram a Calçada, os
diferentes artistas também prometiam o mesmo com dezenas de camionetas.
-- Mas estavam
bem entretidos a ganhar mais uma batalha do vinho e do pão.
-- Nessa hora
querida da terra virgem.
-- Não o mesmo
que dois comerem na frigideira.
-- Era aí que
batia o ponto.
-- Com todo o
respeito que podia ter por eles os dois.
-- Mas naquela
praça que desembocava na Calçada não estava à venda nenhuma boina de guerra.
-- Essa fora
para o soldado exemplar.
-- Era para ser
verdade mas o corno do toiro foi o assassino cruel.
-- Nessa vigília
não se entregava assim aos comensais sem mais nem menos.
-- No meio do
barulho entretanto começado.
-- Nessa era
totalmente indiferente.
-- A lua ou o
sol o que queriam era morderem a língua.
-- Essa foi a
ligeira alteração que se fez ao cardápio
-- Porque já há
anos que o não modificava.
-- Palavra de
chefe.
-- E esse Calazar
cor de sacristia não era tão distinto como o pintavam.
De vez em quando
o Joni via-o,
E dizia,
-- (Ali vai o
nosso senhor com o muito respeito e carinho a velar por nós e na hora da nossa
morte amém).
-- Vizinho, não dê
sinal de arrependimento, depois vão dizer que eras deles.
-- Ao lado da
máquina de gelados não podes de frente botar a mão na frente e depois olhar
para o lado. -- Não podes dizer e depois não esconder dentro desse vinhedo.
Esse arranjo de
flores dentro da cidade em frente da Biju é de entre todos o que mais emociona
os velhinhos a fumar cigarros e a beber café com leite para no outro dia ficarem
mais magrinhos e pesarem menos nos caixões e na frente da Biju não há pretexto
para mais pois ainda sequer começou e já há milhares
a descer a Calçada hoje outro dia à frente ninguém e outra fila atrás a preparar-se.
-- É um mistério
mas pode acabar amanhã.
-- Ou depois.
-- Na livre
circulação entre o norte e o sul.
-- Têm recados
para mim.
-- Para me verem
no meu juízo completo.
-- Entre todos
sou o mais amarrado por essa senhora cor de limão.
-- A carta não
existe.
-- Apenas umas
amostras de perfeito conhecimento.
-- Mais atrás
alguém não entra.
-- Alguém não é
alguém.
-- E mais atrás
começa a descer o primeiro dia.
-- Atrás da
forma ajuizada.
-- Essa que eu
mesmo planeei.
-- Apesar disto
posso libertar-me dum pontão.
-- Para uma
estrada paralela ao rio que atravessa o vale e o país todo no coração da Maunça.
-- A primeira
entre as outras.
-- Apesar dos
percalços
-- Já chegou ao
conhecimento do Joni que a sala não pode deixar de ter um exaustor para puxar
os fumos.
-- Mas é muito
caro.
-- Como é que o Joni
pode investir?
-- Mas diz que é
a lei.
-- Têm de comer
sem fumo na sala.
-- Foi isso que eles
disseram outro dia.
-- É primeiro
necessário provar a minha inocência para depois seguir.
E eu digo,
-- (És tu).
-- (És tu).
-- E os
comensais olham para mim e depois nada.
-- Eles não
olham.
-- Eu não digo.
-- Apenas simulo.
-- Não é verdade.
-- Porque os
comensais falam com eles.
-- O meu garfo
que tinha espetado uma mosca serviu para meter a mosca na minha boca.
-- Adorei a
mosca.
-- Ia eu dizer.
-- Mas não podia
adorar porque não prestava.
-- Não adorei
mosca nenhuma.
-- Estava mas
era a olhar para a testa do casal benfeito.
-- Com os olhos
em lágrimas porque o processo estava a levar algum tempo.
-- Entre chegar
e partir.
-- Como podiam
começar?
Não havia
escolha que resguardasse o casal das balas que às vezes entravam, e que outras
vezes provavelmente não entravam; e atrás um encantador, embalsamador de corvos,
outro dia o bem maior, virado ao rio.
-- No meio da
relva do Adamastor lá estava o embalsamador de corvos.
-- Com o tempo
por sua conta e risco.
-- Não se alarmavam.
-- Não se enganavam.
-- O
embalsamador de corvos foi.
-- Não deixou rastro
algum.
-- Por isso o
casal não pia.
-- No seu lugar
apenas olha e deixa que eu veja e olhe com descrição.
-- Há
precisamente uma vantagem muito grande nesta amostra de vantagem mais ou menos perdida.
-- Essa tem de
ser grande.
-- Não se
percebe a hora e o lugar que acaba na serra.
-- Não se
percebe bem como se deve iniciar a macabra tarefa de recolher os cadáveres do Poço
dos Mortos.
-- Talvez descer.
-- Talvez com
uma escavadora para tirar entulho ou outra coisa.
-- Não à mão de
semear.
-- (Os mortos
ainda não acabaram o Poço), – dizem.
-- Tem a missão
estampada nas valetas.
-- E os homens
assim se obrigam fora das vistas.
-- Mas é
estranho que o coração fique chumbado na carne verde.
-- Por dentro e por
fora.
-- O sangue das guelras
dos peixes para melhor surfar.
-- Estes
pequenos não se lembram
-- E não há
amostras de sangue verde para possível internamento.
-- Já percebo
todo o trabalho que tem sido feito.
-- Com muita
determinação e pensamento estratégico.
-- Já tenho de
recorrer às minhas fontes.
-- E aos meus
três sentimentos que não se descriminam.
-- Mas que têm a
função de me blindarem à prova de bala.
-- Todos os dias
pressinto isso excepto hoje que aqui estou com a Gracitara de serviço.
-- Um pouco maneta
e descarada como a outra avistada em cima dum burro com os lados contrários.
-- Não a ver mas
a deitar para o lado a vagina atravessada por uma pedra de giz.
-- Ao menos não
se digladiam.
-- Mas isso não
pode ser.
-- Talvez na
horizontal.
-- A vagina
atravessada por uma ideia frouxa fá-la no plano horizontal pecado dos pecados.
Não sabe a Gracitara
da memória, que foi vista com a vagina ao contrário; e as mamas não podiam ser
iguais às outras; e apenas havia um interruptor em casa, e ainda por cima as lâmpadas
estavam fundidas; e portanto que se fornicassem os interruptores.
-- Não prestavam.
-- Para nada.
-- Não.
-- Cabeça de abóbora.
Calazar e companhia
aberta ao meio foram depois da queda natalícia, nesta terceira ordem ficou
estabelecido o que devia a Gracitara fazer para que o ramo continuasse.
Cena
31) Terras da abelha não com o embalsamador de corvos.
Semblante macilento e retorcido com as estrelas a vibrar com intensidade na
terra da abelha
Com o seu
destino a caminho da vírgula, ou do ponto; mas isso é uma coisa passageira; os
últimos acordes estão a dar-se na igreja matriz do Papa-Terra, ao lado da
catedral; não essa, nem no Papa-Terra; ao contrário de outros, tem mais com que
se preocupar; a cadeira virada para o ar, a Graça agora mesmo na rua do Loreto,
não que eu tenha visto, mas porque me disseram estarmos tramados se não descermos
como os milhares, através da catedral
até ao Poço dos Mortos; esse caminho é agora encontrado na mesma romana posição,
debaixo da terra, lá em baixo, debaixo dos bancos dos réus.
-- Ah tristeza
suprema.
-- Não deixeis
as tentações outra vez na praça.
-- Que do certo
ao errado o soldado não foi para a guerra.
-- (Foi a sorte
a prazo), -- querem dizer todos os outros acrobatas.
-- Aqui dentro
eu deixo-os como quiserem.
Até digo outra
coisa,
-- Deixem entrar
na garagem do carro.
-- Por cima da
porta.
-- É o mesmo de
sempre.
-- Com os faróis
partidos.
-- É por cima do
painel que se vê melhor.
-- A rua do Loreto
está atrás das costas do bairro.
-- Vai por aí
acima.
-- E eu por aí
abaixo.
-- Sempre com a
supervisão do filme.
-- Não.
-- Se fosse
embora.
-- Não.
-- Se pudesse
perceber os sinais que se vão evaporando.
-- E esta fase
louca do dedo e da mão é para passar à história -- diz-me a Gracitara, muito
discreta hoje.
Está muito
parada, hoje, que foi o minuto de ontem, nos segundos de hoje, ela, a mesma,
nesse intervalo, como se transformasse; depois, mais aberto, o tempo a descer;
por aí temos de entender, esta primeira, não que tenha; mas não tem.
-- Não se pode
adiar -- digo agora que estou bem-disposto, depois da entrada ainda há bem
pouco tempo.
A servirem são
rápidos, mas o pior é não servirem o homem da porta que não está, nem o homem
dos frangos; agora, na próxima, o tempo, de propósito, debate-se a fluir pela Calçada,
enquanto os preços galopam como cavalos sem freio; é um tempo de guerra, na Calçada,
em direcção ao Poço dos Mortos; é aflitivo, mas eu não vejo, eu apenas quero
ouvir alguma coisa, mas não quero cheirar a morte cheirando a esterco e a carne
adocicada, não quero, antes deixar-me enterrar aqui, de perto, com as algemas
que a Gracitara me quer pôr; mas eu não me importo, são umas algemas de brincar,
e ainda que fique preso até posso partir a cadeira, é tudo possível; mas os
comensais não podem ver estas manobras, que só são vistas com óculos especiais,
comprados ali, na tabacaria ao lado da Biju, e até são baratos, e recomendo-os,
no fórum; mas não os compraram, nem se prestaram a deitar fora, está previsto o
contrário do que se tinha pensado; não é por mal mas os óculos têm algum
descontrolo de despesas; essa casa não é a primeira a prevenir o Joni, que está
fulo ao balcão; e porque assim é levou com um sabonete na careca, e aquilo pode
ser de doido, mas ninguém viu donde veio nem quem o atirou; ficaram a assobiar
para o ar, enquanto ele andava às voltas, com uma cara vermelha, pior que o
demónio.
-- (Se queriam
ver os milhares para o Poço dos
Mortos fossem lá para fora), -- gritava ele.
E os comensais
apenas diziam que sim com as queixadas e depois não se ouviu mais nada; e nas imagens
da televisão, que era a preto e branco, ainda não se vira o dia da inauguração.
-- (Só patrões
eram mais de mil), -- disseram.
E os milhares eram mato, todos bem-dispostos,
na graça de deus e água benta; se quisessem podiam deixar.
-- Ah não vou
para aí.
-- Não quero.
E não queria,
nada por nada deste mundo, na confusão dos milhares
era melhor pedir reforço de verba, já estavam na dobra de baixo do caminho, a
correr com todos os pulmões abertos e dispostos a não voltar atrás.
-- Mais um.
-- E disse ele,
-- Aí vai mais
um.
-- E os milhares vieram outra vez com a lengalenga,
-- (És tu).
-- (És tu).
E eu nem sabia
como meter-me debaixo da mesa, que apegado à mesa já eu estava; sem dúvida que
havia uma porta fechada por alguém; e ninguém entrava nem saía, segundo eu
próprio via; e meu pai não era por essa porta que entrava, e eu não sabia; o
mais de mim o que podia fazer era perguntar a alguém: o princípio da verba em
que ponto se baseava.
-- Em que princípio.
-- Ah bem.
-- Estamos neste
ponto de viragem.
-- Para os
amigos apenas justiça.
-- Para os
inimigos apenas injustiça.
-- É lógico.
-- De pontapé na
cova dos mortos só acontecendo o rigor do morto.
-- Eu posso andar
para a frente sem perigo nenhum.
-- Ouve-se mesmo
o eléctrico a passar.
-- A guinchar
por todos os poros do corredor do Calazar.
-- Enquanto tal
não sei se está aos safanões em alguém.
-- Senão entra numa
escala de um a dois.
-- Não sabe se
há perigo na casa dos trinta.
-- Senão os Adiposos
ainda não.
-- Os Adiposos na
encomenda ainda não apontam.
-- E ainda não.
-- Os Adiposos
em torno da obra ainda não gastam menos.
-- E precisa
menos dos milhares esganados.
-- E se eu vir a
bola batida pelo guarda-redes aí juro arregimentação.
-- Pelas barbas
da contabilidade.
-- Bem feito.
Com os contornos
e a ponta fina da esferográfica a letra bem afiada, ainda no tempo de cores
diferentes; e se aprendi, com certeza bem, assim estou bem, ainda com o pensamento
ali, estou confiante em tudo, bem desejo agora as contas dos milhares; entre os destinos das ruas os milhares, dispersados, voltam a dispersar.
-- (O rosto é
incerto e o dinheiro rompe no rio amargurado), -- dizem eles.
No dia em que
principiaram a olhar para trás, são bem os olhos dos outros, ainda de porta
aberta, a vender fruta à porta da loja, na rua, agora e sempre; a rua, em bruma,
o nevoeiro, a neblina a esconder a rua das vistas dos milhares.
-- Não sei.
-- Ainda bem.
-- Se Calazar
faz não olho.
-- Caramulo e
olho azebrado
-- Só o nome
engana.
-- É por tudo.
-- Sem um mínimo
de certeza.
Semblante macilento
e retorcido, com as estrelas a vibrar com intensidade pelas terras da abelha,
não com o embalsamador de corvos; nessa travessa foi onde entrei para ver o
jogo de dados na Calçada; uns bons a tentar enganar outros bons.
-- Não, um.
-- Não se
aproximem.
-- Ainda bem.
Cena
32) A olhar para baixo com medo da baleia em forma de vidro.
Um dia atrás foi assim em todo o cativeiro dos pobres
-- A minha Gracitara
agora está mais acordada.
-- Estes dias
quentes permitem o acasalamento por natureza.
-- Francamente.
-- Não estou a
ver como ela me tirará as algemas.
-- Ela não está
na disposição de me libertar.
-- O nome dela o
que quer é desertar para a terra dos nove.
-- Mas eles não
vão.
-- Não vão
porque querem mais dinheiro do que trazem.
-- Não têm
consideração.
-- Ah, se eu
visse.
-- Se eu
soubesse que essa contabilidade tinha Joni.
-- Ainda bem.
-- Estava aí com
as devidas funções à espera.
-- Sim.
-- De conceder
mais esquecimento.
-- Não a todos.
-- Mas a alguns.
-- Não tenho a
carreira.
-- Nem a pretensão
de saber alguma coisa.
-- Só vejo o
corredor.
-- Com os bancos
juntos ao balcão.
-- E umas peruas.
-- Galinhas de
aviário.
-- Nas caixas a berrar.
-- Ca, ca, ra,
ca, ca, ca.
-- E por certo.
-- Não.
-- Este pudim.
-- Não.
-- Este palhaço.
-- Não.
-- Este carrasco.
-- Não.
-- Beco do Carrasco.
-- Não.
-- A forca com
eles debaixo dos olhos.
-- As estrelas a
uma distância inferior.
-- Esse céu não
se vê.
-- É uma mentira
pegada.
-- A lua também não
foi.
-- E o sol.
-- A cadeia de montanhas.
-- Até agora não
há propósitos encantados por esse lindo dia.
-- Este programa.
-- Eu disse,
-- Não estás a
ver?
-- Levas um
cachação que te deixo à banda.
-- É só dizeres.
-- Estou pronto
para te dar.
-- E se eu te
der.
-- Não.
-- É aquele o
fulano?
-- Aquele, atrás
da taça de veneno.
-- Eu próprio
dou-o à borla para se matarem.
-- Não.
-- Ainda assim
mais salutar do que lhes dar um apartamento.
-- As mais altas
individualidades.
-- O Joni disse,
-- Estão lá fora
uns senhores que querem falar consigo.
-- E eu,
-- Tá bem, - podem
entrar.
E fiquei com o guarda-chuva
aberto, em caso de aflição, estavam a perceber o que eu queria dizer.
-- Tenho toda a autoridade.
-- Não é bem
assim.
-- Desces a Rua
da Rosa.
-- Já lá estás
entregue a uma serena compaixão.
-- Por isso não
corta o pão.
-- Não dá esmola.
-- Não dá filhoses.
-- Não dá bodo
de leite.
-- Mas aqui é
diferente de comprar e de vender.
Uma décima de
segundo mais tarde desce pela Rua Alexandre Herculano, e deixa o espírito percorrer
os espaços; e o espírito volta e não está bem-disposto, a olhar para baixo, com
medo da baleia em forma de vidro.
-- É um peixe do
mais saudável com batatas quentes.
-- Já constou
que se vão deixar da caça nestes mares.
-- Mas na Biju a
baleia está a um canto desfeita pelos amores.
Um dia atrás foi
assim, só em todo o cativeiro dos pobres, desbaratou-se o espírito; não na onda
dos milhões emprestados com dinheiro barato, a juros inferiores aos dos modos dos
outros intestinos, com desgarrados esforços perdulários; arrasados todos com as
novidades em cima da mesa, o canto da casa numa conta de guerra; entre um e
outro não se vê mais nada, em conjugação.
-- Não atrás da
mira.
-- E eu espero
por informações
-- Com o garfo numa
mão e a colher na outra.
-- E os cotovelos
na mesa.
-- E o queixo
apoiado nas mãos alvas.
-- Galinhas ali.
-- Aqui mesmo
para a panela.
-- É o caminho
destas malucas desmioladas.
-- Comendo miolo
de pão com estrumeira a saber melhor.
-- Entretanto estou
mais vazio a perceber.
-- Mas eu não.
-- Olha, se
percebes, fica contigo.
-- Estás a
mostrar a tua sapiência.
-- Mas não
precisas chatear-te.
-- Mas eu não
tenho nada para te dizer.
-- Por isso
chateio-te em linha com os últimos acontecimentos.
-- Chateio-te
que tu bem sabes.
E lá vem outro a
meter a pata na conversa.
-- Posso? -- Disse
ele.
-- Claro.
-- Olha -- diz
ele.
-- Eu,
-- Se o tipo
deixava de aturar calaceiros.
-- Nunca fez
nada na vida.
-- Deixava de
aturar calaceiros.
-- Era isso que
fazia.
-- E não estava
com meias medidas.
-- Olha, então
vai-te foder.
-- (E desse modo
foram).
-- (Deixaram).
-- (Acabaram as conversas).
-- Não tinha
dito para onde ia.
-- Eu não vou para
lado nenhum.
-- Achas que
isto vai ficar pior?
-- Eles querem-se
matar.
-- Não, eles já
se estão matando.
-- Porra, somos
civilizados.
-- A civilização
é uma merda.
-- E é uma merda
tudo o mais.
-- Estás ao meu
lado.
-- Digo,
-- Sim, estou ao
teu lado.
-- Não percebo
nada.
-- Pois então bai-bai.
-- (Não estava a
perceber).
-- E também eu
não estava,
-- Os cosméticos
da dona Gracitara estavam.
-- Não se colhiam.
-- As
prioridades estavam e cheiravam a esturro.
-- Estornicavam
na panela de aço.
-- Ao fim diz-me,
-- Não sei os
teus propósitos.
-- Não olho.
-- É porque tens
o pescoço torcido.
-- Não é não.
-- É porque o
teu pai é um asno.
-- E eu olhei,
-- Mas não
precisas de insultar as pessoas.
-- É por causa
da mudança do governo,-- disse.
-- Ah bem, assim
compreendo.
-- A guerra na
linha da água,
O poder do Joni
era para se ver, ao cabo de baixo da terra com as empatias verdadeiras, uma
verdadeira lição diplomática, não fosse a companhia a gritar, ainda para os
lados da Calçada.
-- (És tu).
-- (És tu).
-- E tudo
estaria bem.
O som tinha de
ser, e os demais comensais estavam agora mais alegres, porque tinham visto que
o tempo ia ter fogo posto nos seres e no gado, a não ser que pernoitassem na
casa do casebre; naquele preciso momento, todos se deram conta de que estavam
com alguma queimadura, ligeira embora; como seria de esperar e perceber, esta
fase da chama que ateia o fogo, ou que dele deriva ou sai; e saque; é desse
modo o fogo gritado e usado na corrente sanguínea, que deve ser misturado e guardado
para os tempos necessários; brigam eles, o fogo com as palavras; e no andar da
minha senhora Rapoula os cavalos e os cavaleiros entram nas cavalariças e de lá
não saem, a não ser que vejas bem lá dentro os ovos, as galinhas e as torneiras
de oiro para os cobóis; não se ensina, podes ter a certeza que te vai buscar mais
cedo ou mais tarde; os barcos patrulhas da marinha trazem-te pelos colarinhos;
nem uma palavra sequer, e assim foi o comando geral, que por via do casal
conseguiu pôr mão no parto de negas, negas tu e nego eu, estava na minha vilegiatura,
com os jornais e o gado larvar, quando me disseram da nega uma dúzia de vezes.
-- Vejam só como
eles navegam.
-- E ainda te
ris meu filho e meio.
-- E meia de
leite e de mel.
-- Mesmo na
terra desenfreada.
-- Os pares de
dança já não estão.
-- Os sujeitos
esmifrados.
-- Contemplados
com as propinas para o ano.
-- O dobro.
-- A dor.
-- Estas
desgraças prevaleçam sobre outras mas não dá para espremer.
-- Era o tanas.
continua...
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