texto nº 7
dos efeitos das marés nos cabelos das árvores
Cena
33) Do quarto virado para o corredor fechado com a luz nos
dentes para a praça Zuleica. Eu percebi porque o vento se amainava e as horas
também chegavam ao fim
-- Vai-te mas é
lixar.
-- Com quantas
palavras disser.
-- O ar que respiro
miúdo.
-- Na frente da
garagem onde as portas são pequenas por natureza.
-- Não há
árvores.
-- Só depois dos
pratos bem colocados é que se espera um pouco mais.
-- Só um
instante.
-- O povoado a
ver-se daqui distante.
-- A freguesia aninhada
na costa.
-- A lombada da
ilha a dormir eterna de longe.
-- A calmaria à
espreita.
-- Para te
pregar o calote.
-- A seguir aos
pratos o pão às fatias pequenas.
-- Os pacotinhos
de manteiga.
-- As azeitonas.
-- O pratinho.
-- O pacotinho
da pasta de atum.
-- O pacotinho
do queijo fundido.
-- E um jarro de
água.
-- Depois tenho
que ler o jornal.
-- Estou-me
arrasando todo duma ponta à outra.
-- Não
-- Por uma
espreitadela mais audaz.
-- Não tem de
ser assim.
-- A toalha de
papel tem de ser.
-- Os outros
pratos são retirados.
-- Depois começa
a dança da prosa.
-- Os cornos das
vacas na beira do pinhal.
-- És tu com o
fito na casa.
-- É claro que
não sou eu.
-- Estás na
beira da cena
-- O pinhal é
mais além.
-- Ah, sim.
-- O pinhal do
bairro.
-- A virar para
a terra.
-- Não há terra
nenhuma aí.
-- Há um jardim
mais acima.
-- Com umas
árvores tropicais.
-- Lá fora há
pedra de calçada.
-- Há uns pátios.
-- Umas escadas
de madeira.
-- Que te levam
ao andar onde estás mais o galego.
-- É verdade, já
me esquecia disso.
-- E do catarrão
todos os dias de manhã numa corrida contra a soneira.
-- A ver se
chega às pedras próximas.
-- Eu sei que
sempre assim foi.
-- Assim será mais
dia, menos dia.
-- Breve
história corrida distintamente.
-- Não sabes
como pode ser.
-- Não é por aí.
-- Essas casas viradas
para a Calçada são do padroeiro São Vicente de Fora.
-- Sabem todos
como deixar o rastro.
-- Não sei.
-- Só me vejo
neste Centro de Dia.
-- Com os pés
pelados à espera.
-- Para me
deitar.
-- Eu deixei de
ver bem.
-- Distingo por
lembranças de cheiros.
-- E sonhos.
-- E sons.
-- As palavras não
me interessam muito.
-- Dá para a
frente da Calçada.
-- Esta sala
nestes pequenos minutos está pelada de demónios.
-- Não estás a
ver como é.
-- Ora essa.
-- Com os demais
não se brinca.
Ainda na
carreira especial, já todos os cercos têm de ser contados, a uma hora
conveniente; e é preciso entender as características de cada um, à espera de
ver a luz do dia.
-- Não será o
primeiro a pedir outra vez.
-- Não uma luz
do sol aberto.
-- Já precisa.
-- Não tanto
como se previa.
-- Mas ao menos
as agulhas.
-- Picadas na
carne fresca.
-- Nas virilhas.
-- Nas unhas
sujas dos milhares que me azucrinam
os ouvidos.
Não tanto pelas
paredes das ruas, por onde ando às vezes, a gingar, com os olhos postos no chão,
como um cão a cheirar os palmos dados no nariz, na frente; mas a pedra que de
repente; e o sangue também na hora certa.
-- Todos a um
tempo.
-- Ou a dois.
-- Não mais do
que isso.
-- Nave da cruz.
-- Espera a
pronta invernia.
E a mente perde
a razão, mas é agora, a um segundo, na frente da casa do quarto, virado para o
corredor fechado, com a luz nos dentes.
-- Ainda os
vendes.
-- Não.
-- Olha, vai-te
embora.
-- Pois.
-- Mas eu
digo-te.
-- Eu vou chegar
lá acima.
-- Vender o meu
dinheiro a bom retorno.
-- Dos mais
abrangentes.
-- Com isso tudo
virá do cimo da terra.
-- Com os
benefícios maiores.
Já pode uma
palavra virar o mundo com um espelho contra o sol reflexo no mar, nas próximas
palavras dadas a todos da varanda, com o meu papel de guardanapo a um dedo de
distância.
-- Somente agora
se percebe esta sala de igreja.
-- Nessa
primeira abordagem é uma vulgar sala.
-- Só a seguir
eu percebo que é uma sala de igreja.
-- De jantar não
é bem.
-- Mas comer dá
para celebrar.
-- Comer é o
mais sagrado dos rituais, digo-te com as minhas palavras.
-- Eu estou à
espera de meus pais.
-- E de meus irmãos.
-- Para virem
comer comigo.
-- Vou
oferecer-lhes hoje o jantar.
-- Eu estou à
espera.
-- Espero que
esteja à espera.
-- Não pode ser
um programa.
-- Mas era o que
gostaria de ser.
Que viessem ter
comigo, todos, e em vez destes comensais, iguais de rostos e interesses, talvez
deixar cruzar os braços; e estes aqui de fatos azuis e compostos.
-- Mas não num
dia.
-- Mas através
dos dias avarentos.
-- Esses que se
fecham.
-- Sem contarem
com as palavras dos milhares da Calçada encarreirados para o Poço.
-- Uma coisa que
tem de se resolver com eficiência.
-- Como é?
-- Eu digo,
-- Telefona.
Ao meu lado ele
telefona.
-- Sim.
-- Devemos ter
uma política para os desprotegidos.
-- (Depois o que
é que ele diz mais)? -- Eu pergunto.
Mas ao meu lado
cala-se numa escuridão.
-- Estava a ver
que não dizias nada.
-- Não posso.
-- A política de
contenção aguarda os desprotegidos.
-- Não é por
essa forma.
-- É por cima
dos cadáveres.
-- Ora essa.
-- Isso é tratado
para impressionar.
-- Não é.
-- Como podes
comer se não tens comida?
-- É só morrer.
É tudo a ir para
o mar, do cimo da terra, onde as pernas partidas e os esqueletos das moscas
foram aqueles que agora vejo na minha frente - os esqueletos.
Mas eu digo à Gracitara,
que me estava a espiar,
-- (Não pode ser).
-- (tens de me
tirar essa merda da frente).
-- Senão o quê? –
Pergunta-me ela.
-- Ah, sim.
-- Eu ando nas
ruas.
-- Ainda hoje
saí de casa para a rua.
-- Não vi a
guerra.
De repente
aparece um turbilhão na rua, e eu vejo-me no meio da multidão.
-- (Para onde
vão)? -- Pergunto.
E um tipo, que
leva um pau e traz uma máscara de gás no rosto, aponta para a frente; e vejo a Calçada,
e arrepio-me.
-- Agora, como é?
-- Como não é?
-- Mas eu não
podia voltar atrás.
-- Estava
embrulhado na guerra.
-- Sou levado em
frente.
-- Para trás
nada
-- Em frente
tudo.
-- Com o raiar
da manhã nada.
-- Mas à tarde sim.
-- Tudo com os
bons conselhos.
-- Nada
-- A gritar a
palavra em frente.
-- Mas o que é
demais é demais.
Fiquei mesmo na
praça, com a ideia de ir para a Calçada, descer, se não encontrássemos pela
frente o papa-aranhas, essa cara de cu, o mais possível.
Disse-me o que
levava a máscara de gás,
-- (Agora
ficamos aqui).
Eu percebi,
porque o vento se amainava, e as horas também chegavam ao fim; e foi por essa
altura, e nesse dia, que tivemos que enfrentar alguma resistência; mas tudo era
negociado, não estava em causa as migalhas.
-- Apenas eles estavam
ali.
-- Aquela gente
ficou ali acampada.
-- Eu fui-me assim
mais engajado.
-- Podia ser na
gasolina.
-- Num fogo da
trampa.
-- Cortina de
gás contra o homem da máscara de gás.
-- Contra os
armados de cacetes na guerra intrusa.
-- Ora eu.
-- Ora tu.
Mais distante
não havia.
Do mais que se
pretendia.
Ao menos que
nada via.
-- Era por isso
e não por nada.
-- Era e não era.
-- Ora.
-- Foram
instantes de branca.
-- Não.
-- Eu fiquei.
-- Eu voltei.
-- Eu estou aqui.
Mas os milhares ficaram lá fora, e agora a Gracitara
tem de me dar solução ao castigo a entregar na direcção do forno eléctrico; os
cozinheiros podem ser muito compenetrados ou deixarem para trás os ingredientes
importantes, porque sem eles não se pode permitir a arte da cozinha e a
perfeita harmonia de paladares; o que eu, quanto ao costume, não se me reduz
muito a esta memória, a não ser por uma milimétrica aparência; e como disse,
era aqui que gostava de ter a minha família, a correr na sala, e na máxima
liberdade de quem tem apenas o futuro na sua frente, sem mais cálculos de
voltar atrás, porque o que tem está na frente; e é isso que tem quando tem toda
a família junta.
-- Eu imaginava
isso.
-- E voltar
atrás também.
-- Mas nem a Gracitara
nem o Joni me deixavam.
-- Eram uns aselhas
e uns maus da fita que me entornavam a caldeira.
-- Se quisessem
teriam a resposta certa no momento exacto.
-- Sim.
E os primeiros
dias em que a coisa se estava dando foram na principal página, saída em todo o
mundo, porque era a solução ideal para os milhares
à porta.
-- À espera.
-- Como tal
aconteceu não se sabe.
-- É daqueles
mistérios equivalentes.
-- Se um vai a
nascer o outro dobra metade.
-- É este o mistério
maior.
-- Pois os milhares já que estavam mais calmos não
se iam agora deitar ao Poço dos Mortos.
-- Era o que
ouvia dizer.
A Gracitara não
tinha nada a ver com o assunto, andava entre as mesas com o seu chicote, mas
quanto aos milhares nada dizia.
É como eu digo,
-- (volto à
realidade da minha mesa).
-- (E do meu
prato).
-- (E desfaço-me
todo em conferências sonâmbulas).
-- (A um e a
outro seguem-se silêncios e barulhos da cozinha).
-- Não dá.
-- O último
campo apanhado é este.
-- Com as ceifas
da pedra a descer e a subir a Bica.
-- E a praça da Biju
todos os três dias.
-- Uma travessa.
-- Várias ruas e
travessas vão lá dar.
-- No princípio.
-- E no fim.
-- E sempre.
-- Nunca quis
nem quero saber da Bica.
-- Porque tenho
a ideia disto ser passageiro.
-- Um dia volto
para o meu lar antigo a correr.
-- Estas praças
são o coração dos apanhados na rede.
-- Paralelamente
não se digam novidades.
-- Nem se
imponham justiças.
-- Maiores do que
estas.
-- Estou a ver os
destinos que irão dar a este prémio.
-- Esta caixa de
bombons e de bolos da Biju no balcão de vidro.
-- Os bolos iluminados
cheios de açúcar.
-- (já os como),
-- penso eu com gulodice.
-- O mais tardar
todos têm de cumprimentar-me.
-- O menos é que
sim.
-- Está essa
roda do tempo em cima de mim.
-- És um merdas.
-- Não ponhas
essa palavra na boca tão patética.
-- Bem.
-- Sim.
Era por essa
altura que as palavras eram acrescentadas, e os palavrões saíam fora da gíria,
e todos esperavam correr para o fundo do prédio, donde nascia água; mas não
podiam, por via duma parede de vidro, que era igual à água.
-- Já nos safaram
os membros da escola.
-- Sim.
-- Da Rua da Rosa
para cima até ao Príncipe Real.
-- A dúvida
nunca se pôs.
-- Porque era
uma fogueira de ideias.
-- A pularem dum
lado para o outro sem uma orientação.
-- Loucas.
-- Para se
despistarem na horizontal.
-- Toda a flor
do monte estava nas pedras.
-- Não daí.
-- Não daí.
-- Há que levar
às arcadas da câmara.
-- Esta não tem
arcadas.
-- Depois escadas
a levar para lá um berço de ouro.
-- Com as
preciosidades todas.
-- Galanteios à
moda antiga.
-- E colocados
nas redes os tubos de ensaio.
-- E os produtos
geradores de boas contabilidades.
-- As minhas.
-- Que são as
que estudo para perceber do meu ofício.
-- Desde quando
tens esse ofício?
-- Não estás a
descobrir coisa nova.
-- És tudo igual
ao antigo.
-- Mas o presente
não é igual.
-- É a mesma
coisa.
-- Alguém tem de
entender.
-- E se não
entender tem de pedir.
-- Virado para o
terreno mais a jusante.
-- Aí pode ser
que nos entendamos.
-- Ainda as
dúvidas são muitas.
-- Com a
colaboração do texto.
-- Não muito a
quente.
-- Está a linha
de comboio aberta.
-- Pronta para
receber a linha de conduta.
-- O conduto com
queijo.
-- Pão de molho.
-- Olho de bife
de maracujá.
-- Com cólera
brava.
-- Um dos sete
instrumentos.
-- Quatro reis
de terra.
-- E quatro
enxadas de cascalho.
-- A descer a
avenida aberta para a fama.
-- A bela instruía
os prazeres naqueles olhares funestos.
-- A descer com
a máxima elegância.
-- Todos vão
para aí.
-- No mínimo eu
digo que não pode ser nada disso.
-- Trânsito
livre.
-- Em certas
horas destruo tudo à minha volta.
-- Fico sentado
na praça com os milhares.
Em vez de fugir
deles, estou com eles, presentes, sem usar qualquer linguagem, sem qualquer
acção, apenas nós e eles, abertos e de peito feito.
-- Mas sem balas.
-- Apenas nada.
-- Ninguém sabia.
-- Eu perguntei
a várias pessoas.
-- Mas ninguém
sabia de nada.
-- Estavam todos
admirados do pouco que faziam deles àquela hora propícia.
-- Estavam na
praça.
-- Comiam.
-- Sentavam-se
para ler.
-- Ouviam música.
-- Montavam
tendas.
-- Dormiam.
A Praça Zuleica,
ao cabo de cima do Adamastor, estava cheia; e foi aí que percebi que a voz
estava a doer e as coisas não eram as coisas, viravam o bico ao prego, e era
preciso um certo tempo para prevenir os
milhares, pois, estranhamente, esses tinham deixado de se lançar no Poço
dos Mortos; mas também não sei como foi, se houve ou não alguma ocultação de sedimentos
pré combinada; não sabemos, eu não sei, falo na primeira pessoa; e se os ossos
dos esqueletos do Poço dos Mortos pudessem ser de lá tirados nós nunca
saberíamos.
-- É na esquina
que o trânsito tem mais movimento às duas da tarde.
-- Nesse
primeiro muro com esquina continental está a próxima paragem não na praça.
-- Posso entrar
na Biju para tomar um café.
-- Estou farto
da praça é verdade.
-- Mais vale
tarde do que nunca.
-- Aqui na sala
é que se está mais ou menos.
Cena
34) Aí estão brevemente todos com o coração aos pulos diante
de mim e a luz que não é não
-- Esse mais ou
menos tem pontos de contacto.
-- Nós sabemos.
-- As minhas
almas gémeas sabem disso nesta mesma sala onde os ânimos são pacíficos.
-- As intentonas
são redondas e giram cada dia o menos possível.
-- Ainda que
estes dois e esses três ao mesmo tempo que se reciclam reclamem na praça
Zuleica.
-- Fonte de
todos os transtornos.
-- Ainda que se
pense que seja por um tempo inteiro.
-- Eu só digo
que não pode ser assim.
-- Todos gostam
de se precaver.
-- Até neste
esquelético lugar ainda eu se pudesse agravar esta escada.
-- Esta pichagem
nas paredes a horas nocturnas.
-- Num dia
chuvoso de manhã.
-- A missão das pichagens
das contas armadas.
-- E depois
dormir.
Todos os dois
contra as paredes esborratadas de pinturas, com os nomes dos assassinos escarrapachados
às escondidas dos medos da noite; e não são os mesmos dois que se retornam para
o quarto, com o Galego numa serenata às cordas da roupa e às pastilhas de
travões.
-- Não há uma
razão para isso.
-- A não ser mil
defeitos todos agora mais seguros.
-- Assim temos
na manga o truque e as medidas.
-- Na próxima
estás a pedir caramelo em vez de correr a dois.
-- Podes pedir
ou tudo vai à água.
-- Com os cotovelos
no corredor dos sono-uva.
-- A um tempo
não na sala.
-- Mas o
exército espera entrar nas cenas.
-- Com os
cassetetes na sala umbilical transformada em praça.
-- Não podes
transformar.
-- Não posso é se
for por um preço maior.
-- Tinha de
pedir que me arrasassem as paredes.
Um dia as bombas,
em vez de paredes bombas, e por isso era que eu agarrava o fio da bomba, outra
vez inteira nos corações das pedras.
-- Poderia ser a
praça maior para todos.
-- Mas a dormir
também.
-- Onde
chegarias tu com estes sonhos todos?
-- Era difícil.
-- Com os pés em
ferida estarias sempre em baixo de forma.
-- Não vês?
-- Estás a
perceber?
-- Não estou vendo.
-- Claro que não.
-- É sempre tu
que me perguntas.
-- Pois não faz
mal.
-- Quando é que
te vais embora?
-- Não vou.
-- Para onde é
que eu iria?
-- Não sei.
-- E isso
importa?
-- Claro que importa.
-- Ficar aqui é
melhor.
-- Eu como e durmo.
-- Não vou de
qualquer maneira.
-- Vai-te lixar.
-- Vou-me embora.
-- Eu fico aqui.
-- Todos os dias
bebo e fico todos os segundos atrás a ver se a minha comida está no sítio.
-- A minha roupa.
-- A minha cama
é sagrada.
-- Não me deixo embrutecer.
-- Que todos
sejam caridosos.
-- Se fosse não
o outro que dá a esmola.
-- A esmola
grande não vem de cima.
-- Não.
-- E depois não
chego à porta.
-- Vou aos
tropeções.
-- Os meus pés
sangram.
-- De repente
caio no chão ainda que em silêncio.
-- Na bomba de
gasolina estou de cara no chão.
-- O calor
escalda.
-- As minhas
roupas do deserto estão muito mal.
-- Será que me
vão levar para fora daqui?
-- Eu que não acreditava
não acreditei mesmo.
-- Deixaram-me
ali até que um cão me lambeu a testa.
-- Ah, bem.
-- Assim está melhor.
-- Tenho de
acordar e apitar.
-- Este ensaio é
verdadeiro na terra atirada de fora.
-- A terra
ressequida é verdadeira.
-- A da praça das
mães.
-- Dos rebentos.
-- Dos corpos.
-- Mas no
silêncio desta praça há-de principiar o torneio de ver quem ganha a guerra.
-- Esse foi.
-- (Eu vi), -- diz-me
o Joni.
Assim dormes na
cadeira e o brado não tem o direito.
-- E eu vejo e
digo,
-- Assim a minha
nada.
-- Não pode.
-- Tenho a minha
nada.
-- Fica estúpida.
-- Não te trairias.
-- Tenho de falar
com o meu Ora Entorno.
-- Na minha paciente
casa onde os mutadiços entram com as catanas na mão.
-- Eles não vêem.
-- Nada é
impossível.
-- Nós, os
comensais e o Joni, todos estamos com a hora da coisa ficar sem eles que andam
e não dão.
-- Apenas os milhares é que são apanhados.
-- Embora os mutadiços tenham e sejam da mesma casa.
-- E acho que
vive comigo algum mutadiço.
-- No preciso
momento de ver a cena não se vêem.
-- Os mutadiços fazem correcções.
-- São capazes
de cortar um tipo às postas.
-- E depois
violar a mulher desse próprio tipo.
-- Deitada de
costas em cima das próprias postas do tipo atiradas no chão.
-- A fazer de
cama embrulhadas em sangue e merda.
-- Os mutadiços
são os sagrados.
-- Na frente já
vi um.
-- Mas depois
não.
Os comensais adoram
esta pausa, quando entram no tempo diferente dos mutadiços; e então julgam ver
de cima e ficam drogados por uma doce dormência; e aí estão brevemente todos
com o coração aos pulos diante de mim; e a luz que não é não; e os sinos da
igreja, dormentes, estão a tocar a praga pegada nas palavras dos mutadiços.
-- (Já os viste
entrar por aí adentro)? – Perguntou-me.
-- Não vi.
-- Eles entram.
-- A gente não
dá por eles.
-- Quem dá está
ao lado deles numa ravina.
-- Vai abaixo o
olho do insular.
-- A última vez
foi no quartel deles lá para o dezoito.
-- Estavam bem
na praça central.
-- Nas tendas.
A vaguear e a
ver, nos passeios à volta, o tempo longamente desesperado; em ordem secreta na
sala, uma única vez, em sentido contra os pratos e panelas, os garfos e as
lanças de prata; todos os vestígios na carteira; e as facas afiadas, já na
cadeira, não ainda na praça.
-- O quartel
dezoito e os mutadiços fardados e sem
a origem do dinheiro não me safam.
-- Pela primeira
vez o exército toma posição.
-- É só a ver se
tem balas.
-- Mas tem facas
e pedradas e mais adiante não tem e assim depois não vai e não desce.
-- O exército apenas
é um fantasma e a seguir vêm as armas e não deixam atrás nada de serviço.
-- Já está a
preparar-se para atender o próximo.
-- Vão lá ter
com ele.
-- Estejam à
vontade.
Na câmara escura
os beijos e as faces ocultas na janela, à vista da sentinela, não deram por
nada na sala.
-- É o primeiro
dia e o primeiro segundo feito ao retardador.
-- Salvo seja.
-- Bem-vindos os
primeiros milhares.
-- Eles e as
almas gémeas.
-- As minhas.
-- Em vão de
escada.
-- A subirem para
o paço.
-- Dado
antecipadamente.
-- Eu tenho
comida.
-- Tenho roupa
lavada.
-- Uma cama.
-- Por isso não
vamos sair daqui tão cedo.
-- (És uma
lástima),-- diz-me.
-- Mas não sou.
-- Tenho é medo
de me revelarem o segredo das peças de prata do som da telefonia.
-- Não.
-- Nem do ecrã.
-- Ali a dar o
dito por não dito.
-- Assim hoje alguém
caiu no Poço dos Mortos.
-- Eu vou ver se
é verdade.
Cena
35) Fecho o coração na garganta. Depois da esfera privada
não seguem o sério
-- Esquecer os mutadiços à porta do Poço.
-- Era aí que
deviam deixá-los.
-- Levá-los
todos para a porta pequena.
-- Estava a ver
muito bem onde ia dar a linha que
seguia a bomba.
-- Ainda não há
o verde.
-- Os outros já
estão perto da promessa iniciada.
-- Foi o que disseram
na campanha.
-- Os mutadiços não dizem.
-- Nessa linha que tenho aqui perto há que
prometer ainda mais na campanha.
-- É a mais verdadeira
de todas as peças.
-- Ainda mais na
campanha ao pé da praça.
-- Todos amigos.
-- Mesmo
discretos.
-- Não se
passeiam.
-- Eu não vejo.
-- Não te vejo a
ti.
-- Não vejo
ninguém.
-- Neste preciso
momento que olho para os talheres não estou disposto a ver.
-- Ou é o meu
coração que não anda bem a três dimensões.
-- Hoje eu fecho
a corda.
-- Mais que tudo
fecho o coração na garganta.
-- E abraço.
-- O adiado já
está pronto.
-- Todos estão a
ver menos os meus olhos de mim.
-- Sentado.
-- Não nos pés.
-- Se vejo na
frente da esquina não.
-- Ao demais sim.
-- Tem a
corrente inversa na campanha dos oito e dos dez.
-- Já há um
segredo súbito que não se enerva.
-- Nervos
potentados.
-- Forte e
valente nos números perfeitos considera a voz correcta.
-- O tom preciso
na frente.
-- Não de mais.
-- Não de menos.
-- As
contradições estão a decorrer na sala oval.
-- Muito bem
dito.
-- Não é ao
sábado que se inventa.
-- Depois de
tudo vai lá de vez.
-- Dá a primeira
nota de verdade.
-- Não a tua.
-- De uma vez
foi a seguinte na casa.
-- No quarto do
Galego.
-- A descer a Calçada.
-- Podia essa
ser a última vez.
-- Sentado no
elevado nível.
-- Nada foi dito.
-- Nem depois.
-- Nem agora.
-- Está vincado
o acordo com o meu interdito.
Primeiro tenho
esse percalço para resolver a próxima geografia, que me irmana com os bravos do
pelotão; e esses, feridos de morte, depois na esfera privada, não seguem o
sério, nem se divisam descendentes daqueles que se feriram, para depois acabar.
-- Tenho o dever
de virar-lhe a cara na próxima vez que o vir.
-- E dar o sinal.
-- O mesmo que
quero para mim.
-- O sinal da
ponte que distante inverte a voz dos mutadiços.
-- Eles mesmos
são o claro entendimento.
-- Na outra banda
não está o gigante a cortar.
-- A disparar em
frente desta bomba.
-- A potência
não está escondida.
-- O processo de
confecção é o primeiro deste dia.
-- Não há clamor
na cozinha.
-- Nem os fogões
podem calar a chama clarividente.
-- A um ritmo
mais lento desceu o próprio degrau.
-- Aquele que se
faz acima da média.
Eu digo-te,
-- (Digo a vocês
todos que é secreto o entendimento que tenho da razão).
Se a tal bomba
deixasse o calor perverter o entendimento, assim mais ficava por ver, em todos
os dias, as correntes de gás e as distâncias preferidas, que na cozinha, por
intermináveis corredores, que eu sei, estão todos os dias a ver se deve ou não
se deve derreter.
-- Então é
porque fica.
-- Senão outro
vem substituir a bomba.
-- Depressa
percebe-se melhor o desafio.
-- Estás aí em
cima.
-- Ninguém te
diz uma palavra.
-- Pouco depois
há outra palavra dentro dessa palavra.
-- É a janela
giratória com o valor acrescentado.
-- Mais dinheiro
gastado nas avaliações e no estudo integrado.
-- Esse dinheiro
depois tem o seu caminho assegurado entre as caixas.
-- Os estudos feitos
foram concludentes.
-- A bem dizer está
garantido o financiamento a um dia de se começar a distribuir encargos.
-- Os lugares disponíveis
são a causa do primeiro dia.
-- Quando todos
se cumprimentaram não estavam a ver muito bem estas coisas.
-- Tinham de se inteirar.
-- Não à volta
de casa.
-- Da sala.
Do quarto, onde
os meus olhos descansam da vigilância apertada que faço ao Galego, com uma
câmara aqui e outra ali; e as várias câmaras distribuídas dão-me, depois, a
visibilidade do que queria ser, e não sou.
-- Não ando para
trás.
-- Mas também
não tenho de me ver ao espelho.
-- Porque não
tenho nada do que eu quero.
-- A atracção
pelo melhor que há dentro de ti.
-- Eu não tenho
nada dentro de mim.
-- Os meus
princípios vegetam na intriga.
-- Eu quero
trocar a palavra pelo que está inerte a todo o momento.
-- Não discordo
nem entendo.
-- Pelo que me
recuso a ser mais efectivo do que sou.
-- O medo
apodera-se de mim.
-- Por isso
estou a ir para a frente das marradas dos toiros.
-- Esses são uma
grande irritação que emerge sempre que me quero desviar do essencial.
-- Esse
essencial devia ser eu mesmo.
-- Mas desvio-me
-- Desvio tudo o
que me possa centrar na minha linha da
bomba.
-- Mesmo aqui
estou a um dia da Biju.
-- Cara amiga do
coração.
Ainda assim
estranho-a, com todas as garras que não estão à vista; e rodeio o círculo de
volta dela, para não a conhecer, nem as mesas, nem as tardes infindas e
desventuradas, com o benefício da desventura, ainda e sempre nos rostos dos
velhos e velhas; e a gente, que anda sem saber, ou fora do circuito da
domesticação.
-- Estes da Biju.
-- Elas da vida
airada.
-- As caras esqueléticas.
-- A fome de
vida entre a terra.
-- Não está a Biju
inteira.
-- Na praça
Zuleica é entrar em nada de concreto.
-- Com os tornos
em volta dos dedos quebrados.
-- Rins extraídos.
-- Dos vivos para
os enfermos.
-- Pulmões e
corações dos mortos lancinantes.
-- Corre tudo do
quarto.
-- A forma
primeira.
-- Vai comer.
-- Menino! vem
para a cozinha.
-- Ele vai.
-- Eles vão.
-- Eles.
-- A mesa da
casa imaculada.
-- A família.
-- O café da
manhã ali à volta.
-- O sol a
entrar pela janela.
-- Em dia de
costumada virtude.
-- Vai.
-- Vai.
-- Não há nada a
seguir.
-- Não há morte.
-- Não há nada
para além das portas.
-- Não.
-- Comigo não se
passa nada.
-- Por isso
estou aqui a ver se alguma coisa se vai passar.
-- Em favor do
eu meu.
-- Em volta da
argola do céu.
-- Não estou a
responder por mim.
-- A minha fome está
a um passo de ser saciada.
-- Mas não
encontro os demais.
-- Não estão a
precisar de mim, para nada.
-- A um dia de distância.
-- É nesse
degrau.
-- O tal de que
falei há pouco.
-- Que inicia a
subida.
-- Ou a descida.
-- E se eu
tivesse o meu sangue derramado pelas sete partes do mundo?
-- Os meus primos.
-- As minhas
tias.
-- Os meus avós.
-- Os meus pais.
-- Os meus
irmãos.
-- Mas depois de
tudo isso eu aqui estou só comigo.
-- Com mais
ninguém no mundo.
-- A um apito.
-- A dois apitos.
-- E de um em
dois vai na segunda.
-- E na terça.
continua....
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